Deputadas acionam PGR contra nomeação de Alvim na Secretaria de Cultura
Jandira Feghali e Benedita da Silva afirmam que o atual secretário demonstra posicionamentos que ferem a Constituição Federal
Clara Cerioni
Publicado em 6 de dezembro de 2019 às 12h15.
Última atualização em 6 de dezembro de 2019 às 12h17.
São Paulo — As deputadas federais Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Benedita da Silva (PT-RJ) acionaram a Procuradoria-Geral da República para suspender a nomeação de Roberto Alvim como titular da Secretaria Especial de Cultura do governo Bolsonaro .
Em representação direcionada a Augusto Aras, as parlamentares afirmam que falas do atual secretário, que tem ligação com Olavo de Carvalho, ferem a Constituição Federal. Elas apontam uma série de posicionamentos recentes de Alvim.
Leia na íntegra a representação contra Alvim
"Em entrevista dada ao jornal O Globo, o então secretário fez promessas que contrariam os preceitos constitucionais, mais precisamente os atinentes à liberdade de expressão cultural e, ainda, no atinente à impossibilidade de representantes da União de desenvolver embaraços, relações de aliança de cunho religioso, no âmbito de sua atuação", escrevem as deputadas.
Elas citam trecho da entrevista, concedida pelo secretário em julho deste ano, em que Alvim prometeu "lutar pela preservação dos princípios, valores e conquistas da civilização judaico-cristã, contra o satânico progressismo cultural".
Alvim, que assumiu a secretaria vinculada ao Ministério da Cidadania em novembro, se diz um "agressivo militante contra o marxismo cultural" e chegou a ofender a atriz Fernanda Montenegro, chamando-a de "sórdida", o que gerou uma onda de protestos contra a sua nomeação.
Na representação, as deputadas dizem que ele "ofendeu publicamente a classe artística", com os comentários sobre a atriz, que comemorou 90 anos neste ano.
"É de bom alvitro ressaltar, que a conduta supramencionada, apresenta notória afronta aos princípios constitucionais, uma vez que fomenta e permeia uma atuação Pública fundada em censura e perseguição à livre expressão e à cultura", dizem as parlamentares.
Perfil
Roberto Rego Pinheiro, que usa Alvim como nome artístico, atuava como diretor do Centro de Artes Cênicas (Ceacen) da Fundação Nacional de Artes (Funarte).
Ele foi proprietário, entre 2006 e junho deste ano, do teatro Club Noir, na Rua Augusta, mantido em conjunto com sua esposa, a premiada atriz e diretora Juliana Galdino.
O apoio do casal à candidatura de Jair Bolsonaro desde o ano passado gerou incômodo em parte da classe artística, atacada pelo hoje presidente e majoritariamente identificada com ideais progressistas.
Em entrevistas, Alvim credita sua reorientação política à descoberta de um tumor no intestino em 2017 e conversão ao catolicismo, além de reclamar de uma suposta perseguição política da esquerda no direcionamento de verbas de fomento.
No final de setembro, Alvim escreveu em suas redes sociais que sentia “desprezo” por Fernanda Montenegro e a chamou de “mentirosa”. O motivo foi uma capa da revista Quatro Cinco Um que trazia a atriz de 89 anos vestida de bruxa numa fogueira de livros.
“A ‘intocável’ Fernanda Montenegro faz uma foto pra capa de uma revista esquerdista vestida de bruxa”, escreveu Alvim. “Na entrevista, vilipendia a religião da maioria do povo, através de falas carregadas de preconceito e ignorância. Essa foto é ecoada por quase toda a classe artística como sendo um retrato fiel de nosso tempo, em postagens que difamam violentamente o nosso presidente”.
(Com João Pedro Caleiro)