AGU vai apurar vazamento que citou Bolsonaro em caso Marielle
Advogado-geral da União argumenta que a possível participação de agentes públicos no vazamento pode implicar em improbidade administrativa
Reuters
Publicado em 31 de outubro de 2019 às 09h27.
Última atualização em 31 de outubro de 2019 às 11h10.
São Paulo — A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu que a Procuradoria-Geral da União (PGU) investigue o vazamento do porteiro do condomínio em que o presidente Jair Bolsonaro tem casa no Rio de Janeiro, no qual afirmou que um dos acusados da morte da vereadora Marielle Franco entrou no local dizendo que ia à residência do presidente, então deputado federal.
No documento, o advogado-geral da União, André Mendonça, lembra que a investigação sobre o assassinato da vereadora do PSOL e de seu motorista, Anderson Gomes, em março do ano passado corre em segredo de Justiça. O depoimento do porteiro foi revelado em uma reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, na noite de terça.
Mendonça argumenta que a possível participação de agentes públicos no vazamento pode implicar em improbidade administrativa e que a citação a Bolsonaro pode ferir a Lei de Segurança Nacional, que prevê que é crime "caluniar ou difamar" o presidente da República.
"Determino ao procurador-geral da União promover a instauração de procedimento prévio para coleta de informações a fim de averiguar a prática de ato de improbidade administrativapor agente público e eventuais partícipes", afirma o documento assinado pelo AGU.
A PGU é um órgão vinculado à Advocacia-Geral da União.
De acordo com o depoimento do porteiro, Élcio Queiroz --acusado de dirigir o carro usado no assassinato de Marielle-- entrou no condomínio dizendo que ia à casa de Bolsonaro e teve a entrada autorizada pelo "seu Jair". Queiroz, no entanto, teria se dirigido à residência de Ronnie Lessa, apontado como autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson e que mora no mesmo condomínio de Bolsonaro.
Na quarta-feira, o Ministério Público estadual do Rio de Janeiro, que comanda a investigação do assassinato, disse que o porteiro mentiu em seu depoimento e que foi Lessa quem autorizou a entrada de Queiroz no condomínio.
Em resposta à reportagem do Jornal Nacional, Bolsonaro negou ter autorizado a entrada de Lessa e atacou a Globo, acusando a emissora de constantemente infernizar sua vida, além de acusar o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), de ter vazado a investigação, o que o governador negou.