Fux liga para Bolsonaro após fala do presidente sobre estado de sítio
Fux tomou a iniciativa de consultar Bolsonaro depois de ter sido avisado de rumores sobre uma eventual decretação de estado de sítio em Brasília
Reuters
Publicado em 19 de março de 2021 às 18h36.
Última atualização em 19 de março de 2021 às 18h48.
O presidente do Supremo Tribunal Federal ( STF ), Luiz Fux , em conversa por telefone com o presidente Jair Bolsonaro nesta sexta-feira, questionou se o chefe do Executivo federal iria decretar estado de sítio no país, segundo uma fonte com conhecimento direto do assunto, após Bolsonaro criticar medidas de restrição e mencionar estado de sítio.
Fux tomou a iniciativa de consultar Bolsonaro depois de ter sido avisado de rumores sobre uma eventual decretação de estado de sítio em Brasília, segundo a fonte, que pediu anonimato. Procurado, o Palácio do Planalto não respondeu de imediato a um pedido de comentário sobre o telefonema.
Durante o telefonema, Fux perguntou a Bolsonaro se deveria retornar a Brasília mediante os rumores. O presidente do STF está no Rio de Janeiro. Na conversa, segundo a fonte, o presidente negou ao chefe do Poder Judiciário tal pretensão de decretar um estado de sítio e disse que não estava pensando em fazer nada.
Pela manhã, em conversa com apoiadores, o presidente criticou novamente governadores e prefeitos que adotarem medidas restritivas que, no entender dele, estariam usurpando a Constituição ao "retirar o direito de ir e vir das pessoas", medida que só poderia ser adotada mediante decretação de estado de sítio ou de defesa. Nesses casos, disse Bolsonaro, o Congresso Nacional tinha de ser ouvido.
O presidente disse que o governo federal poderá tomar "medidas duras" se a ação que apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra as políticas de restrição não prosperar.
"Onde é que nós vamos parar? Será que o governo federal vai ter de tomar uma decisão antes que isso aconteça? Será que a população está preparada para uma ação do governo federal dura no tocante a isso? Que é dura? É para dar liberdade para o povo. É para dar o direito do povo trabalhar", disse Bolsonaro, sem esclarecer o que chama de "medida dura" e o que poderia fazer.
Na conversa com Fux, Bolsonaro aproveitou para dizer ao presidente do STF que espera apenas o julgamento da ação movida pelo governo que tenta suspender os efeitos dos decretos da Bahia, do Distrito Federal e do Rio Grande do Sul que estabelecem medidas restritivas no combate à pandemia de covid-19, como o fechamento de atividades não essenciais e o toque de recolher noturno.
Na véspera, Bolsonaro havia comparado as medidas de isolamento adotadas em alguns estados a um estado de sítio. "Isso é estado de defesa, estado de sítio que só uma pessoa pode decretar: eu", disse Bolsonaro na quinta-feira.
O advogado constitucionalista Camilo Onoda Caldas, doutor em direito pela USP, explicou que o estado de sítio é uma medida excepcional, prevista na Constituição, que o presidente pode utilizar para preservação da ordem, da lei e das instituições democráticas.
"O estado de sítio pode ser decretado por comoção grave de repercussão nacional ou quando o Estado de Defesa se mostrou ineficiente, este, por sua vez, pode ser decretado para preservar e restabelecer a ordem pública e a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou caso haja uma calamidade de grandes proporções, como é o caso da pandemia", disse.
Segundo Caldas, durante o estado de sítio existe uma restrição aos direitos individuais, com a possibilidade de o poder público proibir a circulação e reunião de pessoas, deter as pessoas em edifícios não destinados a criminosos comuns, entre outras.
"Acho difícil o presidente se valer deste instrumento, primeiro, porque ele pode sofrer uma derrota política se requerer ao Congresso Nacional e, sobretudo, porque ele se mostra completamente contrário a restringir a circulação e reunião de pessoas, pelo contrário, sempre estimulou este tipo de evento", afirmou o constitucionalista.