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Demétrio Magnoli: o avanço dos outsiders

Leo Branco O discurso dos políticos que se denominam como outsiders – por serem desconectados do sistema político tradicional – tem ganhado força no mundo. A vitória de Donald Trump na corrida eleitoral americana é o exemplo mais marcante, mas esse fenômeno também parece já ter ganhado terreno no Brasil. Com a vitória do empresário João […]

DEMÉTRIO MAGNOLI: Sociólogo fala sobre o novo estilo de conquistar eleitores que está ganhando força no Brasil / Veja
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Da Redação

Publicado em 25 de abril de 2017 às 14h10.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h27.

Leo Branco

O discurso dos políticos que se denominam como outsiders – por serem desconectados do sistema político tradicional – tem ganhado força no mundo. A vitória de Donald Trump na corrida eleitoral americana é o exemplo mais marcante, mas esse fenômeno também parece já ter ganhado terreno no Brasil. Com a vitória do empresário João Doria para a prefeitura de São Paulo, novos rostos devem começar a abraçar essa estratégia para conquistar espaço na política. É o que acredita o sociólogo Demétrio Magnoli, doutor em geografia humana e comentarista de política na Folha de S. Paulo, no jornal O Globo e na Globo News. Para ele, outsider é o político que, ao desvincular seu discurso de ideologias partidárias, consegue se comunicar com um número bem maior de eleitores.

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O que está por trás do fenômeno de popularidade do prefeito de São Paulo João Doria?

A projeção que o Doria vem tendo deve ser relacionada com a projeção de outros personagens que se apresentam como outsiders. Os personagens que se apresentam como outsiders não o são de fato, mas aparecem para o eleitor como tal. O Lula, do ponto de vista do eleitorado, não é o PT, ele é algo diferente disso; é o paizinho que vai salvar os pobres. O Jair Bolsonaro se apresenta como outsider, se apresenta como o homem que vai restaurar uma ordem perdida. A Marina Silva se apresenta como uma outsider, embora ela também não seja uma. A projeção de João Doria faz parte desta constelação de ilusórios outsiders que se erguem do caos do sistema político. Eles fazem sombra aos políticos que têm a cara do seu partido. É um fenômeno que vai prosseguir e talvez ganhe outros figurantes.

Como é o estilo de um outsider?

O outsider não vai atender um determinado grupo. Por definição, ele vai atender a todos. Veja o que é um partido: é uma parte da sociedade que diz “estou aqui para atender aos seguintes interesses, que acabam sendo bons para todos”. Os partidos ideológicos iniciam o seu discurso assumindo que representam os interesses de uma fração da sociedade. Os outsiders não. Os outsiders iniciam o discurso falando a todos, porque eles não reconhecem aquilo que a ideologia proclama que é a diferença de interesses. Isso é a sua marca.

O avanço dos outsiders é bom pro país?

Não é bom para o país que os outsiders sejam os principais candidatos, porque uma democracia organizada se baseia em partidos. Mas isso não quer dizer que eu acharia bom para o país que os atuais partidos estivessem navegando em águas calmas. É bom para o país que exista um distúrbio no sistema político em função do colapso da forma de governar. Estamos assistindo ao colapso da Nova República e do pacto econômico e social que foi feito naquela época. É nesse quadro de colapso que emergem os outsiders. Isso não é bom e não é ruim: é o que é.

Esse estilo Doria de governar vai fazer escola?

Vai fazer escola porque ele descobriu uma chave de discurso que oferece uma resposta eleitoral de sucesso para crise do sistema político. Nem todo mundo tem as condições para fazer o mesmo discurso de Doria. Se Alckmin ou Aécio fizerem um discurso dizendo “eu não sou político”, isso não teria efeito nenhum porque eles têm uma trajetória política bem conhecida. Então, veja não é que o discurso de Doria sirva para qualquer um. Ele serve para quem puder se encaixar no perfil do outsider. Então, obviamente ele vai fazer escola.

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