Eduardo Cunha é preso em Brasília
Ex-deputado federal Eduardo Cunha foi preso pela Polícia Federal perto da casa onde morava em Brasília
Bárbara Ferreira Santos
Publicado em 19 de outubro de 2016 às 13h45.
Última atualização em 19 de outubro de 2016 às 19h03.
São Paulo -- O ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB) foi preso em Brasília pela Polícia Federal na tarde desta quarta-feira (19) no âmbito da operação Lava Jato . Segundo a PF, o peemedebista foi detido próximo ao prédio onde mora na capital federal.
O ex-deputado foi preso preventivamente por ordem expedida pelo juiz federal Sergio Moro, que trata do caso do ex-parlamentar na Lava Jato desde que ele foi cassado e perdeu o foro privilegiado. Cunha é réu na operação sob acusação de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
O pedido de prisão foi feito pelo Ministério Público Federal (MPF) à Justiça Federal em Curitiba.Os procuradores sustentam que a "liberdade do ex-parlamentar representava risco à instrução do processo, à ordem pública" e que havia a possibilidade de Cunha fugir do país por possuir "recursos ocultos" no exterior e por ter dupla nacionalidade (ele é italiano e brasileiro).
O ex-deputado federal foi levado para o hangar da PF no Aeroporto de Brasília para embarcar para Curitiba, onde estão sendo conduzidas as investigações. A previsão é de que Cunha chegue por volta das 17h à capital do Paraná.
Procurada por EXAME.com, a assessoria de imprensa de Eduardo Cunha ainda não se pronunciou. O ex-deputado se manifestou em sua página oficial do Facebook nesta quarta-feira e afirmou que a prisão preventiva foi "uma decisão absurda, sem nenhuma motivação e utilizando-se dos argumentos de uma ação cautelar extinta pelo Supremo Tribunal Federal".
Cunha afirmou ainda que seus advogados vão recorrer da decisão.
https://business.facebook.com/DeputadoEduardoCunha/posts/1086263154824153
Motivo da prisão
Em nota, a Polícia Federal afirma que “diversos fatos evidenciaram a disposição de Eduardo Cunha de atrapalhar as investigações”. São citadas dez ocasiões com diferentes atitudes do ex-parlamentar com o objetivo de tumultuar as investigações.
Ainda de acordo com a nota da PF, o pedido de prisão emitido por Moro salienta que os crimes têm um “caráter serial” e afirma que isso caracteriza “risco à ordem pública”. “O ex-parlamentar federal figura em diversas outras
investigações relacionadas a crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, o que indica que a sua liberdade constitui risco à ordem pública”, escreve a PF.
A Polícia Federal informa também que a 6ª Vara Federal de Curitiba decidiu bloquear bens de Eduardo Cunha no valor de 220 milhões de reais.
A prisão de Cunha foi decretada na ação que investiga “corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas em fatos relacionados à aquisição de um campo exploratório de petróleo em Benin, na África”.
Medo de delação
A reportagem de Exame.com apurou que a preocupação entre os aliado
s mais próximos de Cunha é de uma eventual delação premiada. Há ainda rumores de que possa haver uma prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também na Lava Jato.
Os aliados de Cunha evitaram falar com jornalistas após a prisão do ex-parlamentar. O presidente do Senado, Renan Calheiros, que é do mesmo partido do ex-deputado, o PMDB, afirmou a Exame.com que "não estava sabendo de nada". Na sequência, disse que não faria comentários sobre o assunto.
Um dos poucos deputados próximos de Cunha a falar foi Paulinho da Fo
rça, do solidariedade. Ele afirmou que o ex-deputado já esperava a prisão e que ação da PF não o pegou de surpresa. "Tenho certeza que Cunha não faria delação premiada enquanto solto. Agora, preso, que é uma nova condição, não posso garantir que ele não faça", afirmou.
Para os deputados da oposição, uma eventual delação do ex-deputado pode atingir o governo. "Todos que deram proteção a ele e o mantiveram no comando da Casa devem estar preocupados. Muitos
parlamentares devem estar tremendo", afirmou o deputado federal Ivan Valente (PSOL).
Vale lembrar que o ex-presidente da Câmara chegou a indicar membros do alto escalão do governo Michel Temer, que é do mesmo partido de Cunha, o PMDB. Na terça-feira (18), Temer decidiu adiantar a volta ao Brasil. Ele estava em uma viagem diplomática ao Japão.
Interlocutores do presidente disseram que a mudança seria para "economizar com hotel". Assessores do presidente afirmaram que Temer está dormindo e que ainda não foi informado sobre a prisão do deputado cassado Eduardo Cunha.
Veja a íntegra da decisão de Moro:
Despacho prisão preventiva de Eduardo Cunha em 19/10/2016