Greve dos caminhoneiros ganha adesão de petroleiros e preocupa governo
Com repercussão negativa de aumento do diesel e mais demonstrações de apoio à paralisação, marcada para segunda, dia 1º, acendem luz vermelha no Palácio do Planalto
Carla Aranha
Publicado em 27 de janeiro de 2021 às 18h22.
Última atualização em 28 de janeiro de 2021 às 10h50.
O jogo mudou. Com a insatisfação gerada pelo aumento do diesel, que subiu 4,4% nas refinarias nesta terça e gerou novas adesões à greve dos caminhoneiros , programada para o dia 1º, o governo passou a tratar o movimento como algo mais palpável. Até então, os comentários dos bastidores eram de que associações com pouca representatividade tentavam fazer barulho nas redes sociais para arregimentar apoio à paralisação, sem muito sucesso.
Nesta quarta, o governo mudou de tom. O presidente Jair Bolsonaro fez um apelo para que os caminhoneiros desistam da ideia da greve. Em troca, prometeu fazer o possível para reduzir a cobrança do PIS/Cofins sobre o diesel. “Reconhecemos o valor dos caminhoneiros para a economia, apelamos para eles que não façam greve, que todos nós vamos perder”, pediu.
A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), que representa sete federações e 140 sindicatos de caminhoneiros, revelou surpresa diante do aumento no preço do combustível.
“Aconteceu em um momento inoportuno”, diz Marlon Maues, assessor-executivo da CNTA. A associação, que vem conversando com o governo sobre as principais pautas da categoria, diz não apoiar a greve. “As negociações estão caminhando. Uma paralisação agora só prejudicaria a categoria e travaria o país em meio ao agravamento da pandemia”, avalia Maues.
Entidades um pouco menores, como a Associação Nacional do Transporte Autônomo do Brasil (ANTB), com 40.000 afiliados, avaliam que o movimento vem ganhando repercussão — e por motivos bem concretos. José Roberto Stringasci, presidente da associação, diz que a tabela do frete mínimo, uma das principais demandas da categoria, não é respeitada pelas transportadoras e as negociações com o governo não avançaram.
"As empresas não são obrigadas a cumprir o preço mínimo por que isso até hoje não virou lei", afirma. "Representantes de alguns setores, como o agronegócio, entraram com recurso no Supremo Tribunal Federal e a ação ficou parada".
As demandas dos caminhoneiros passaram a encontrar eco em outros segmentos. A greve agora conta com o apoio da Federação Única dos Petroleiros (FUP), considerada a maior entidade representativa dos petroleiros, com 13 sindicatos afiliados, e Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipreto-RJ), outro peso-pesado do setor.