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Castañeda: “México deve levantar a guarda”

Thiago Lavado “O México é a criança mais fraca da turma, por isso Donald Trump está vindo atrás dele primeiro”, diz Jorge Castañeda ex-ministro das Relações Exteriores do México, em sua palestra durante a Conferência Latino-Americana do banco Credit Suisse, realizada em São Paulo. Castañeda ficou no cargo entre 2000 e 2003 e é um conhecido […]

JORGE CASTAÑEDA: Para ex-ministro, deve esperar para falar com Trump quando o presidente americano estiver enfraquecido / Divulgação
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Da Redação

Publicado em 14 de fevereiro de 2017 às 18h38.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h46.

Thiago Lavado

“O México é a criança mais fraca da turma, por isso Donald Trump está vindo atrás dele primeiro”, diz Jorge Castañeda ex-ministro das Relações Exteriores do México, em sua palestra durante a Conferência Latino-Americana do banco Credit Suisse, realizada em São Paulo. Castañeda ficou no cargo entre 2000 e 2003 e é um conhecido escritor e acadêmico no país. Ele já escreveu mais de uma dúzia de livros, incluindo uma biografia de Ernesto Che Guevara, além de colaborar com jornais do México, da Espanha e dos Estados Unidos.

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Castañeda, que abandonou o posto no governo mexicano diante da Guerra do Iraque, falou com EXAME Hoje sobre as implicações do governo de Donald Trump sobre os vizinhos do sul. Para ele, os mexicanos estão em uma situação muito difícil e devem erguer a guarda para lidar com Trump, não se dispondo a renegociar acordos como o Nafta ou ajudar os Estados Unidos em políticas de imigração.

Desde o primeiro anúncio de sua candidatura, em junho 2015, Donald Trump afirmou que mexicanos eram pessoas ruins, acusou imigrantes de serem criminosos e disse vários deles seriam deportados. Como está a moral do mexicano desde que ele foi eleito? Como as pessoas veem a si mesmas?

A maioria das pessoas no México não acreditava que ele venceria e não o levava a sério. Hoje, muitas pessoas estão desapontadas e amedrontadas. Há uma grande questão de medo e desgosto por Trump. Ele é muito impopular e ao mesmo tempo muito conhecido. As pessoas ainda esperam para ver o que irá acontecer em sua gestão, mas a percepção geral é de que será ruim. Quão ruim, ninguém sabe, mas ruim.

O senhor mencionou que os mexicanos deveriam aguardar até que Trump esteja mais fraco politicamente, para poder negociar com ele de uma posição melhor. Como isso pode ser feito? Pode ser mais fácil no futuro?

Não será fácil, mas a alternativa tampouco é fácil. A alternativa é negociar agora, quando ele está mais poderoso e a oposição ao seu governo ainda é incipiente. A melhor opção era que ele fosse embora, mas isso não irá acontecer. Só podemos esperar 6 meses, 8 meses, 1 ano, sabendo que é ruim para o México, mas também sabendo que a alternativa é ainda pior.

Quando Trump escreve algo no Twitter sobre o México, o peso mexicano cai. Com a queda da moeda, não haveria um maior volume de trocas, aumentando o déficit comercial americano com o México, que Trump tanto afirma ser contra?

Aumentariam as trocas com os Estados Unidos, que ele quer reduzir, então, sim, em teoria ele está trabalhando contra seus próprios intentos. Mas, veja, Trump não é um presidente consistente. Ele não liga se o que ele diz ou faz hoje é contradito pelo que diz ou faz amanhã. Tudo que ele quer e se importa é fazer com que seu eleitorado fique feliz e entregar tudo que ele prometeu. Não para todos os eleitores, para seus eleitores. Então pouco importa se o peso mexicano cai ou sobe, ou se isso aumenta o fluxo migratório para os Estados Unidos. Ele só liga para o que seus eleitores querem ouvir.

Falando em promessas de campanha, ele será realmente capaz de construir o muro? Há muita controvérsia sobre os custos, pagamentos, disputas sobre terras…

Sim, não vejo por que não. Presidentes que disseram que não construiriam um conseguiram erguer 1.000 km de muro. Por que um presidente que diz que quer construir um muro não conseguiria erguer mais 1.000 km? É muito caro, mas 25 bilhões de dólares ou 50 bilhões de dólares, divididos em um período de 4 anos, não são nada para o orçamento dos Estados Unidos. Para mim e para você é muito dinheiro, mas para a economia americana não é nada.

Algumas pessoas dizem que o presidente Enrique Peña Nieto está sendo muito condescendente com Trump, em termos políticos. O senhor mencionou que o México tem um papel de colaboração com os Estados Unidos, principalmente impedindo imigrantes da América Central e terroristas de entrar no país, e isso poderia ser abandonado. Essa é uma estratégia política que o México planeja implementar?

Bem, o presidente Peña Nieto já disse que todas as questões estão na mesa para discussão. E ele mencionou especificamente drogas, centro-americanos, segurança e terrorismo. Se estão todos sobre a mesa, significa que podemos continuar com nossas políticas contra esses assuntos ou não. Pode-se fazer tudo, metade ou nada. Essa é uma posição muito perspicaz para o México. Não há como saber se o presidente Peña Nieto irá levar isto adiante, mas eu suspeito que veremos um aumento grande de centro-americanos chegando à fronteira, caso cessem as cooperações mútuas sobre o tema. É um movimento muito rápido: em 3 ou 4 dias pessoas de Honduras, El Salvador, Guatemala ficam sabendo e chegam à fronteira.

Como o senhor mencionou em sua palestra, a decisão do presidente Enrique Peña Nieto de encontrar o então candidato Donald Trump antes das eleições foi considerada um dos maiores erros da política externa mexicana. E a popularidade dele caiu desde então. Como está o cenário para as próximas eleições no México?

O ponto principal é que há uma grande questão de raiva no México contra o que as pessoas enxergam como um sistema corrupto. Não contra um indivíduo ou um partido político, mas contra todos: o presidente, as instituições, o congresso, o sistema inteiro. Há um candidato que está canalizando todo este ressentimento, mesmo fazendo parte do sistema político, que é o ex-prefeito da Cidade do México, Andrés Manuel López Obrador. Com ele, é provável que o México encare muitos retrocessos nas reformas promovidas por Peña Nieto.

Há algum lado bom nas escolhas de gabinete de Trump para o México? O general James Mattis, secretário de Defesa, viajou ao Japão para corroborar o compromisso americano com a defesa na região. O México pode esperar alguma decisão sensata do gabinete presidencial?

Para o México, o secretário de Defesa não importa muito, já que mantemos poucas relações nessa linha. Do secretário de Estado Rex Tillerson ninguém sabe, talvez sim, mas ele também não parece uma pessoa muito razoável. Já John Kelly, o secretário de Segurança Nacional, que era para ser a pessoa razoável no governo, é quem estava por trás do decreto que baniu imigrantes e refugiados dos Estados Unidos. Então, onde está o lado bom?

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