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Com superlotação por covid-19, hospitais do Alagoas já recusam pacientes

Alguns hospitais e UPAs da região já estão com capacidade em situação crítica; dos 501 leitos disponíveis, incluindo UTIs e clínicos, 60% já estão ocupados

Alagoas: Para desafogar o sistema público de saúde, o governador do estado anunciou a inauguração do Hospital Metropolitano de Maceió, que contará com 100 leitos clínicos e 30 UTIs (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 14 de maio de 2020 às 11h01.

Última atualização em 14 de maio de 2020 às 11h03.

Com 2.761 casos confirmados de coronavírus e 164 mortes - 14 delas somente na quarta-feira, 13 -, segundo boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde, Alagoas está vendo o número de leitos para o tratamento da doença chegar a sua capacidade máxima. Em algumas unidades de saúde já não há mais vaga para pacientes que chegam apresentando os sintomas do novo coronavírus .

Pelo menos dois hospitais (Arthur Ramos e Santa Casa de Misericórdia, ambos na capital) estão com sua capacidade em situação crítica, mesmo com o isolamento social decretado pelo governador Renan Filho (MDB) desde o dia 16 de março. No primeiro, um aviso na entrada diz que já não há mais vagas para pacientes com covid-19.

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Atualmente, segundo o boletim da Central de Regulação de Leitos da Secretaria de Saúde de Alagoas, emitido na quarta-feira, dos 501 leitos disponíveis para pacientes infectados pelo vírus no Estado, incluindo Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e clínicos, 302 (60%) estavam ocupados.

Em algumas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Alagoas já não há mais vagas, como é o caso da UPA do Benedito Bentes, o maior bairro de Maceió, e de São Miguel dos Campos, município a 60 km da capital. De acordo com o boletim da Secretaria de Saúde dos 102 municípios alagoanos, 69 já registraram pacientes com covid-19. A capital continua tendo a maior quantidade, com 2.064 casos, seguida dos municípios Marechal Deodoro (68), Rio Largo (62) e Satuba (50), todos na Região Metropolitana.

O estrangulamento do sistema de saúde acaba levando centenas de alagoanos com suspeitas de covid-19 para o Hospital Geral do Estado (HGE), o maior centro de atendimento de urgência e emergência de Alagoas. A aglomeração na recepção do hospital, que não obedece a nenhum tipo de distanciamento, acaba pondo em risco pacientes que estão na unidade por outros motivos.

"O HGE não é referência no atendimento de casos de covid-19, mas os pacientes estão chegando e ficando. Se chegar gente com dor no peito, vai ficar, e a chance de pegar (covid-19) é grande", alertou o presidente do Sindicato dos Médicos de Alagoas (Sinmed), Marcos Holanda, na terça-feira, dia 12 - quando o HGE já abrigava 42 pacientes com suspeita ou confirmação da doença. "Aqui era para ficar livre para atender outros casos. Não tem mais leito".

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde informou que o número de casos suspeitos e confirmados de covid-19 tem aumentado e que os pacientes que procuram o HGE são acolhidos, uma vez que a unidade é pública e, portanto, aberta.

O órgão ressalta, no entanto, a importância de a população seguir as medidas de isolamento social para evitar o aumento de casos no Estado e, consequentemente, de hospitalização, "uma vez que não há uma vacina para proteger contra o novo coronavírus".

O sufocamento do número de leitos para pacientes com covid-19 foi motivo de uma ação conjunta dos Ministérios Públicos Estadual e Federal na segunda-feira, 11. Nela, os dois órgãos pedem que as Secretarias Estadual e Municipal de Saúde de Maceió supervisionem os leitos destinados aos pacientes com covid-19 na Santa Casa de Misericórdia de Maceió. A intenção é identificar quantos leitos destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS) estão disponibilizados para o tratamento da doença.

"Já da unidade de saúde, os MPs querem explicações detalhadas sobre como o hospital está tratando os pacientes com base no número de leitos", informa o Ministério Público Estadual, em nota. "A Santa Casa deverá, ainda, promover, no prazo de 48 horas, a ampliação de leitos nos termos já anteriormente contratualizados com o Poder Executivo Estadual como ação de enfrentamento ao novo coronavírus", diz o texto.

Até a noite de quarta-feira, quando se encerraria o prazo, apenas a Secretaria de Saúde do Município tinha atendido à solicitação, nomeando uma auditoria para chegar as informações cobradas pelos MPs.

A reportagem procurou a direção da Santa Casa de Maceió para esclarecer sobre o número de leitos destinados aos pacientes infectados com o novo coronavírus. Por meio de assessoria de imprensa, o diretor geral da instituição, Arthur Gomes Neto, informou que não poderia atender à demanda por estar no centro cirúrgico.

Há uma semana, um vídeo em que Gomes Neto implorava para as pessoas ficarem em casa devido ao estrangulamento do número de leitos do hospital viralizou nas redes sociais. Visivelmente abatido, o diretor da Santa Casa dizia que a instituição estava chegando ao seu limite. "Por isso, eu venho aqui mais uma vez não pedir, mas implorar para que fiquem em casa, que usem máscaras, que evitem sair às ruas, que cuidem da higiene pessoal: sapatos, lavar as mãos, para que um número menor de pessoas possa ficar doentes".

Novos leitos

Para tentar aliviar a sobrecarga do sistema de Saúde de Alagoas, o governador Renan Filho anunciou para a próxima sexta-feira, 15 a inauguração do Hospital Metropolitano de Maceió, que contará com 100 leitos clínicos e 30 UTIs.

Segundo o governo estadual, a unidade médica terá capacidade para realizar 10.300 atendimentos mensais. Enquanto isso, quem busca o sistema de saúde de Alagoas para fazer testes de covid-19 enfrenta uma verdadeira maratona.

Na o dia 4 de maio, a operadora de telemarketing Silmara Borges, de 41 anos, procurou uma unidade básica de saúde no bairro em que mora, na capital, com suspeita da doença. Depois de ser atendida, foi encaminhada para uma UPA na periferia de Maceió. Encontrou no local pelo menos 50 pessoas com suspeitas da doença. "Desmotivada e com medo de ser infectada, já que não sabia se era realmente vítima de coronavírus, fui à Unidade de Urgência para Síndromes Gripais do governo, na tentativa de fazer ao menos o teste rápido", lembra.

No local, Silmara enfrentou uma fila de triagem que descartou a possibilidade de qualquer atendimento quando a atendente soube que os sintomas estavam sendo sentidos há menos de oito dias. Ela teve de voltar quatro dias depois. Nessa janela de tempo, o marido e o filho também foram contagiados pelo novo coronavírus. Os dois cumprem isolamento domiciliar, como recomenda o Ministério da Saúde. "Devido a dificuldade que eu tive para fazer os testes, ele desistiu de procurar atendimento", lamenta Silmara.

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