São Paulo - Plano de governo é o mínimo que o eleitor pode esperar de um candidato à Presidência da República, mas, no calor da campanha eleitoral, propostas de ação viraram detalhe para os  presidenciáveis com maiores chances de chegar ao poder.

A menos de um mês das eleições, nem a petista Dilma Rousseff nem o tucano José Serra apresentaram um plano de governo formal, com ideias claras para o país.

Dilma alega que a redação final das propostas está em debate. Serra, por sua vez, afirma que suas plataformas estão resumidas num conjunto de discursos entregues no registro da candidatura, o que justificaria a ausência de um plano mais consistente.

Para ajudar o eleitor a conhecer melhor como pensam os candidatos, o Site EXAME recorreu aos discursos e entrevistas de ambos os presidenciáveis e reuniu as promessas de cada um para a área econômica.

Nessa primeira galeria, você acompanha as propostas de Dilma Rousseff. No dia 25 de outubro, a candidatura de Dilma Rousseff lançou seu programa de governo. Segundo o documento, as propostas de Dilma defendem "o fortalecimento da democracia política, econômica e social, além da garantia irrestrita de liberdade religiosa, de imprensa e de expressão". Texto atualizado em 28/10/2010 Conheça os ministeriáveis de Dilma Rousseff. Leia mais notícias sobre as Eleições 2010.

São Paulo - Dilma Rousseff fala com orgulho do crescimento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) no governo Lula. A candidata afirma que a extensão do prazo de pagamento dos empréstimos foi fundamental para estimular investimentos de fôlego. Por isso, ela afirma que vai manter o banco como principal financiador de grandes projetos de expansão no Brasil. “Não haverá nenhum investimento de longo prazo no país se não houver crédito de longo prazo, e hoje quem dá crédito de longo prazo é o BNDES", disse a candidata, num encontro com empresários paranaenses, em julho. Em maio, ao participar do EXAME Fórum, Dilma já havia ressaltado a importância do BNDES, mas afirmou, à época, que era preciso estimular os fundos de pensão e o mercado de capitais a dividirem com o banco a tarefa de financiar projetos de infra-estrutura. A forte presença estatal no crédito é parte da “política industrial ativa” proposta por Dilma. Para ela, também é papel do Estado estimular que se fabrique no país tudo o que pode ser produzido localmente, inclusive no caso dos equipamentos para exploração do pré-sal, setor em que, segundo críticos do governo, o Brasil não oferece competitividade. "Fazer política industrial era considerado algo ultrapassado", afirma a petista. "Era por isso que o Brasil não tinha uma indústria naval e hoje tem estaleiros construídos”, diz a candidata. Completam o pacote de propostas a ampliação do ensino profissionalizante, como forma de qualificar mão-de-obra, e o estímulo à formação de químicos, físicos e engenheiros.

São Paulo - A equipe de campanha da candidata petista está disposta a evitar qualquer especulação de uma guinada à esquerda, no plano econômico. Vacinada pelo pânico que acometeu o mercado financeiro na iminência da eleição do presidente Lula, em 2002, a cúpula do partido garante que um eventual governo de Dilma Rousseff rezará pela mesma cartilha dos últimos anos, em termos de equilíbrio fiscal, controle da inflação e câmbio flutuante. "E o tripé que está dando certo e em time que está ganhando não se mexe", diz o presidente do PT, José Eduardo Dutra. "Para nós, estabilidade é uma premissa, ninguém precisa se assustar", ele diz. Caso a ex-ministra de fato mantenha o direcionamento adotado por Lula, isso significa que as linhas gerais da condução econômica serão: a) Superávit primário - O governo continuará a definir metas de economia das verbas públicas, para pagamento de dívidas (saiba como Dilma encara os gastos públicos) b) Metas de inflação - Dilma pretende conservar o sistema atual, em que o Conselho Monetário Nacional define uma meta para a inflação e o governo maneja juros e gastos públicos de forma a manter a alta de preços próxima a esse patamar (veja as propostas de Dilma para inflação e juros) c) Câmbio flutuante - A política de permitir que a cotação do real flutue em relação ao dólar deve prosseguir. A ex-ministra considera que o país teve "experiências muito ruins no passado" com uma taxa fixa de câmbio. Ela defende, porém, que o país acumule um "volume significativo de reservas internacionais" e diz que, se houver mudança no nível de reservas, será para mais, e nunca para menos.

São Paulo - Política fiscal é o calcanhar-de-aquiles do PT na área econômica. Adversários do partido costumam acusar os petistas de inchaço da máquina estatal e descontrole de gastos. A questão ganhou peso a partir de 2008, quando o governo Lula elevou gastos públicos e estimulou bancos e empresas estatais a injetarem dinheiro na economia para compensar a crise financeira global. De olho no que pode virar um telhado de vidro, Dilma é categórica ao dizer que vai manter o superávit primário nesses mesmos 3,3%. "E porque a gente tem que reduzir a relação dívida/PIB para poder reduzir o superávit primário. O inverso é errado, o inverso é aventureiro", afirma. O coordenador da campanha de Dilma, José Eduardo Dutra, também já disse que a candidata cortará gastos públicos já no primeiro ano de um eventual governo, se isso for condição para atingir metas de superávit primário. "O governo Lula fez isso no primeiro ano e o governo Dilma também vai fazer", disse Dutra. O esforço de disciplina fiscal se estenderia não só a programas de investimentos e a bandeiras como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), mas também aos reajustes do funcionalismo. Segundo o jornal Folha de S. Paulo , o novo governo petista seria muito mais rigoroso na concessão de aumentos de salários do que o anterior. Dilma rechaça, porém, um ajuste fiscal como o que ela diz ter sido feito no governo Fernando Henrique Cardoso. Para a candidata, um corte generalizado é a pior forma de enxugar as despesas. A parcimônia nos gastos servirá, de acordo com a ex-ministra, para baixar a dívida líquida a uma proporção de cerca de 30% do PIB, até o fim de 2014, ante os 39,6% previstos para o fim de 2010.

São Paulo - Crescimento econômico é um dos temas preferidos dos petistas na campanha eleitoral. Dilma Rousseff sempre encontra uma brecha para exaltar a expansão da classe C e a geração de empregos no período Lula. Mesmo quando confrontada com a afirmação de que o Brasil cresceu menos do que outros países emergentes durante o governo do PT, a candidata faz questão de elogiar a condução da política econômica. "Nós tivemos um processo muito duro, com inflação fora do controle. O que nós tivemos de fazer foi um esforço muito grande para colocar as finanças no lugar", afirmou ao Jornal Nacional, da Rede Globo. Para os próximos anos, a ex-ministra diz que é possível crescer 5,5% ao ano, até 2014, sem provocar uma disparada da inflação, uma vez que a economia tem avançado pela alta nos investimentos. A petista ressalta que a redução da dívida pública em relação ao PIB, possibilitada pelo superávit primário, vai permitir inclusive reduzir a meta de inflação sem sobrecarregar os juros. Num encontro com investidores estrangeiros, ela sinalizou que pretende baixar gradualmente a meta, fixada em 4,5% para 2010 e 2011. Aliados de Dilma dizem que o plano é chegar a 4% já em 2012, segundo o jornal Folha de S. Paulo, embora a candidata negue ter alguma definição sobre o tema.

São Paulo - Uma salva de palmas da platéia obrigou a petista Dilma Rousseff a interromper por um instante seu discurso sobre economia, num encontro com investidores internacionais realizado em maio, em Nova York. A aprovação acalorada surgiu após o elogio da ex-ministra ao Banco Central brasileiro, pela decisão de elevar as taxas de juros básicos no mês anterior, apesar de 2010 ser um ano eleitoral. Dias antes, Dilma já havia expressado apoio à medida. "Mostramos para o mercado que a gente não faz manipulação da realidade para ganhar eleição", afirmou. O episódio mostra o esforço petista em sinalizar cautela no manejo dos juros, compromisso essencial para provocar simpatia no mercado financeiro.  

"Sou contra qualquer tentativa de querer baixar os juros de forma artificial", ressalta a candidata petista. Outro sinal de satisfação com o desempenho do BC foi a resposta de Dilma às críticas do oponente tucano José Serra, para quem a autoridade monetária demorou a elevar os juros e a conter o aquecimento da economia, no 1º semestre de 2010. "O BC tem registro de cuidado e cautela, o que foi importante na crise. Houve muitos acertos no BC durante a crise; acho muito relativa esta discussão de se fizesse isso ou quando", disse a petista. A aprovação ao modelo atual se estende à forma como o BC se relaciona com os ministérios. Mexer na autonomia operacional do banco está fora de cogitação, segundo Dilma, assim como qualquer projeto para formalizar esta autonomia. "O Banco Central, como está conformado, fez um ótimo trabalho. Não vejo porque mudar isso", ela diz.

São Paulo - Uma bomba-relógio ameaça os aeroportos brasileiros. Eles encerraram 2009 com capacidade para 126 milhões de passageiros, ante uma demanda de 111 milhões, segundo estudo da consultoria McKinsey. Até 2014, porém, a demanda deve chegar a 146 milhões, ou seja, sem investimentos pesados no setor, o transporte aéreo no país vai colapsar. Dilma Rousseff diz que o governo Lula retomou investimentos no setor depois de anos de paralisação, mas admite que as obras de ampliação da estrutura aeroportuária, a cargo da estatal Infraero, deveriam ser tocadas muito mais rapidamente. A candidata do PT promete cuidar dos aeroportos desde o primeiro dia de seu eventual governo. Ela defende a abertura de capital da Infraero, como forma de atrair investimentos privados para as reformas, mas sem privatizar a companhia. O modelo seria similar ao da Petrobras, que tem o governo como acionista controlador, mas mantém uma fatia de suas ações em livre negociação na Bovespa. Para viabilizar essas parcerias público-privadas, a petista também vê necessidade de um novo marco regulatório. Sem regras muito claras e definidas, ela afirma, o investimento aeroportuário fica sujeito a minguar no longo prazo, assim como aconteceu com as ferrovias. Uma terceira proposta é ampliar aeroportos fora do eixo Rio-São Paulo, para estimular a desconcentração de linhas. De acordo com a ex-ministra, chegou a hora de o país criar aeroportos regionais mais movimentados.

São Paulo - A construção de um trem-bala entre Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro é uma das obras mais grandiosas acalentadas pelo governo petista. Ao custo de 33 bilhões de reais , segundo estimativa da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), o projeto recebeu  críticas dos adversários de Dilma, reforçadas por um relatório do Banco Mundial segundo o qual países em desenvolvimento dificilmente reúnem condições suficientes para justificar o trem-bala. Dilma Rousseff rebate com a alegação de que três técnicos do próprio Banco Mundial, contratados pelo governo para elaborar um estudo de viabilidade, foram unânimes em apontar que a densidade populacional do trecho e a força econômica das cidades a serem ligadas justificam a obra. A candidata afirma que há condições para o trem-bala atender a uma demanda que hoje é concentrada no transporte aéreo, como ocorreu entre Paris e Bruxelas ou nas linhas construídas na China e no Japão. Para Dilma, a transferência de tecnologia seria um motivo adicional para que o projeto se concretize. O conhecimento adquirido com o projeto poderia ser aproveitado por um órgão a ser criado, o Instituto Ferroviário do Brasil, que faria a integração entre os setores público, privado e as universidades para desenvolver tecnologia para o setor ferroviário