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Da pesca ao Inpe: um governo da destruição?

Escolhas políticas para órgãos que deveriam ser técnicos mostram olhar seletivo do governo para minar o poder de instituições

Palácio do Planalto: decisões apontam para escolhas seletivas do governo (Roberto Stuckert Filho/PR/Flickr)

Palácio do Planalto: decisões apontam para escolhas seletivas do governo (Roberto Stuckert Filho/PR/Flickr)

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Da Redação

Publicado em 2 de agosto de 2019 às 19h14.

Última atualização em 2 de agosto de 2019 às 19h56.

O presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, foi exonerado do cargo após o embate em torno dos dados de desmatamento da Amazônia.

O próprio Galvão afirmou, nesta sexta-feira, 2, que a situação ficou insustentável após Jair Bolsonaro ter dito que os dados sobre desmatamento eram mentirosos, e de o governo ter anunciado que mudaria a forma de divulgar os números. Galvão bateu o pé na qualidade técnica do Inpe, referência mundial.

Também nesta sexta-feira, foi divulgado que a família do secretário da Pesca, Jorge Seif Júnior, foi multada em 70.000 reais por pesca ilegal em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.

O secretário se afastou da empresa de pesca da família em dezembro, para assumir o cargo no governo. O próprio Bolsonaro teve uma multa por pesca ilegal anulada pelo Ibama em janeiro deste ano, num processo referente a 2012.

Os dois episódios, o do Inpe e a multa à família do secretário, reforçam o olhar seletivo do governo. O Inpe, na visão de Jair Bolsonaro, deve se pautar não pela verdade científica, mas pelos interesses do governo.

A secretaria da pesca deveria se pautar pelo desenvolvimento sustentável da atividade no país — objetivo difícil de ser alcançado com o ex-sócio de uma empresa pesqueira multada por atividade ilegal no comando da autarquia.

Estão longe de ser casos isolados. Na quinta-feira, o presidente mudou a composição da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, que trabalha para reconhecer mortos na ditadura. Entre os novos membros estão filiados do PSL, o partido de Bolsonaro, e dois militares.

Ricardo Salles, ministro do meio-ambiente, tem uma atuação pautada na defesa de interesses de ruralistas e garimpeiros. Nabhan Garcia, responsável pela reforma agrária, é presidente licenciado da União Democrática Ruralista.

O presidente da Funai, a Fundação Nacional do Índio, Marcelo Augusto Xavier, é delegado da Polícia Federal com histórico de conflitos com indígenas.

O governo ainda tentou passar a responsabilidade de demarcar terras indígenas para o Ministério da Agricultura, num movimento barrado ontem pelo Supremo Tribunal Federal.

E criticou os dados de desemprego do IBGE — antes de eles começarem a cair, claro. “São todas escolhas políticas aparentemente com o intuito de acabar com as instituições”, diz Joel Pinheiro da Fonseca, colunista de EXAME.

Neste caldo, quem assumirá o Inpe, o instituto cujos números devem servir ao governo?

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