Analistas veem eleição sem Lula e com vitória de centro-direita
Alckmin é um nome bastante considerado pelos analistas como uma possível escolha das forças de centro-direita para disputar - e vencer - as eleições
Da Redação
Publicado em 9 de novembro de 2017 às 18h39.
Última atualização em 9 de novembro de 2017 às 19h58.
São Paulo - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ficar de fora da disputa eleitoral de 2018 por questões judiciais, o que abrirá espaço para a vitória de um candidato da centro-direita, dizem analistas políticos que participaram de evento realizado pela Bloomberg em São Paulo, nesta quinta-feira.
Em que pese a análise de que o PSDB se desgastou politicamente após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e ainda perdeu a primazia de sua agenda econômica, adotada pelo PMDB, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, é um nome bastante considerado pelos analistas como uma possível escolha das forças de centro-direita para disputar - e vencer - as eleições.
Para atrair eleitores, no entanto, Alckmin tem de se posicionar mais, disse Richard Back, analista político da XP Investimentos. “O novo Alckmin terá de mostrar convicções sobre o que é importante para o país.”
Incógnita de Lula
Enquanto as forças de centro e direita ainda não conseguem articular um nome único para representá-las e, assim, poderem se contrapor ao destaque que a ausência de Lula daria às candidaturas de Bolsonaro e Marina, algumas outras incógnitas se colocam na cena eleitoral. A mais importante delas é o quanto a Justiça deve demorar a decidir sobre uma possível segunda condenação de Lula - líder nas pesquisas e já condenado a nove anos e meio de prisão pelo juiz Sergio Moro em primeira instância - o que tornaria o ex-presidente inelegível.
Se decisão da Justiça sobre Lula demorar, pode ser um caos, disse Márcia Cavallari, CEO do Ibope, onde atua há 34 anos. “Se ele for preso, então, muda completamente o cenário, vai virar vítima, o que pode gerar muita comoção”, disse ela ao final do evento, em rápida entrevista.
A taxa de rejeição de Jair Bolsonaro, atualmente vice-líder nas pesquisas, tende a crescer quando a campanha começar, mas um cenário com ele na Presidência seria ”um regime bolivariano à direita”, avalia Cláudio Couto, professor de ciência política na FGV São Paulo. “Se alguém acha que o modelo da Venezuela não é um problema, pode votar no Bolsonaro”, disse Couto. “Eu me pergunto quantos economistas estariam dispostos a posar para fotografias com Bolsonaro”, afirmou Back, da XP Investimentos, para quem a eventual vitória do candidato do PSC traria “conturbação política”.
Sobre quem representaria a esquerda na ausência de Lula, as opiniões se dividem. Enquanto Couto acha que Ciro Gomes poderia ocupar este lugar, Rafael Cortez, analista político da Tendências, diz que um nome do próprio PT seria o mais provável. De toda forma, acrescenta ele, “Lula será candidato até se não for candidato”, pela dimensão de sua força política.
A eventual candidatura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, com bastante apoio no mercado financeiro, poderia ser beneficiada se a recuperação econômica ficasse mais evidente, disse Ricardo Ribeiro, analista político da MCM. Mas isso pode não ser o bastante. Meirelles precisaria melhorar sua empatia com população, disse Cavallari, do Ibope.
Sobre os nomes de Marina e Luciano Huck, prevaleceu a visão de que eles ainda se mantêm um pouco afastados da cena, esperando o melhor momento de entrarem, evitando desgaste antecipado. A candidatura de Marina depende muito do que acontecer com Lula, disse Cortez, enquanto Ribeiro disse ser importante saber se ela viria sozinha - o que reduziria suas chances - ou acompanhada na campanha por alguém do naipe de um Joaquim Barbosa, ex-presidente do STF.
Quanto ao valor das pequisas de intenção de voto neste momento, a um ano das eleições, Cavallari, do Ibope, disse que elas agora apenas medem a força política de possíveis candidatos. Cada vez mais o eleitor está deixando sua decisão para mais tarde. Na hora em que começar a propaganda no rádio e TV será o momento em que os candidatos começarão a ter um nível de igualdade de conhecimento.
Reformas
De consenso, os analistas acreditam que o debate econômico, tão escondido durante as últimas eleições, estará em cena nas campanhas. Temas como ajuste fiscal e reforma da Previdência certamente serão abordados e candidatos terão de se posicionar.
Até mesmo na hipótese de Lula concorrer e vencer, ele não necessariamente seria contra o ajuste ou a reforma. “Lula é mais pragmático do que de esquerda e teria alguma proposta para ajuste fiscal e Previdência”, disse Ribeiro, da MCM.
Redes sociais
Outro ponto cego dessas eleições é o quanto a internet e as redes sociais podem influenciar na escolha final do candidato pelos eleitores. Conforme apurou o Ibope, para um terço da população, as redes influenciam na escolha política. O impacto das redes sociais nas eleições terá de ser monitorado.
Dos eleitores de Bolsonaro, mais alinhados a um perfil de jovem, de maior escolaridade e renda, 90% são usuários ativos da internet. No caso dos eleitores de Lula, com perfil de mais mulheres, idade mais alta, menor escolarização e menor renda, apenas 40% usam ativamente a as redes. Se o que se vê nas redes sociais pudesse equivaler a intenções de voto, Bolsonaro hoje estaria em primeiro lugar, diz Cavallari.