Auxílio de US$1000 e floresta "antifogo" geram críticas a Bolsonaro na ONU
Entre comentários de autoridades e organizações ambientais destacam-se alguns elogios e queixas sobre dados falsos ditos pelo presidente
Da Redação
Publicado em 22 de setembro de 2020 às 13h45.
Última atualização em 22 de setembro de 2020 às 15h59.
Após discurso do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral das Nações Unidas ( ONU ) nesta terça-feira, 22, #BolsonaronaOnu virou o assunto mais comentado entre brasileirosno Twitter.
Entre os comentários de internautas, autoridades e organizações ambientais destacam-se queixas sobre informações falsas proferidas pelo presidente.
Na fala de cerca de 15 minutos Bolsonaro pontuou que "nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior". Disse tambémque o Brasil é modelo na gestão ambiental e que tem sofrido ataques internacionais devido a interesses comerciais.
“Nosso agronegócio continua pujante e, acima de tudo, possuindo e respeitando a melhor legislação ambiental do planeta. Mesmo assim, somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal”, disse.
O discurso do presidente vem em um momento de pressão internacional contra o Brasil, à medida em que rodam o mundo as imagens de queimadas e desmatamento.
É de praxe para a diplomacia brasileira abrir a Assembleia, e o discurso de Bolsonaro foi gravado e concluído ainda na semana passada. O evento está sendo virtual pela primeira vez nos 75 anos das Nações Unidas, com algumas poucas autoridades presentes devido à pandemia do novo coronavírus ( clique aqui para assistir à Assembleia da ONU ao vivo).
Na avaliação do Observatório do Clima, o discurso foi "calculadamente delirante" e confirma as preocupações de investidores estrangeiros quanto às crises ambiental e sanitária no país. A entidade ambientalista reúne mais de 50 Organizações Não-governamentais (ONGs) e movimentos sociais.
Segundo Bolsonaro, o Brasil é vítima de "uma das mais brutais campanhas de desinformação" sobre a questão ambiental. A declaração do presidente "não foi voltada à comunidade internacional, mas sim à claque bolsonarista", destaca a entidade.
As discussões para a efetivação do acordo entre União Europeia e Mercosul têm sido protagonizadas pela questão ambiental e o temor de que o acordo possa intensificar ainda mais o desmate nas florestas brasileiras.
Para o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, a fala de Bolsonaro ameaça a Economia ao não propor soluções aos problemas ambientais do país e acusar um "conluio inexistente entre ONGs e potências estrangeiras" contra o Brasil.
"Bolsonaro Não teve o objetivo real de prestar esclarecimentos sobre a situação do Brasil a parceiros comerciais e consumidores preocupados, muito menos de propor uma visão de país, como era a tradição, mas de combater a realidade e inventar inimigos imaginários. Bolsonaro usou a tribuna das Nações Unidas para fazer campanha à reeleição e não para promover o país", completa a entidade.
Outra fala bastante criticada foi em relação ao auxílio emergencial de R$ 600, que foi reduzido para a metade do valor após ser estendido até dezembro. No discurso, Bolsonaro diz: "Nosso governo, de forma arrojada, implementou várias medidas econômicas que evitaram o mal maior: – Concedeu auxílio emergencial em parcelas que somam aproximadamente 1000 dólares para 65 milhões de pessoas, o maior programa de assistência aos mais pobres no Brasil e talvez um dos maiores do mundo"
O governador do Maranhão, Flávio Dino, reclamou do tom usado pelo presidente no início do discurso, quando disse que "por decisão judicial, todas as medidas de isolamento e restrições de liberdade foram delegadas a cada um dos 27 governadores das unidades da Federação. Ao Presidente, coube o envio de recursos e meios a todo o país".
Bolsonaro disse ainda na sequência que "como aconteceu em grande parte do mundo, parcela da imprensa brasileira também politizou o vírus, disseminando o pânico entre a população. Sob o lema “fique em casa” e “a economia a gente vê depois”, quase trouxeram o caos social ao país".
Bolsonaro também recebeu elogios de apoiadores, como o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros e a deputada federal Carla Zambelli (PSC-SP).
Repercussão internacional
O discurso do presidente também teve rápida repercussão na imprensa internacional. Agências de notícias e jornais de diferentes países destacaram as falas do presidente brasileiro sobre a pandemia e as queimadas no país.
A agência de notícias francesa AFP deu destaque à fala do presidente sobre uma "campanha de desinformação" sobre as queimadas na Amazônia e no Pantanal. Os franceses citaram a fala do presidente sobre a causa do incêndio.
"Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares, no entorno leste da Floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas".
Já a agência norte-americana Associated Press deu destaque às críticas do presidente ao que chamou de "politização do coronavírus". "Como ocorre no resto do mundo, parte da imprensa brasileira politizou o vírus, semeando o pânico entra a população. Com o lema 'fique em casa', 'a economia vemos depois' quase provocaram um caos social no País".
O diário britânico The Guardian relatou as falas de Bolsonaro em sua cobertura em tempo real da Assembleia-Geral. Escreveu que o presidente brasileiro elogiou o agronegócio brasileiro e os caminhoneiros - dois importantes grupos de apoio. "O homem no campo não parou nunca”, disse ele, culpando a desinformação pelas más notícias sobre os incêndios na Amazônia e no Pantanal.
O The Guardian traz dados para rebater as informações do presidente. "Na verdade, o Pantanal, a maior área úmida do mundo está enfrentando a maior devastação de sua história. A área queimada este ano é equivalente ao tamanho do Estado de Israel - 3 milhões de hectares ou 20% de todo o bioma".
Ao enaltecer sua resposta à pandemia, Bolsonaro não mencionou as 137 mil mortes nem o fato de o Brasil ser um dos três países mais afetados pelo vírus no planeta.
O jornal argentino Clarín também destacou que o presidente defendeu suas políticas para o meio ambiente e afirmou que o governo tem sido vítima de uma "campanha brutal de desinformação".
Os argentinos destacaram que o Brasil desponta como o maior produtor mundial de alimentos e que por isso haveria interesse em prejudicar a imagem da nação. O diário traz dados oficiais mostrando a devastação na Amazônia e no Pantanal.
O jornal português O Público destacou que Bolsonaro culpou os índios pelos incêndios na Amazônia.
"Nos últimos meses, a região do Pantanal tem sido dizimada por fortes incêndios, pondo em causa não só a fauna e a flora única deste bioma, mas também a sobrevivência dos povos indígenas locais. No entanto, Bolsonaro apontou precisamente o dedo aos índios e aos "caboclos” pelos incêndios justificados pela "busca da sobrevivência”, sem fornecer qualquer prova desta acusação", escreveu o jornal.
(Com informações de Estadão Conteudo)