Elcio contradiz Butantan e nega paralisação de negociações pela Coronavac
Ex-secretário negou que as falas do presidente Jair Bolsonaro contra a Coronavac, no ano passado, tenham atrasado a compra do imunizante
Alessandra Azevedo
Publicado em 9 de junho de 2021 às 15h07.
Última atualização em 9 de junho de 2021 às 15h55.
As declarações do ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Elcio Franco, na CPI da Covid , nesta quarta-feira, 9, expõem contradições entre as versões de ex-integrantes do governo e do diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, sobre a negociação pela vacina Coronavac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac.
Número dois da pasta durante a gestão Eduardo Pazuello, Elcio negou que as falas do presidente Jair Bolsonaro contra a Coronavac, no ano passado, tenham atrasado a compra do imunizante. Já Covas, também em depoimento à CPI, em 27 de maio, contou que as negociações foram paralisadas depois das declarações.
Bolsonaro afirmou, em 21 de outubro de 2020, que havia mandado cancelar o acordo feito entre o Ministério da Saúde e o Butantan para a aquisição da Coronavac. O então ministro Eduardo Pazuello havia anunciado no dia anterior, a governadores, a intenção de compra de 46 milhões de doses do imunizante.
“Já mandei cancelar. O presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade”, afirmou Bolsonaro. Depois de desautorizado publicamente pelo presidente, Pazuello comentou que “um manda e outro obedece”. Na época, Elcio Elcio reforçou o discurso de que não havia “intenção de compra de vacina chinesa”.
Em depoimento à CPI, Covas contou que as conversas com o governo pararam por mais de dois meses depois da fala de Bolsonaro, e só foram retomadas em janeiro deste ano. Já Pazuello, quando foi ouvido pelo colegiado, garantiu que nunca recebeu ordem do presidente para paralisar as negociações relativas à Coronavac.
Nesta quarta-feira, à CPI, Elcio também negou que Pazuello tenha pedido para que ele cancelasse as conversas com o Butantan. “Não recebi ordem para interromper, e essas tratativas continuaram”, disse o ex-secretário. Segundo ele, Covas poderia ter entrado em contato, se tivesse alguma dificuldade.
“Nós mantivemos as negociações, e não há nenhum documento, que eu tenha conhecimento, porque não foi assinado pelo ministro nem por mim, de intenção de não prosseguir nas negociações. Ou seja, a carta de intenções de 19 de outubro continuou vigente”, sustentou Elcio.
O ex-secretário disse que não perguntou a Pazuello se deveria ou não cumprir o que o presidente disse, por não ter entendido como uma ordem ao ministério. “Que eu me lembre, eu não consultei o ministro sobre esse aspecto e não tornei sem efeito a carta de intenção de aquisição das doses do Butantan”, reforçou.
“Nós continuamos cobrando do Butantan dados técnicos dos estudos clínicos. Inclusive, o Butantan demorava para nos reportar o que a gente estava solicitando”, apontou Elcio. Para ele, o atraso alegado pelo diretor “foi uma questão de percepção do doutor Dimas Covas”, porque “a área técnica estava sempre acompanhando o desenvolvimento da vacina”.