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Dilma tem pior resultado petista no 1º turno desde 1998

A imagem de gestora competente mostrada na campanha de quatro anos atrás ficou bastante desgastada no decorrer do mandato

Dilma: pesou o fraco desempenho econômico (REUTERS/Ueslei Marcelino)
DR

Da Redação

Publicado em 5 de outubro de 2014 às 20h40.

Brasília - Depois de ser eleita em 2010 sob a marca de gestora competente, a presidente Dilma Rousseff passa para o segundo turno deste ano com o pior desempenho de um candidato do PT desde 1998, quando Luiz Inácio Lula da Silva perdeu a eleição para Fernando Henrique Cardoso (PSDB) já no primeiro turno.

A imagem mostrada na campanha de quatro anos atrás ficou bastante desgastada no decorrer do mandato, principalmente pelo fraco desempenho econômico.

À época, a fama de gestora e técnica eficiente, construída ao longo dos anos no ministério de Luiz Inácio Lula da Silva, primeiro como titular da pasta de Minas e Energia e depois como ministra-chefe da Casa Civil, serviu para catapultá-la à Presidência, sem nunca antes ter disputado uma eleição.

Hoje, a presidente é retratada, até por aliados, como uma gestora muito apegada a detalhes, que dialoga pouco, que intervém exageradamente na economia e que agiu de forma inábil politicamente para fazer sua enorme base aliada aprovar as reformas necessárias ao país.

Na disputa atual, a candidata tenta se apresentar como a presidente que merece mais quatro anos para manter e aprofundar o modelo petista, deixando um pouco de lado a faceta de gestora que lhe garantiu a vitória em 2010 e tentando provar que aquele perfil de durona e intransigente ficou mais suave desde 2010. Um dos estrategistas da campanha atual acredita que Dilma aprendeu alguma lições nesses quase quatro anos na Presidência. "No fundo, ela está mais madura", disse à Reuters sob condição de anonimato.

Um ministro do governo avalia que Dilma, de 66 anos, já mudou e isso ocorreu depois das manifestações de junho de 2103, quando milhares de pessoas foram às ruas para protestar principalmente contra a qualidade dos serviços públicos.

À época, Dilma perdeu parte da força quando sua popularidade despencou de um pico de 65 por cento de avaliação de ótimo e bom do governo --registrado pelo Datafolha em março de 2013-- para 30 por cento após as manifestações. O alto índice de aprovação havia dado força política a Dilma, mas também a tinha isolado das críticas e conselhos.

"Ali a presidente entendeu que precisava se abrir, dialogar mais com os políticos, com os movimentos sociais", disse o ministro, sob a condição de anonimato.

No seu entorno, porém, nem todos acreditam que o mandato serviu de experiência para Dilma a ponto de transformá-la numa presidente menos obcecada por detalhes e intransigente politicamente.

"O que existe na verdade é uma torcida para que ela tenha aprendido com os erros. A campanha eleitoral está sendo uma grande lição para ela, para o governo e para o PT", disse à Reuters uma pessoa que esteve perto de Dilma na campanha de 2010.

Um exemplo recente mostra a resistência da presidente para fazer correções de rota. Dilma já vinha sendo aconselhada por aliados há meses a sinalizar que num novo mandato faria mudanças, reconhecendo que o governo não acertou em tudo, e que indicasse que trocaria a equipe econômica, cuja credibilidade junto ao mercado havia sido abalada. Mesmo diante desses apelos, Dilma resistia a qualquer inflexão.

Somente depois de uma conversa franca com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu tutor político, ela passou a dizer que faria mudanças na economia se reeleita.

"Foi preciso dizer a ela que teria que escolher entre o ministro da Fazenda (Guido Mantega) e a reeleição", contou à Reuters um aliado, referindo-se à conversa com Lula.

Mesmo que tenha suavizado sua postura nos últimos meses, Dilma criou entre aliados e mesmo entre petistas e escalões inferiores do governo um clima inóspito. Esse aliado que contou sobre a conversa com Lula faz um diagnóstico crítico do resultado de tanta intransigência da presidente.

"Ao longo dos anos ela dinamitou pontes com setores econômicos, partidos aliados e inclusive com o PT. Se for reeleita terá que reconstruir essas pontes e num ambiente político mais hostil, com desconfiança", disse.

Mas para ser reeleita, ela terá que derrotar antes o candidato do PSDB, Aécio Neves, num segundo turno que promete ser muito disputado e bastante difícil.

CONTROLADORA Parte do fracasso da Dilma gestora está diretamente relacionado à postura controladora que sempre teve à frente do Ministério de Minas e Energia e da Casa Civil, cargos cujo perfil era mais gerencial e não de liderança.

Ela gosta de estar de olho em tudo, mesmo em questões banais como a escolha dos painéis publicitários de programas de governo que vai lançar. Nada pode ser impresso, segundo relato de um auxiliar do Palácio do Planalto, sem que Dilma veja ao menos três versões do painel, com slogan e propaganda do programa ou projeto que será lançando.

Dilma também costuma discutir projetos dividindo o governo em áreas estanques, que não dialogam entre si e recebem recomendações diferentes, sem saber qual a posição exata da presidente sobre o tema em discussão. A presidente adota essa estratégia, em parte, porque é avessa a vazamentos para a mídia.

Isso também pode estar relacionado ao passado de Dilma na luta contra a ditadura, quando as organizações clandestinas atuavam por células, com segredos bem guardado até dos amigos.

Dilma participou da luta armada contra a ditadura que governou o país por 21 anos. Ela começou sua atuação na resistência ao regime militar em Belo Horizonte, onde era uma jovem de classe média. Mas o segundo ex-marido, Carlos Araújo, disse que Dilma "nunca pegou numa arma e nunca deu um tiro".

Presa, sofreu torturas "extremamente cruéis", segundo o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Fernando Pimentel, seu amigo desde a juventude.

É muito raro ela se referir publicamente a esse período, mas os xingamentos de que foi alvo na abertura da Copa do Mundo em São Paulo levaram-na a abrir uma exceção.

No dia seguinte, num evento oficial no Distrito Federal, Dilma disse que em sua vida tinha enfrentado agressões que chegaram "ao limite físico" e que não seriam ataques verbais que a abateriam ou a fariam se atemorizar.

"Suportei agressões físicas quase insuportáveis e nada disso me tirou do meu rumo, nada me tirou dos meus compromissos", disse a presidente, indicando o quão importante é para ela manter suas posições independentemente do tipo de pressão.

A carreira administrativa e política, porém, Dilma construiu bem longe das montanhas de Minas Gerais que ela tanto admira. Os traços dessa nova Dilma foram moldados no Rio Grande do Sul, onde ajudou a fundar o PDT.

QUEM DISTRAI DILMA Uma pessoa, porém, tem o poder de distrair a presidente de seus objetivos: o neto Gabriel, que consegue interromper a concentração dela quando está em Brasília ou mesmo pela Internet, quando está em Porto Alegre.

Os assessores mais próximos costumam comemorar quando sabem que a ilustre visita está no Palácio da Alvorada.

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Brasília - Depois de ser eleita em 2010 sob a marca de gestora competente, a presidente Dilma Rousseff passa para o segundo turno deste ano com o pior desempenho de um candidato do PT desde 1998, quando Luiz Inácio Lula da Silva perdeu a eleição para Fernando Henrique Cardoso (PSDB) já no primeiro turno.

A imagem mostrada na campanha de quatro anos atrás ficou bastante desgastada no decorrer do mandato, principalmente pelo fraco desempenho econômico.

À época, a fama de gestora e técnica eficiente, construída ao longo dos anos no ministério de Luiz Inácio Lula da Silva, primeiro como titular da pasta de Minas e Energia e depois como ministra-chefe da Casa Civil, serviu para catapultá-la à Presidência, sem nunca antes ter disputado uma eleição.

Hoje, a presidente é retratada, até por aliados, como uma gestora muito apegada a detalhes, que dialoga pouco, que intervém exageradamente na economia e que agiu de forma inábil politicamente para fazer sua enorme base aliada aprovar as reformas necessárias ao país.

Na disputa atual, a candidata tenta se apresentar como a presidente que merece mais quatro anos para manter e aprofundar o modelo petista, deixando um pouco de lado a faceta de gestora que lhe garantiu a vitória em 2010 e tentando provar que aquele perfil de durona e intransigente ficou mais suave desde 2010. Um dos estrategistas da campanha atual acredita que Dilma aprendeu alguma lições nesses quase quatro anos na Presidência. "No fundo, ela está mais madura", disse à Reuters sob condição de anonimato.

Um ministro do governo avalia que Dilma, de 66 anos, já mudou e isso ocorreu depois das manifestações de junho de 2103, quando milhares de pessoas foram às ruas para protestar principalmente contra a qualidade dos serviços públicos.

À época, Dilma perdeu parte da força quando sua popularidade despencou de um pico de 65 por cento de avaliação de ótimo e bom do governo --registrado pelo Datafolha em março de 2013-- para 30 por cento após as manifestações. O alto índice de aprovação havia dado força política a Dilma, mas também a tinha isolado das críticas e conselhos.

"Ali a presidente entendeu que precisava se abrir, dialogar mais com os políticos, com os movimentos sociais", disse o ministro, sob a condição de anonimato.

No seu entorno, porém, nem todos acreditam que o mandato serviu de experiência para Dilma a ponto de transformá-la numa presidente menos obcecada por detalhes e intransigente politicamente.

"O que existe na verdade é uma torcida para que ela tenha aprendido com os erros. A campanha eleitoral está sendo uma grande lição para ela, para o governo e para o PT", disse à Reuters uma pessoa que esteve perto de Dilma na campanha de 2010.

Um exemplo recente mostra a resistência da presidente para fazer correções de rota. Dilma já vinha sendo aconselhada por aliados há meses a sinalizar que num novo mandato faria mudanças, reconhecendo que o governo não acertou em tudo, e que indicasse que trocaria a equipe econômica, cuja credibilidade junto ao mercado havia sido abalada. Mesmo diante desses apelos, Dilma resistia a qualquer inflexão.

Somente depois de uma conversa franca com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu tutor político, ela passou a dizer que faria mudanças na economia se reeleita.

"Foi preciso dizer a ela que teria que escolher entre o ministro da Fazenda (Guido Mantega) e a reeleição", contou à Reuters um aliado, referindo-se à conversa com Lula.

Mesmo que tenha suavizado sua postura nos últimos meses, Dilma criou entre aliados e mesmo entre petistas e escalões inferiores do governo um clima inóspito. Esse aliado que contou sobre a conversa com Lula faz um diagnóstico crítico do resultado de tanta intransigência da presidente.

"Ao longo dos anos ela dinamitou pontes com setores econômicos, partidos aliados e inclusive com o PT. Se for reeleita terá que reconstruir essas pontes e num ambiente político mais hostil, com desconfiança", disse.

Mas para ser reeleita, ela terá que derrotar antes o candidato do PSDB, Aécio Neves, num segundo turno que promete ser muito disputado e bastante difícil.

CONTROLADORA Parte do fracasso da Dilma gestora está diretamente relacionado à postura controladora que sempre teve à frente do Ministério de Minas e Energia e da Casa Civil, cargos cujo perfil era mais gerencial e não de liderança.

Ela gosta de estar de olho em tudo, mesmo em questões banais como a escolha dos painéis publicitários de programas de governo que vai lançar. Nada pode ser impresso, segundo relato de um auxiliar do Palácio do Planalto, sem que Dilma veja ao menos três versões do painel, com slogan e propaganda do programa ou projeto que será lançando.

Dilma também costuma discutir projetos dividindo o governo em áreas estanques, que não dialogam entre si e recebem recomendações diferentes, sem saber qual a posição exata da presidente sobre o tema em discussão. A presidente adota essa estratégia, em parte, porque é avessa a vazamentos para a mídia.

Isso também pode estar relacionado ao passado de Dilma na luta contra a ditadura, quando as organizações clandestinas atuavam por células, com segredos bem guardado até dos amigos.

Dilma participou da luta armada contra a ditadura que governou o país por 21 anos. Ela começou sua atuação na resistência ao regime militar em Belo Horizonte, onde era uma jovem de classe média. Mas o segundo ex-marido, Carlos Araújo, disse que Dilma "nunca pegou numa arma e nunca deu um tiro".

Presa, sofreu torturas "extremamente cruéis", segundo o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Fernando Pimentel, seu amigo desde a juventude.

É muito raro ela se referir publicamente a esse período, mas os xingamentos de que foi alvo na abertura da Copa do Mundo em São Paulo levaram-na a abrir uma exceção.

No dia seguinte, num evento oficial no Distrito Federal, Dilma disse que em sua vida tinha enfrentado agressões que chegaram "ao limite físico" e que não seriam ataques verbais que a abateriam ou a fariam se atemorizar.

"Suportei agressões físicas quase insuportáveis e nada disso me tirou do meu rumo, nada me tirou dos meus compromissos", disse a presidente, indicando o quão importante é para ela manter suas posições independentemente do tipo de pressão.

A carreira administrativa e política, porém, Dilma construiu bem longe das montanhas de Minas Gerais que ela tanto admira. Os traços dessa nova Dilma foram moldados no Rio Grande do Sul, onde ajudou a fundar o PDT.

QUEM DISTRAI DILMA Uma pessoa, porém, tem o poder de distrair a presidente de seus objetivos: o neto Gabriel, que consegue interromper a concentração dela quando está em Brasília ou mesmo pela Internet, quando está em Porto Alegre.

Os assessores mais próximos costumam comemorar quando sabem que a ilustre visita está no Palácio da Alvorada.

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