Abstenção de 29,2% surpreende o Planalto, que avalia que eleitor não embarcou de vez no bolsonarismo
Estavam aptos a votar no segundo turno 33.996.477 eleitores, dos quais 9.947.369 não compareceram às urnas
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 28 de outubro de 2024 às 16h34.
A taxa de abstenção de eleitores no segundo turno, que chegou a 29,2% segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral ( TSE ), surpreendeu positivamente auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmaram à EXAME técnicos do governo.A interpretação, relataram as fontes ouvidas pela reportagem, foi de que embora o PT e a esquerda tenham ido mal, não houve uma vitória acachapante do bolsonarismo nas urnas. Nas contas do QG de Lula, um terço da população se absteve, isto é, rejeitou petistas, bolsonaristas e até mesmo políticos de centro.
A disputa por votos ocorreu em 51 municípios brasileiros, sendo 15 capitais.Estavam aptos a votar 33.996.477 eleitores, dos quais 9.947.369 não compareceram às urnas, segundo os dados do TSE.
No primeiro turno, a taxa de abstenção foi de 21,68%, segundo a Justiça Eleitoral. A avaliação entre auxiliares de Lula é de que ajustes na comunicação do governo e um compromisso com a responsabilidade fiscal são sinais importantes que podem mudar expectativas e ajudar na melhora do ambiente de negócios. E, com isso, atrair parte desse eleitorado que rejeitou a classe política nas eleições municipais.
A mobilização petista em Fortaleza, única capital conquistada pelo partido na eleição , também foi comemorada pelo Planalto. Na capital do Ceará, a taxa de abstenção do primeiro para o segundo turno subiu de 15,52% para para 15,84% e ficou bem abaixo das médias nacionais nos dois turnos.
A vitória na capital nordestina fortaleceu o ministro da Educação, Camilo Santana, que pediu licença do posto para se envolver diretamente no processo eleitoral e evitar uma guinada na liderança política de Fortaleza.
Outro ponto de atenção entre os líderes do PT é a necessidade de renovação e formação de novos lídere s que da esquerda ou da centro-esquerda. Segundo um auxiliar de Lula, o tema tem sido debatido internamente e há preocupação com o futuro das legendas sem a figura de Lula.
Reforma ministerial
Como mostrou à EXAME, o fim das eleições municipais reacendeu o debate no Palácio do Planalto sobre uma reforma ministerial que deve ser feita por Lulano início do próximo ano. A tendência, segundo auxiliares do petista, é de que a dança das cadeiras não seja tão ampla quanto se especula.Somente pastas importantes e com orçamento significativo têm sido cobiçadas pelos partidos de centro.
O principal alvo é o Ministério da Saúde, que deve ir para uma das legendas do Centrão. O resultado das eleições municipais fortaleceu o PSD e o MDB, que passaram a governar, respectivamente, 37,3 milhões e 35,6 milhões de habitantes. A escolha de quem comandará o segundo maior orçamento da Esplanada dos Ministérios, entretanto, pode ser definida após o processo de sucessão da Câmara dos Deputados.
Até o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é cotado para a Saúde. O eventual embarque de Lira no governo garantiria apoio político na Câmara e seria um forte golpe no partido comandado pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI), aliado de primeira hora do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Outra mudança cogitada por Lula é na Secretaria de Relações Institucionais, chefiada atualmente por Alexandre Padilha. A coordenação política do governo feita por Padilha tem sido criticada dentro do Planalto e por partidos da base aliada. Uma alternativa que ganhou força entre auxiliares de Lula é deslocar o atual ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, para o posto.
Outras duas mudanças são consideradas por Lula em fevereiro: na Secretaria de Comunicação da Presidência da República e na Secretária-Geral da Presidência da República.
Os titulares das pastas, Paulo Pimenta e Márcio Macedo, voltariam para a Câmara dos Deputados e dois petistas assumiriam os postos. Os nomes de Gleisi Hoffmann, presidente do PT, e do deputado federal Rui Falcão são cotados para a Secretaria-Geral. Para a Secom, Lula ainda não escolheu o substituto.