Kataguiri e Van Hatten criticam comunicação da reforma da Previdência
"É um novo congresso, mas é pior do que eu esperava", resumiu o líder do MBL. Para deputado do Novo, Bolsonaro está tímido nas redes sobre o tema
Clara Cerioni
Publicado em 26 de fevereiro de 2019 às 11h49.
Última atualização em 26 de fevereiro de 2019 às 15h47.
São Paulo — Eleitos com grande influência das redes sociais, os deputados federais Kim Kataguiri (DEM) e Marcel van Hatten (Novo) criticam a falta de uma comunicação alinhada do governo Bolsonaro sobre a reforma da Previdência .
Os deputados participaram nesta terça-feira (26) do painel "O novo parlamento", que abriu a 20ª CEO Conference organizada pelo banco BTG Pactual em São Paulo.
“Acabo de entrar na página do Facebook do presidente e a última postagem sobre o tema foi feita no dia 20 de fevereiro. Quem lida com mídias sociais – como ele – sabe que isso é muito tímido”, disse van Hatten.
Para Kataguiri, Bolsonaro deve se afastar da articulação com os parlamentares e assumir a imagem de apoio da reforma da Previdência frente à população.
"O presidente precisa diluir o peso dessa reforma e aproveitar a sua popularidade, que está fortalecida. Esse empenho ainda não foi feito. É necessário tirar a carga do ajuste fiscal, que é um conceito abstrato que não impacta no imaginário popular", disse.
Kim, que foi o segundo deputado mais jovem eleito no país, também defende que o governo use como norte a ideia de que a reforma vai tirar privilégios contra o discurso de que o brasileiro vai "trabalhar até os 150 anos".
“É importante mostrar que a reforma vai acabar com desigualdades: enquanto o ex-presidente Sarney ganha 112 000 reais em pensão, o trabalhador recebe um salário mínimo. Também deve focar o combate à fraude”, afirmou.
Van Hatten defendeu que a discussão seja feita separando as questões de previdência e o que é assistência:
"A nova PEC acabou misturando tudo, teria sido mais inteligente separar em dois textos. Agora, a comunicação vai demandar mais esforço".
A deputada Joice Hasselmann (PSL), que participou da conversa nos dez minutos finais, defendeu ênfase na mensagem de que "se não aprovar, o Brasil quebrou".
A parlamentar disse que a expectativa da base aliada é aprovar a reforma na Câmara até o fim de maio, prazo considerado otimista pelo mercado; por ser uma emenda constitucional, a proposta tem um trâmite longo.
"Precisamos destravar qualquer problema, qualquer birra, para que a reforma flua", disse Joice.
Ela afirmou que dos temas que estão causando arrepios no Congresso, o principal é a proposta para o Benefício de Prestação Continuada, que determina pagamento de 400 reais a idosos de baixa renda, a partir dos 60 anos, com altas progressivas atingindo um salário mínimo somente a partir dos 70 anos.
Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, sinalizou ontem que esse pode ser um dos principais itens da reforma a cair.
Joice também foi questionada sobre as especulações de que seria anunciada como líder do governo no Congresso Nacional, papel que hoje é de Davi Alcolumbre, presidente do Senado. Ela desconversou e afirmou que essa decisão é exclusiva do presidente Jair Bolsonaro.
Déficit de articulação política
Os novos parlamentares, principalmente Kataguiri, reconheceram que a articulação política do governo Bolsonaro está fraca e atribulada.
"É um novo congresso, mas é pior do que eu esperava", resumiu o líder do MBL. Em sua fala, o parlamentar revelou que já esperava "apanhar no começo" da legislatura, mas que o "desastre é bem maior do que imaginava".
A reforma da Previdência, segundo ele, não passa se depender apenas da condução política do governo:
"[Rodrigo] Maia tem se empenhado bastante, é sua pauta pessoal. Isso ajuda bastante em termos de aprovação. Mas duvido que mais da metade do texto da reforma vai sobreviver na Câmara", afirmou.
Van Hatten concordou com o posicionamento de Kataguiri, mas acredita que a situação vai mudar e classificou como "excelente" que o presidente Bolsonaro tenha chamado os líderes dos partidos para uma conversa na fim da tarde de hoje.