A dança das cadeiras no governo Dilma após a queda do 5º ministro
Com exceção de Nelson Jobim, os outros quatro ministros deixaram o governo após denúncias de irregularidades
Da Redação
Publicado em 23 de agosto de 2012 às 20h42.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h31.
São Paulo – Pedro Novais, do Turismo, é o quinto ministro do governo Dilma a deixar o cargo. Após denúncias de irregularidades, apresentadas em duas reportagens da Folha de S. Paulo, sua situação no Planalto ficou insustentável, e ele pediu demissão nesta quarta-feira. Em uma das reportagens, Novais é acusado de pagar com dinheiro público o salário de sua governanta. Ele tentou contornar a situação e chegou a declarar que se tratava de uma secretária para assuntos oficiais. Outra notícia mostrava que a mulher do ministro usa regularmente um funcionário da Câmara dos Deputados como motorista particular. Até o início da noite desta quarta-feira não havia a definição sobre o novo titular do Turismo.
O nome de Palocci para a Casa Civil trouxe certa empolgação para o governo. Afinal, tratava-se de um nome forte para chefiar o principal ministério do governo Dilma, aquele que cuidaria dos programas que são a menina dos olhos da presidente, além de realizar as articulações políticas. Entretanto, denúncias publicadas pela imprensa apontaram a multiplicação do patrimônio de Palocci nos meses que antecederam a sua nomeação. O valor de seus bens cresceu 20 vezes em cinco anos. O político não resistiu à pressão das investigações e deixou o cargo em junho deste ano. A convite de Dilma, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) assumiu a pasta.
Alfredo Nascimento, ministro dos Transportes, protagonizou uma das principais crises do governo Dilma. A tensão começou depois de denúncias sobre um suposto esquema de superfaturamento em obras. O escândalo envolvia servidores públicos e a cúpula do ministério. Poucos dias depois da reportagem, publicada pela revista Veja, o jornal O Globo publicou nova denúncia, desta vez, envolvendo o filho do ministro. Segundo a revista, o arquiteto Gustavo Morais Pereira, de 27 anos, é suspeito de enriquecimento ilícito. O patrimônio de uma de suas empresas cresceu 86.500% em apenas dois anos. Investigações em curso buscam indícios de repasse de verbas do ministério para a empresa. Nascimento deixou a pasta em julho e foi substituído pelo economista Paulo Sérgio Passos, que era secretário executivo do ministério.
No começo de agosto, quem dançou foi o ministro da Agricultura, Wagner Rossi. Este saiu levando consigo uma coleção de denúncias. Ele foi acusado por Oscar Jucá Neto, ex-funcionário da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), de envolvimento em acertos ilegais entre o ministério e empresas. Reportagem da revista Veja revelou ainda que o lobista Júlio Fróes atuava em uma sala do prédio do ministério, intermediando negócios e licitações para defender os interesses de empresas nos contratos. Rossi também foi acusado de receber propina em uma licitação. Finalmente, uma reportagem do jornal Correio Braziliense afirmou que o ministro usou algumas vezes o jatinho de uma empresa privada. O deputado Mendes Ribeiro (PMDB-RS) substituiu Rossi uma semana depois de sua demissão.
Nelson Jobim, da Defesa, pediu demissão de seu cargo em agosto. Ele foi o único que não saiu do governo por causa de denúncias de irregularidades. A atuação de Jobim já estava bastante desgastada, dada uma série de declarações polêmicas do ministro e reclamações sobre seus colegas e parlamentares. Um exemplo é a confissão de que ele havia votado em José Serra nas eleições presidenciais. Outro evento que tornou a situação de Jobim ainda mais desconfortável foi o de homenagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Na ocasião, durante seu discurso, Jobim citou o dramaturgo Nelson Rodrigues ao afirmar que, antigamente, “os idiotas chegavam devagar e ficavam quietos”, enquanto hoje “eles perderam a modéstia e é preciso tolerá-los”. A fala foi interpretada pelo governo como um recado. Jobim foi substituído pelo ministro das Relações Exteriores do governo Lula, Celso Amorim.
Além da saída de cinco ministros do governo Dilma, houve uma dança das cadeiras entre duas pastas: Relações Institucionais e Pesca. A mudança não teve a ver com denúncias, mas foi consequência da queda de Palocci, que era o grande articulador político. Diversos parlamentares criticaram a habilidade de Luiz Sérgio (PT-RJ) nas Relações Institucionais, afirmando que ele não tinha força política para lidar com os diálogos do governo com a base aliada e a oposição. Diante deste quadro, em junho, a presidente Dilma Rousseff optou por uma troca de cargos. Ideli Salvatti, (PT-SC), então ministra da Pesca, assumiu o cargo de Luiz Sérgio, que foi deslocado para a vaga de Ideli. Na foto, Luiz Sérgio aparece atrás de sua sucessora, Ideli Salvatti.