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Covid-19: 47% das UTIs do Rio exclusivas para a doença estão fechadas por falta de pessoal

Só o Hospital de Bonsucesso, de portas cerradas desde o incêndio em outubro do ano passado, poderia oferecer 213 vagas para receber esses pacientes

Principal problema para a criação de vagas é a falta de pessoal (Mauricio Bazilio/Getty Images)
AO

Agência O Globo

Publicado em 9 de março de 2021 às 08h07.

No dia 1º de janeiro, a Prefeitura do Rio , que iniciava uma nova gestão, anunciou a abertura de 343 leitos para Covid-19 na cidade, sendo 193 na rede pública. Pouco mais de três meses depois, a pressão sobre o sistema caiu por conta do arrefecimento momentâneo da pandemia, o número não foi alcançado e hoje o município tem menos vagas na rede SUS do que tinha no ano passado. Hoje, com a curva da doença dando sinais de que volta a crescer, um levantamento do GLOBO mostra que o principal problema para a criação de vagas é a falta de pessoal. Do total de leitos de UTIs fechados para o tratamento de pessoas infectadas pelo coronavírus, 47% estão sem receber pacientes por falta de profissionais de Saúde.

O Rio tem, no momento, 623 leitos de UTI da Rede SUS para Covid-19, dos quais 548 estão ocupados — 88% do total. No fim de semana, essa taxa chegou a atingir 96%, mas ontem algumas vagas foram abertas às pressas para atender à demanda. Atualmente, o maior gargalo é a rede federal. Somente o Hospital de Bonsucesso, fechado desde o incêndio em outubro do ano passado, poderia oferecer 213 vagas para receber esses pacientes. Já o Hospital Clementino Fraga Filho, administrado pela UFRJ, tem 28 leitos fechados.

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Procurado, o Ministério da Saúde afirmou que hoje a rede federal já dispõe de mais vagas para pacientes graves do que as que existiam no Hospital de Bonsucesso e que “tem apoiado irrestritamente estados e municípios e investido em ações, serviços e infraestrutura para o enfrentamento da Covid-19”. Já a direção do Hospital do Fundão disse que a falta de profissionais que levou ao fechamento de vagas de internação deve-se ao afastamentos de servidores por causa da pandemia. A unidade informou que a prefeitura do Rio ainda custeia parte de seus profissionais e que outros leitos serão habilitados quando chegar o pessoal que será pago pelo governo federal.

O secretário municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz, ressalta que há seis semanas a cidade do Rio não registra fila de pacientes aguardando transferência por mais de 24 horas. A meta, segundo o secretário, é manter essa fila zerada. Ele disse, por exemplo, que leitos de enfermaria podem ser transformados em UTIs em algumas unidades. Além do Fundão, os hospitais Evandro Freire, Ronaldo Gazolla e de Piedade têm condições de ampliarem o atendimento para atendera um aumento de demanda.

— O problema que a gente tem na rede hoje não se deve à estrutura física, hoje existe esta estrutura. Em 2021, a secretaria conseguiu zerar a fila, o que não tinha acontecido ano passado. Nosso problema nunca foi estrutura física. Tanto o governo estadual quanto o federal se comprometeram a enviar mais recursos para financiar a abertura de leitos. Ao longo da semana, vamos converter mais alguns em UTIs porque temos ocupação baixa em enfermarias — afirma Soranz, acrescentando que foram abertos, desde o início de sua gestão, 210 novos leitos e que mais vagas também dependem de acordo com a iniciativa privada.

Por causa da demora na expansão da assistência médica, a Defensoria Pública do Rio pediu à Justiça, na última sexta-feira, a abertura de todos os 160 leitos de UTI prometidos no Hospital municipal Ronaldo Gazolla e a apresentação de um plano com a compensação de vagas devido ao fechamento do hospital de campanha do Riocentro. Mas Soranz rebate, observando que os leitos do hospital de campanha, embora contabilizados, não eram operacionais.

Apesar da promessa da prefeitura, o núcleo de Saúde da Defensoria Pública do Rio argumenta que a nova gestão nunca apresentou um plano de contingência detalhado, com indicação das novas vagas abertas e prazos. Por isso, na ação judicial, pede-se o cumprimento do plano do ano passado, que foi incorporado ao estadual. Nele, estava previsto que, até o dia 30 de dezembro do ano passado, deveriam ter sido criados 338 leitos de UTIs e 797 de enfermarias.

Defensoria exige plano

A defensora Thaísa Guerreiro, coordenadora do núcleo de Saúde do órgão, diz ter constatado um aumento no total de UTIs e redução nas vagas de enfermaria, o que pode indicar a conversão de leitos clínicos para tratamento intensivo. No Bom Dia Rio, da TV Globo, Soranz disse ontem pela manhã que esse processo permitiu a abertura de mais 10 leitos de UTI no Ronaldo Gazzolla. Ao todo, o hospital agora tem 380 leitos, sendo 153 de UTI, sete a menos que estipulava o plano de contingência. Por nota, a Secretaria municipal de Saúde informou que um novo plano foi publicado em 25 de fevereiro e que “o número de leitos operacionais é dinâmico”. Mas, na petição, a Defensoria alega que o Rio não só não alcançou o objetivo previsto até o final do ano passado como retrocedeu no total de vagas.

Desde a sexta-feira passada, o Rio adotou medidas sanitárias mais rígidas, reduzindo o horário de funcionamento de bares e restaurantes até a 17h e proibindo a permanência das pessoas nas ruas das 23h às 5h. Ambulantes e quiosques nas praias foram proibidos por uma semana, tempo em que a iniciativa está em vigor.

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