Braga Netto na disputa no Rio mobiliza entorno de Paes e afasta PT de vice em 2024
A avaliação de interlocutores do prefeito é que a consolidação de um adversário identificado com Bolsonaro demandará do postulante à reeleição acenos a conservadores
Agência de notícias
Publicado em 6 de julho de 2023 às 07h41.
Última atualização em 6 de julho de 2023 às 07h42.
A articulação do PL para lançar o general da reserva Walter Braga Netto à prefeitura do Rio acirrou a concorrência entre aliados do atual chefe do Executivo, Eduardo Paes (PSD), para se viabilizarem como candidatos a vice na chapa dele em 2024. A avaliação de interlocutores do prefeito é que a consolidação de um adversário identificado com Jair Bolsonaro (PL) demandará do postulante à reeleição acenos a eleitores conservadores, além de esfriar o pleito do PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de indicar o vice. Paes tem sinalizado preferência por limitar a escolha a políticos de seu núcleo próximo, dispostos a estreitar relações com a direita.
No núcleo duro de Paes, dois nomes despontam como os mais cotados para compor a chapa: o deputado federal Pedro Paulo, presidente em exercício do PSD no Rio, e o presidente da Câmara Municipal da capital, Carlo Caiado. Correm por fora o deputado federal licenciado Daniel Soranz e o advogado Felipe Santa Cruz, ambos do PSD.
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Deputado federal e vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá pondera que Paes teria que mostrar um excesso de força política e popularidade para emplacar uma chapa puro-sangue, mas reconhece o caminho para um nome fora da esquerda:
"A questão do vice é essencial para o Eduardo. O PT vai pleitear a vaga, mas tendo a consciência de que nosso objetivo é ganhar a eleição. Caso se perceba, numa avaliação em conjunto, que determinado perfil é mais viável, vamos atuar com senso de colaboração".
Os mais cotados para a vice de Paes
- Pedro Paulo: Deputado federal e ex-secretário municipal de Fazenda, é um dos aliados mais próximos de Paes, o que gera ressalvas de outros siglas à sua presença na chapa. Priorizando temas, como a adequação de aeroportos no Rio e o arcabouço fiscal, que podem atrair eleitores de maior poder aquisitivo, distantes do PT.
- Carlo Caiado: Presidente da Câmara Municipal do Rio e aliado histórico da família do ex-prefeito Cesar Maia, estreitou relações com Paes no ano passado. Vem fazendo pontes com vários segmentos, como líderes evangélicos, que já apoiaram o atual prefeito e hoje se mantêm mais distantes.
- Daniel Soranz: Reassumiu em maio a secretaria municipal de Saúde, cargo que lhe deu projeção na campanha de vacinação contra a Covid-19 em 2021. Assim como Pedro Paulo, é homem de confiança de Paes.
- Felipe Santa Cruz: Ex-presidente da OAB, ingressou na política guiado por Paes e concorreu a vice-governador na chapa de Rodrigo Neves (PDT) em 2022. Mantêm diálogo com siglas de esquerda, como PT e PDT.
A avaliação de três aliados de Paes ouvidos pelo GLOBO é que Pedro Paulo desfruta da confiança do prefeito, atributo crucial para a montagem da chapa — já que, na visão desses interlocutores, ele calcula se reeleger e depois concorrer ao governo do estado em 2026, passando a capital ao vice. Com mandato voltado à pauta econômica, Pedro Paulo acenaria a um eleitor de maior poder aquisitivo que, para um correligionário de Paes, pode ter se afastado do prefeito após o apoio a Lula no ano passado.
O parlamentar, no entanto, simbolizaria um comportamento “exclusivista” de Paes, já que sua trajetória política é vinculada ao prefeito. No início do ano, em reação a uma tentativa de atenuar esse vínculo, parlamentares do União Brasil criticaram a articulação —negada depois por Paes —para que Pedro Paulo se filiasse à sigla para disputar a vice.
Já Caiado estreitou a relação com Paes em 2022, quando migrou do União para o PSD. O vereador mantém canais com lideranças evangélicas que se afastaram do atual prefeito. Um dos interlocutores de Caiado é o pastor Silas Malafaia, apoiador de Bolsonaro.
Soranz, secretário de Saúde, se notabilizou pela campanha de vacinação na pandemia da Covid-19. Santa Cruz tem o melhor diálogo com partidos de esquerda, como PT e PDT.
Nome também para 2026
No campo do bolsonarismo, Braga Netto ganhou fôlego após ser absolvido no mesmo julgamento em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) condenou Bolsonaro à inelegibilidade, devido a ataques ao sistema eleitoral. O militar foi vice na chapa de Bolsonaro.
O nome de Braga Netto cresceu no PL desde que Bolsonaro vetou a candidatura do filho, o senador Flávio Bolsonaro. Mesmo numa eventual derrota, Braga Netto ficaria em evidência para disputar o estado em 2026.