Janot: o procurador explicou que, do lado externo, países importantes que não se preocupavam com o combate à corrupção passaram a se importar com o tema (Ueslei Marcelino/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de janeiro de 2017 às 17h01.
Davos - O procurador Geral da República, Rodrigo Janot, embarca para a capital da Suíça (Berna) nesta quinta-feira, 19, e pode voltar ao Brasil com a recuperação de mais recursos ligados às investigações da Lava Jato.
Ele tem uma reunião na sexta-feira, 20, com o procurador geral do país, Michael Lauber, e evitou dar como certa essa atualização de recursos. Desde a última vez que os dois se encontraram, a Suíça comunicou o congelamento de US$ 70 milhões que voltariam para o País.
"Não sei (se haverá dinheiro liberado). Vamos conversar sobre Lava Jato, com certeza absoluta, e vamos ter que fazer uma readequação pelo tamanho (das investigações) agora", disse, após participar de uma reunião fechada organizada pela Partnering Against Corruption Initiative (Paci), um braço dentro do Fórum Econômico Mundial de Davos, que discute a corrupção.
Esta é a primeira vez que um procurador geral da República brasileiro é convidado para participar do encontro anual, que reúne, nos Alpes Suíços, a elite dos pensadores econômicos.
Aos jornalistas, o procurador explicou que entre as curiosidades abordadas dentro do encontro sobre corrupção estavam as dificuldades em desenvolver as investigações, como ameaças e pressões sobre o Poder Judiciário.
"De forma indireta, tem, sim. E porque somos autônomos e independentes, resistimos a isso", admitiu. Questionado sobre a origem dessas pressões, Janot tentou desconversar, mas acabou sinalizando que é do Poder Legislativo, onde deve se concentrar o próximo foco das investigações. "Prefiro não falar de onde veio a pressão indireta... Não é do Poder Executivo, pronto."
Durante o encontro de hoje, que reuniu representantes da Argentina, Peru, Nigéria, África do Sul, Guiné e Equador, o procurador explicou aos interessados sobre como a Lava Jato tem feito investigações compartilhadas, uso de tecnologia, compliance, instrumentos normativos que permitam a investigação. "Eu mostrei como a investigação foi desenhada", resumiu.
Ele informou que muitas empresas que têm interesse no desenrolar das investigações da Lava Jato têm montado equipes de investigação para fazerem apurações internas e enviados as suas conclusões à equipe.
A Petrobras está entre elas. "Os outros países estão vendo a Lava Jato como um modelo que está dando certo. A curiosidade é: o que vocês fizeram que antes não dava certo e agora dá?"
O procurador explicou que, do lado externo, países importantes que não se preocupavam com o combate à corrupção passaram a se importar com o tema.
"Esta foi uma mudança externa enorme e que fez com que houvesse cooperação jurídica internacional", avaliou. Atualmente, 33 países colaboram com as investigações. No campo das mudanças internas, ele citou mudanças na Legislação, tecnologia da informação, método de gestão pública aplicada na investigação e questões de compliance das empresas.
Durante o encontro, o que se viu em comum entre os debatedores como um ponto de partida de casos de corrupção foi o financiamento de campanhas políticas.
"Isso foi dito pela Índia, pela Nigéria, é um ponto em comum", disse o procurador. Janot não quis confirmar informações de que o volume de delatores teria subido de 77 para 120. "Não posso falar sobre isso."