Em São Paulo, o jogo do empurra pós-desabamento
ÀS SETE - O edifício que desabou era do governo Federal, mas quem cadastrou as famílias foi a Prefeitura e quem fez a inspeção foram os bombeiros estaduais
Da Redação
Publicado em 2 de maio de 2018 às 06h14.
Última atualização em 2 de maio de 2018 às 11h50.
Os sobreviventes do incêndio seguido do desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, em São Paulo, passaram parte da terça-feira aglomerados em frente à igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paissandu.
Às Sete – um guia rápido para começar seu dia
Leia também estas outras notícias da seçãoÀs Setee comece o dia bem informado:
- Raia Drogasil: um fenômeno de vendas sob contestação
- Temer pressiona base do governo para evitar calote internacional
- Tesla divulga balanço em meio à pressão de investidores sobre lucro
- Zuckerberg em conferência do Facebook: otimismo e nada de desculpas
- Curtas – uma seleção do mais importante no Brasil e no mundo
Tudo o que tinham foi consumido pelas chamas ou está soterrado pelas vigas de concreto dos escombros. Vinte e nove pessoas continuam desaparecidas.
O problema se torna mais grave na medida que continua a existir um jogo de empurra entre as três esferas de governo sobre as responsabilidades do caso.
O edifício era de propriedade do governo Federal, a Prefeitura havia cadastrado as famílias e os bombeiros, estaduais, já tinham condenado o prédio.
O presidente Michel Temer, que foi recebido com protesto em sua visita ao edifício, ontem, afirmou que a União não tinha como pedir a reintegração de posse do imóvel. O prefeito, Bruno Covas, afirmou que só este ano foram feitas seis reuniões com os moradores, e que a Prefeitura fará uma avaliação em 70 imóveis vizinhos.
O governador, Márcio França, afirmou que o desabamento era uma “tragédia anunciada”. O ex-prefeito da cidade, João Doria, afirmou que o prédio era ocupado por uma “facção criminosa”, e depois não explicou a inexplicável declaração fora do tom.
Em um primeiro momento, as famílias que moravam no prédio serão encaminhadas para centros de acolhida da prefeitura. O governo de São Paulo anunciou que irá disponibilizar auxílio moradia para as famílias. O benefício será de 1.200 reais no primeiro mês e de 400 reais a partir do segundo, pago por um período de 12 meses.
No entanto, nenhum plano foi anunciado para resolver a questão da moradias irregulares no centro. Sem isso, há o risco de essas mesmas famílias entrarem em outro prédio condenado do centro da cidade. Os relatos até agora dão conta de que as famílias pagavam entre 150 e 400 reais de aluguel para a organização do movimento Luta por Moradia Digna.
Com déficit habitacional de mais de 369.000 famílias, 150 prédios estão ocupados em São Paulo, 70 em condições precárias, oito deles na região em que ficava o Wilton Paes de Almeida.
É preciso trabalhar agora para que novas tragédias não voltem a acontecer.