Aliados utilizam coligações para ameaçar o governo
Após a defecção do PTB, PR, PP e PSD protagonizam agora uma "guerra fria" para obter mais espaço num eventual segundo mandato da petista
Da Redação
Publicado em 25 de junho de 2014 às 09h00.
Brasília - Partidos da base da presidente Dilma Rousseff decidiram usar os últimos dias de definição das coligações para ameaçar abandonar o governo.
Após a defecção do PTB, que anunciou apoio ao tucano Aécio Neves na semana passada, PR, PP e PSD protagonizam agora uma "guerra fria" para obter mais espaço num eventual segundo mandato da petista.
Dilma se reuniu ontem com seu antecessor e fiador político, Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio da Alvorada, para traçar um plano a fim de conter os rebeldes. As convenções, que decidem pelas alianças, têm de ser realizadas até segunda-feira, segundo a Justiça Eleitoral.
O PR, que tem atualmente o Ministério dos Transportes, foi o mais explícito na ameaça ontem. Líderes do partido exigiram a substituição do atual titular da pasta, César Borges, sob o argumento de que ele não representa a legenda.
À tarde, quando ainda estava no Planalto, seu local de trabalho, Dilma respondeu com um "não" ao ser questionada por repórteres se atenderia à demanda dos aliados. O ministro já avisou que não pedirá demissão.
Conversado. Pela manhã, o senador Antônio Carlos Rodrigues (PR-SP) esteve no Planalto acompanhado de outros líderes do partido para falar de sua insatisfação aos ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini. Mercadante levou a notícia a Dilma e depois disse que o assunto "está sendo conversado".
O Planalto também está negociando com o PP, que tem hoje o Ministério das Cidades. Os petistas esperam garantir o apoio do partido do ex-prefeito Paulo Maluf ao projeto de reeleição de Dilma hoje, quando a sigla realiza a sua convenção nacional.
A aliança nacional tem boas possibilidades de ser fechada, mas os palanques de candidatos nos Estados estratégicos já estão perdidos. No Rio de Janeiro, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, o PP prefere o nome de Aécio, candidato do PSDB à Presidência.
A ala contra Dilma defende pelo menos a "neutralidade", ou seja, não se coligar a ninguém. "Eu defendo a candidatura de Aécio. Acho que o caminho mais inteligente para o partido é votar pela neutralidade", disse a senadora Ana Amélia (PP), que disputa o governo do Rio Grande do Sul com o atual governador, o petista Tarso Genro.
Os problemas que o Planalto enfrenta com os aliados se espalham por outros Estados. Em Santa Catarina, o governador, Raimundo Colombo (PSD), apoia Dilma, mas os três deputados federais e cinco estaduais do PP no Estado defendem Aécio.
"A tendência é a executiva nacional fechar com Dilma e liberar os Estados", disse o deputado Esperidião Amin (PP-SC). Ele observa que em Minas Gerais, reduto do candidato tucano, o governador Alberto Pinto Coelho (PP) defende abertamente o apoio a Aécio.
Já em Alagoas, o senador Benedito Lyra, que concorrerá ao governo estadual, dará palanque para o candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos.
Entre os partidos que tentam se cacifar, o menor risco, pelo menos na avaliação do Planalto, é com o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab. O partido também realiza sua convenção hoje em Brasília.
O encontro nacional do PSD deverá oficializar apoio à campanha da presidente por "aclamação". "A decisão no âmbito nacional já foi tomada no ano passado", afirmou o líder da legenda na Câmara, Moreira Mendes (RO).
Para o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz, a adesão à campanha de Dilma forçará integrantes do partido que apoiam outros candidatos à Presidência a ter mais cuidado com a propaganda eleitoral durante a disputa.
"O Kassab está alertando todo mundo. Se algum candidato do PSD fizer cartazes com imagens do Aécio, por exemplo, poderá ser enquadrado por infidelidade uma vez que a aliança nacional é com o PT", disse.
Atualmente, o PSD integra a base aliada do governo Dilma e ocupa a Secretaria da Micro e Pequena Empresa, comandada por Afif Domingos. (Colaboraram Erich Decat e Ricardo Della Coletta). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.