Governo admite ter de pagar R$ 1 trilhão por processos na Justiça
Dados do Ministério da Economia mostram impacto de R$ 1 trilhão nas contas públicas em razão de futuras derrotas
Estadão Conteúdo
Publicado em 12 de abril de 2022 às 17h13.
As futuras perdas prováveis de causas do governo federal na Justiça alcançaram pela primeira vez a cifra do trilhão. Dados do Ministério da Economia mostram impacto de R$ 1 trilhão nas contas públicas em razão de futuras derrotas.
Os processos são classificados pelo governo em duas categorias: perda provável e possível. Eles envolvem tanto casos com potencial para resultar em pagamentos diretos pela União (precatórios) quanto processos nos quais o governo não pode mais cobrar imposto.
Um processo é classificado como perda provável quando abrange ações nas quais já houve alguma decisão colegiada desfavorável à União no Supremo Tribunal Federal (STF), no Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou no Tribunal Superior do Trabalho (TST).
No ano passado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, classificou o montante como um "meteoro" e alegou existir uma "indústria de precatórios" no País.
Do R$ 1 trilhão que a União prevê perder, mais da metade se refere a julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) estabelecendo que o ICMS não compõe a base de cálculo do PIS e da Cofins. O processo foi classificado como "tese do século" devido ao impacto tanto para o governo, que deixaria de arrecadar cifras bilionárias, quanto para as empresas, que pagariam menos impostos.
O subsecretário de Contabilidade Pública do Tesouro Nacional, Heriberto Henrique Vilela do Nascimento, disse ao Estadão/Broadcast que os números preocupam. "Os riscos fiscais que decisões judiciais podem provocar nas finanças públicas é um assunto extremamente relevante."
A economista Juliana Damasceno, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), afirma que os números são "alarmantes", mas observa que, desta vez, o governo não pode classificá-los como um "meteoro", já que estão cada vez mais explicitados em documentos oficiais. "É preciso visão de longo prazo e uma governança equilibrada, algo que está em falta por aqui."