Cervejaria doou a tucano após FHC pedir dinheiro a Odebrecht, diz VEJA
Ex-presidente enviou e-mails a Marcelo Odebrecht, em 2010, pedindo doações para campanhas de tucanos; quem pagou foi a cervejaria dona da Itaipava
Luiza Calegari
Publicado em 8 de junho de 2018 às 17h06.
São Paulo — A cervejaria Petrópolis, que atuava como "parceira" da Odebrecht nas doações para políticos, fez dois depósitos para o tucano Antero Paes de Barros (PSDB-MT) depois de o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso solicitar o repasse à empreiteira. A informação é da revista VEJA.
Simplificando, Fernando Henrique pediu dinheiro para a Odebrecht, e quem repassou foi a Petrópolis, dona de marcas como Itaipava e Crystal.
A doação foi feita legalmente, e registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no nome de duas distribuidoras ligadas à Petrópolis, segundo VEJA: Leyroz de Caxias Indústria, Comércio e Logística e a Praiamar Indústria, Comércio & Distribuição.
Foram dois depósitos: um de 80 mil reais, em nome da Leyroz, e outro de 20 mil reais, em nome da Praiamar, totalizando 100 mil reais em doações para a campanha de 2010. Paes de Barros concorria ao Senado Federal, e não se elegeu.
A doação mostrada pela revista tem relação com o pedido de Fernando Henrique para que a Odebrecht repassasse dinheiros para políticos. Um dos beneficiados foi Antero, e o outro foi Flexa Ribeiro, ambos do PSDB.
FHC, que não é investigado na Lava Jato, afirmou que, se houve solicitações, foram “legais”. “Posso ter pedido, mas era legal. Não sei se deram e não foi a troco de decisões minhas, pois eu estava fora dos governos”, disse ele, que, à época, já era presidente de honra do PSDB e não ocupava cargo público.
Fernando Henrique pediu dinheiro a Marcelo Odebrecht por e-mail. A Polícia Federal descobriu as mensagens depois que a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao juiz Sérgio Moro que fosse realizada uma perícia no computador de Marcelo.
Troca de e-mails
Na troca de e-mails entre o tucano e o empreiteiro, não há citação a valores. Em um deles, FHC fala em “SOS” para campanha e envia dados bancários. “Recordando nossa conversa no jantar de outro dia, envio-lhe um SOS. O candidato ao Senado pelo PSDB, Antero Paes de Barros, ainda está em segundo lugar, porém a pressão do governismo, ancorada em muitos recursos, está fortíssima”, afirma FHC a Marcelo, em mensagem no dia 13 de setembro de 2010. “Seria possível ajudá-lo?”
No mesmo dia, Marcelo responde: “Presidente, estou fora até amanhã, mas até 4ª dou uma olhada e retorno. Fique tranquilo (no que depender de nós). Depois aproveito, e lhe dou o feedback dos demais apoios e reforços que fizemos na linha do que conversamos.”
Em 21 de setembro, FHC insiste pela doação. “Desculpem a insistência e nem mesmo sei se já atenderam o que lhes pedi, mas, há dois possíveis senadores que precisam atenção.”
Em outra troca de e-mails, com o assunto “iFHC”, do então executivo da Odebrecht André Amaro para Marcelo, são citados valores. “Em alinhamento com EO (Emílio Odebrecht) informei a Daniel que nossa contribuição será de 1,8 mi em 24 meses, conforme acertado no último encontro dos empresários no Instituto”, diz Amaro.