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Incêndios no Pantanal em setembro já são os piores da história

Em evento nesta quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro disse que "o Brasil está de parabéns" por sua política ambiental

Pantanal: em metade do mês, já há mais focos de incêndio do que no recorde para o período (Ibere PERISSE/AFP)
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Carolina Riveira

Publicado em 17 de setembro de 2020 às 13h37.

Última atualização em 17 de setembro de 2020 às 13h56.

O mês de setembro nem acabou, mas já há mais focos de incêndio no Pantanal do que já houve em qualquer período medido nos registros brasileiros.

Segundo os números do Inpe , foram 5.603 registros de focos de incêndio no Pantanal até 16 de setembro, ainda que o período seja só metade do mês. O recorde anterior para o mês de setembro era de 2007, quando, no mês todo, foram registrados 5.498 focos.

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Os focos de queimada neste mês já são mais que o dobro de tudo que foi registrado em setembro de 2019. Não só no ano passado: setembro de 2020 já está em mais de 180% acima da média histórica para este período, o que mostra que as queimadas deste ano estão realmente fora do controle, para além e uma questão de incêndios mais intensos nesta época do ano.

O ano de 2020, mesmo antes de acabar, também já superou em 26% o ano recorde em focos de incêndio, que era de 2005.

 

Na quarta-feira, 16, o presidente Jair Bolsonaro e o vice Hamilton Mourão fizeram manifestações sobre o Pantanal e afirmaram que a situação não é tão séria. Bolsonaro afirmou que as críticas sobre as queimadas são “desproporcionais” e que a Califórnia também "está ardendo em fogo".

Sem apresentar provas ou indícios, Bolsonaro disse a apoiadores que o esperavam na porta do Palácio da Alvorada na noite de quarta-feira que ONGs colocaram “laranjas” na Amazônia para atrapalhar o processo de regularização fundiária iniciado pelo governo.

Hoje, em inauguração na Paraíba, Bolsonaro voltou a defender a política ambiental brasileira. "O Brasil é o país que mais preserva o meio-ambiente e o país que mais sofre ataques vindos de fora no tocante ao seu meio-ambiente", disse no evento. "O Brasil está de parabéns pela maneira como preserva esse seu meio-ambiente."

O vice-presidente Hamilton Mourão, que tem se tornado um dos porta-vozes sobre ações ambientais brasileiras e está à frente do Conselho da Amazônia, disse que as queimadas foram porque os brigadistas tiraram folga durante o feriado de 7 de setembro.

Ao responder sobre a carta que recebeu de oito países europeus ontem pedindo ações brasileiras contra as queimadas e o desmatamento, Mourão se limitou a dizer que esses são "interesses comerciais" dos europeus.

“Isso não são investidores. São países. Vocês têm que entender o seguinte: faz parte da estratégia comercial dos países europeus esta questão da cadeia de suprimentos. Isso é uma barreira”, disse. “Existem barreiras tarifárias e não tarifárias, então, isso daí a gente tem que fazer a negociação não só comercial, mas diplomática, como ambiental também”, disse.

Um grupo com mais de 200 empresas e ONGs, incluindo nomes brasileiros como JBS e Marfrig, também enviou carta ao governo propondo medidas contra a devastação.Uma das preocupações é que as queimadas atrapalhem a reputação de empresas brasileiras no exterior. Nos últimos meses, o vice-presidente se reuniu pelo menos duas vezes com empresários e fundos de investimento para dar explicações sobre as queimadas brasileiras.

As tentativas de apagar o incêndio no Pantanal estão tendo ajuda de voluntários, incluindo empreendedores e trabalhadores que atuam no ecoturismo na região. Mas as perspectivas para controlar o fogo ainda são poucas. O governo anunciou hoje que vai liberar 10 bilhões de reais ao combate de incêndios.

A esperança é que haja chuva em breve, o que poderia ajudar os brigadistas no controle das chamas. A falta de água é um dos problemas que ajudou a espalhar as chamas geradas por ação humana, com o Pantanal sofrendo sua maior seca em décadas.

As queimadas já destruíram 15% do Pantanal, uma área equivalente à cidade de Nova York, e especialistas afirmam que os danos podem ser irreversíveis.

Uma das piores consequências é no Parque Estadual Encontro das Águas, em que 85% do território já foi destruído. O parque é refúgio de onças-pintadas, uma espécie tradicional do Pantanal, e fotos de onças queimadas ou feridas pelo incêndio levaram a protestos e comoção nas redes sociais.

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