Após cinco anos e 55 operações, Lava-Jato do Rio chega ao fim
O grupo de trabalho deixa de existir oficialmente como força-tarefa isolada, após quase cinco anos de atuação, 55 operações abertas e 894 pessoas denunciadas
Estadão Conteúdo
Publicado em 31 de março de 2021 às 15h59.
Última atualização em 31 de março de 2021 às 20h46.
Como anunciado em dezembro pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, chegou ao fim nesta quarta-feira, 31, o prazo para integração da força-tarefa da Operação Lava-Jato no Rio de Janeiro ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) instituído no Ministério Público Federal fluminense.
A partir desta quarta, 31, o grupo deixa de existir oficialmente como força-tarefa isolada, após quase cinco anos de trabalho, 55 operações abertas e 894 pessoas denunciadas.
Apesar da mudança formal, o Gaeco vai herdar o acervo da Lava-Jato e também será comandado pelo procurador Eduardo El Hage, que até aqui coordenou o braço fluminense da operação. O período de transição ao novo modelo durou cerca de dois meses.
Referência no combate ao crime organizado nos Ministérios Públicos estaduais, os Gaecos começaram a ser implementados a nível federal no ano passado — quase sete anos após o Conselho Superior do Ministério Público aprovar uma resolução abrindo caminho para a adoção do modelo.
A institucionalização do grupos anticrime faz parte da meta encampada por Aras de redesenhar o Ministério Público Federal, pondo fim às forças-tarefa. O procurador-geral entrou em conflito com os métodos de investigação da Lava-Jato e passou a defender a necessidade de superar o 'lavajatismo'.
Números da Operação Lava-Jato do Rio, que teve início em junho 2016:
55 operações
806 buscas e apreensões
70 prisões temporárias
264 prisões preventivas
105 denúncias
894 denunciados
183 condenados em primeira instância
R$ 3,8 bilhões obtidos em acordos de colaboração premiada
Histórico
A Operação Lava-Jato começou em Curitiba, em 2014, como uma investigação sobre um esquema de lavagem de dinheiro atribuído ao doleiro Alberto Youssef, e remeteu ao Rio de Janeiro, em 2015 uma investigação sobre a Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras. No ano seguinte, foi formada a força-tarefa fluminense, que aprofundou investigações sobre corrupção em diversas obras públicas do estado, como as do Metrô do Rio e do Maracanã para a Copa do Mundo.
Com o avanço das investigações, a força-tarefa do Rio denunciou uma série de políticos, incluindo o ex-presidente Michel Temer, o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, preso há mais de quatro anos, o empresário Eike Batista e o 'doleiro dos doleiros' Dario Messer.
Aclamada nas ruas, a Lava-Jato virou alvo de sistemáticos questionamentos pelos métodos de investigação. Embora o berço em Curitiba tenha concentrado a maior parte das críticas, sobretudo pelas prisões provisórias como suposto instrumento para forçar delações dos investigados e posteriormente pela associação entre procuradores e o ex-juiz Sergio Moro, os ataques também atingiram a força-tarefa do Rio.
No julgamento na Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, que declarou a suspeição de Moro no caso do tríplex do Guarujá, o ministro Gilmar Mendes estendeu os ataques ao núcleo fluminense.
"A tal 7ª Vara do Rio de Janeiro, não sei por que o escândalo ainda não veio à tona, mas o que se fala em torno dessa vara também é de de corar frade de pedra", afirmou o magistrado, em referência ao juiz Marcelo Bretas, responsável pelos processos da Lava-Jato no estado.