Criança guiou primeiro resgate no acidente aéreo da Chapecoense
Segundo testemunhas, um garoto de cerca de dez anos ajudou no resgate do lateral Alan Ruschel, da Chapecoense
EFE
Publicado em 30 de novembro de 2016 às 07h22.
La Unión (Colômbia) - Uma criança guiou o resgate do primeiro sobrevivente encontrado na região onde caiu o avião que transportava a delegação da Chapecoense no município de La Unión, no departamento de Antioquia, segundo relataram testemunhas à Agência Efe.
O garoto, de aproximadamente 10 anos, ajudou no resgate do lateral Alan Ruschel, de um local conhecido como montanha El Gordo, onde ficou destruído o sonho do conjunto da Chapecoense de conquistar sua primeira Copa Sul-Americana.
"Quando estávamos estacionando os caminhonetes, chegou uma criança e nos disse que uns feridos estavam sendo retirados por outro lado", disse à Efe Sergio Marulanda, um dos moradores que colaboraram com o deslocamento dos seis sobreviventes da tragédia pelo terreno acidentado onde o avião caiu na noite de segunda.
Marulanda se transformou em um herói anônimo graças a um telefonema de seu irmão, um médico da região que lhe pediu trazer sua caminhonete 4x4 e as de outros quatro amigos para ajudar no resgate que começou duas horas após a colisão do Avro Regional RJ85, da companhia aérea boliviana Lamia.
"Um policial me disse: 'o senhor é o primeiro a chegar, coloque a criança na caminhonete e vá a resgatar os feridos'", lembrou o homem, natural de La Unión e torcedor do Atlético Nacional.
Em meio a cena "chocante", composta por um avião totalmente desintegrado e corpos espalhados, Marulanda recebeu em sua caminhonete o jogador Alan Ruschel, com equipes de resgates que lutavam para estabilizá-lo.
"Ele foi agasalhado, perguntou por sua família e seus amigos, disse que sentia muita dor no quadril, pois tinha uma fratura", disse ele, naquele que seria o primeiro milagre na montanha.
Ruschel, com alguma consciência, manteve curtos diálogos em espanhol com seus salvadores e depois foi levado para uma clínica na cidade de La Ceja.
Ao lado da principal estrada de La Unión foi instalado o Posto de Comando Unificado (PMU), que acumulou filas de automóveis, ambulâncias e jornalistas, pois foi ali onde se coordenaram todas as ações que permitiram o resgate de seis sobreviventes e 71 corpos.
A partir do Posto de Comando, partiam equipes de resgates em caminhonetes, motos e cavalos para o local da tragédia, situado aproximadamente cerca de 17 quilômetros e que exigia uma caminhada no último trecho de aproximadamente 30 minutos por um terreno acidentado que incluía uma ladeira, segundo explicaram os especialistas que atenderam a emergência.
Do lugar do acidente desciam paulatinamente heróis com nervos de aço e corpos afetados pelo frio, por conta de seus trajes úmidos e sujos de lama.
"Se esse avião cai um minuto depois, a tragédia teria sido maior", disseram os socorristas, garantindo que esses 60 segundos de diferença evitaram que a colisão acontecesse diretamente no município de La Ceja.
Um dos que integraram as equipes de resgate foi Teobaldo Garay, capitão do Corpo de Bombeiros do Peru, que estava visitando o país e fez parte do grupo que estabilizou o jogador Hélio Neto, último sobrevivente resgatado.
"Eu cuidava da cabeça e o pescoço, pois o paciente chegou com traumatismo craniano severo e com pouca consciência", disse Garay.
Na região, o diretor-geral da União Nacional para a Gestão do Risco de Desastres, Carlos Ivan Márquez, se encarregou de informar que a operação de resgate foi "uma das mais rápidas" já realizada na Colômbia, graças à logística aérea, terrestre, máquinas e humana.
Agora, as autoridades colombianas se concentram na investigação sobre as causas do acidente e na homenagem com velas, flores e camisetas brancas que o Atlético Nacional prepara para esta quarta-feira, no estádio Atanasio Girardot, na mesma hora onde deveria acontecer o confronto contra a Chapecoense pela final da Copa Sul-Americana.