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Banco suíço viu movimentação suspeita de ex-diretor da Dersa já em 2008

Paulo Vieira de Souza foi preso na terça-feira, 19, acusado de ser operador financeiro do PSDB e da Odebrecht

Paulo Vieira de Souza: documentos mostram que o engenheiro e ex-diretor do Dersa abriu offshore no Panamá em outubro de 2006 (José Cruz/Agência Brasil)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 21 de fevereiro de 2019 às 09h13.

São Paulo - Documentos enviados pelo Ministério Público da Suíça ao Brasil mostram que o engenheiro Paulo Vieira de Souza abriu a offshore Groupe Nantes no Panamá em outubro de 2006, quando era diretor de Relações Institucionais da Dersa, estatal responsável por obras viárias em São Paulo. As movimentações financeiras feitas pela offshore levantaram suspeita do banco suíço Bordier & Cie já em 2008.

Os documentos suíços mostram que Vieira de Souza, preso na terça-feira, 19, acusado de ser operador financeiro do PSDB e da Odebrecht, acumulou R$ 10,9 milhões (em valores da época) em uma das contas no exterior entre 2008 e 2010, período em que foi diretor de Engenharia da estatal paulista.

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E-mails trocados entre funcionários do banco suíço em maio de 2008 indicam que a suspeita começou a partir de uma série de depósitos feitos na conta do engenheiro por offshores com sede em Hong Kong e nas Bahamas um mês antes, no valor total de US$ 1 milhão. Uma das mensagens diz que é preciso "aumentar a vigilância", porque o beneficiário da conta é uma Pessoa Exposta Politicamente (PEP), termo universal usado para identificar políticos e dirigentes de estatais.

O material foi anexado ao pedido de prisão de Vieira de Souza feito pela força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. A Polícia Federal também fez buscas em imóveis do ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), que teria recebido um cartão de crédito em 2007 vinculado a uma conta do engenheiro, de quem é amigo. Após a operação, Aloysio pediu demissão da presidência da Investe SP, agência de investimentos do governo João Doria (PSDB). O ex-chanceler nega ter recebido o cartão.

Após a primeira suspeita, o funcionário do banco pediu ao colega que produzisse um relatório explicando a ligação entre as empresas que fizeram os depósitos e Vieira de Souza, o contexto econômico das transações e o perfil do cliente. No documento, o funcionário afirma que o então diretor da Dersa não tinha relação com as offshores e que os depósitos vinham das "várias atividades" dele como investidor em imóveis, proprietário de um hotel e outras funções em empresas públicas. O funcionário do Bordier & Cie relata ainda que conhecia Vieira de Souza desde 1993 e que "ele é amigo de vários importantes clientes brasileiros do nosso banco".

A abertura da empresa foi feita por um procurador canadense por meio do escritório de advocacia Mossack Fonseca, especializado em abrir empresas em paraísos fiscais e peça central do caso Panama Papers, que revelou, em 2015, rede de offshores usadas por políticos, empresários e celebridades para ocultação de patrimônio.

Em março de 2007, dois meses antes de Vieira de Souza assumir a Diretoria de Engenharia da Dersa, a Groupe Nantes abriu quatro contas no banco suíço. Segundo o Ministério Público Federal, as contas foram usadas para receber propina da Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht até 2010, quando ele deixou a Dersa.

À época, o banco suíço enviou um funcionário ao Brasil para investigar a atuação do cliente. Um memorando de 2011 concluiu que "a conta foi alimentada regularmente" e que "a fortuna está alinhada com as muitas atividades profissionais do cliente".

Procurada, a defesa de Vieira de Souza não respondeu até a conclusão desta edição. As empreiteiras disseram colaborar com as investigações. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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