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Alckmin "provoca" ONU por críticas à gestão da água

Em ofício enviado ao secretário-geral da ONU, governador adota tom nada amigável para pedir correção das declarações da relatora especial para água e saneamento

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Vanessa Barbosa

Publicado em 21 de outubro de 2014 às 13h09.

São Paulo – Durante passagem por São Paulo , há um mês, a portuguesa Catarina de Albuquerque, relatora especial para água e saneamento da ONU, atribuiu o drama hídrico vivido pelo paulista à inoperância do poder público, em especial do governo do Estado que, segundo ela, não investiu o suficiente para garantir oferta de água para todos.

Geraldo Alkmin não gostou nada da crítica pública. Em ofício enviado no começo de setembro ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o governador adota um tom pouco amigável para pedir “correção” das declarações da relatora.

Na carta, obtida pelo blog do jornalista Fernando Rodrigues, o governador chega, inclusive, a questionar a capacidade da entidade em realizar a Cúpula do Clima, evento focado em conter a ameaça do aquecimento global, que ocorreria dali a alguns dias.

Alckmin classificou as declarações como uma “violação de conduta de um representante das Nações Unidas" e elencou três situações que julgou inapropriadas.

A primeira, segundo ele, é de que durante a visita à São Paulo, a relatora especial não se encontrou com representantes do governo ou da Sabesp, tampouco teria demonstrado interesse em receber dados sobre a situação da crise presente.

Em segundo lugar, continuou Alckmin, as declarações da relatora foram feitas às vésperas das eleições estaduais com o “objetivo de inflamar as campanhas, representando uma tomada de posição política das Nações Unidas", o que segundo ele implica quebra do código de conduta da entidade.

Em seguida, Alckmin acusa a relatora especial de incorrer em “erros factuais inadmissíveis”, que demonstram “espantoso desconhecimento da configuração da administração da água no Brasil”. Ele também rebate críticas aos baixos investimentos feitos no setor, especialmente na redução de perdas no sistema.

O governador defende ainda que a “alegação de que o estado é culpado pela situação presente mina o fato de que a seca é, em verdade, um problema de ordem nacional, e não apenas estadual, que está afetando o suprimento nacional de energia e o transporte fluvial”.

Por fim, Alckmin propõe que a ONU faça uma "retratação das informações dadas à população de São Paulo" pela relatora especial. E adverte que se uma correção não for feita, ele será forçado a crer que a relatora especial incarna a própria posição da ONU sobre essa questão e, então, ele ficaria em dúvida sobre a capacidade da organização para realizar a Cúpula do Clima e "demonstrar propriedade, criatividade e liderança sobre o tema”.

Datafolha

Apesar do que diz Alckmin, pesquisa recente feita pelo Datafolha mostrou que os paulistanos parecem compartilhar das mesmas ideis da relatora especial da ONU. No levantamento, 75% das pessoas disseram que os problemas da água poderiam ter sido evitados e quase metade considera ruim ou péssima a gestão da crise hídrica pelo governo paulista. Veja abaixo:

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São Paulo – Durante passagem por São Paulo , há um mês, a portuguesa Catarina de Albuquerque, relatora especial para água e saneamento da ONU, atribuiu o drama hídrico vivido pelo paulista à inoperância do poder público, em especial do governo do Estado que, segundo ela, não investiu o suficiente para garantir oferta de água para todos.

Geraldo Alkmin não gostou nada da crítica pública. Em ofício enviado no começo de setembro ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o governador adota um tom pouco amigável para pedir “correção” das declarações da relatora.

Na carta, obtida pelo blog do jornalista Fernando Rodrigues, o governador chega, inclusive, a questionar a capacidade da entidade em realizar a Cúpula do Clima, evento focado em conter a ameaça do aquecimento global, que ocorreria dali a alguns dias.

Alckmin classificou as declarações como uma “violação de conduta de um representante das Nações Unidas" e elencou três situações que julgou inapropriadas.

A primeira, segundo ele, é de que durante a visita à São Paulo, a relatora especial não se encontrou com representantes do governo ou da Sabesp, tampouco teria demonstrado interesse em receber dados sobre a situação da crise presente.

Em segundo lugar, continuou Alckmin, as declarações da relatora foram feitas às vésperas das eleições estaduais com o “objetivo de inflamar as campanhas, representando uma tomada de posição política das Nações Unidas", o que segundo ele implica quebra do código de conduta da entidade.

Em seguida, Alckmin acusa a relatora especial de incorrer em “erros factuais inadmissíveis”, que demonstram “espantoso desconhecimento da configuração da administração da água no Brasil”. Ele também rebate críticas aos baixos investimentos feitos no setor, especialmente na redução de perdas no sistema.

O governador defende ainda que a “alegação de que o estado é culpado pela situação presente mina o fato de que a seca é, em verdade, um problema de ordem nacional, e não apenas estadual, que está afetando o suprimento nacional de energia e o transporte fluvial”.

Por fim, Alckmin propõe que a ONU faça uma "retratação das informações dadas à população de São Paulo" pela relatora especial. E adverte que se uma correção não for feita, ele será forçado a crer que a relatora especial incarna a própria posição da ONU sobre essa questão e, então, ele ficaria em dúvida sobre a capacidade da organização para realizar a Cúpula do Clima e "demonstrar propriedade, criatividade e liderança sobre o tema”.

Datafolha

Apesar do que diz Alckmin, pesquisa recente feita pelo Datafolha mostrou que os paulistanos parecem compartilhar das mesmas ideis da relatora especial da ONU. No levantamento, 75% das pessoas disseram que os problemas da água poderiam ter sido evitados e quase metade considera ruim ou péssima a gestão da crise hídrica pelo governo paulista. Veja abaixo:

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