7 perguntas para a Bancada Ativista, que elegeu Sâmia Bomfim em SP
Coletivo está montando proposta para lançar um gabinete completo na eleição para o legislativo estadual neste ano
Luiza Calegari
Publicado em 29 de abril de 2018 às 08h00.
Última atualização em 29 de abril de 2018 às 08h00.
São Paulo - A Bancada Ativista, que apoiou a candidatura da vereadora Sâmia Bomfim ( PSOL ) em São Paulo, está com planos inovadores para a eleição deste ano: pretende apresentar todo o gabinete de seu candidato a deputado estadual, em uma proposta para trazer mais transparência ao processo eleitoral.
Segundo Daniela Teixeira, que conversou com EXAME, o nome do candidato ainda não está definido — mas deve ser alguém já filiado a um partido, uma vez que a janela partidária fechou em 7 de abril.
O coletivo atua com trabalho voluntário e, segundo a própria prestação de contas, está deficitário — já que os membros colocam dinheiro do próprio bolso para financiar a comida para as reuniões e as passagens de membros de outros locais.
Entenda quais são os planos e as propostas do grupo, para a eleição deste ano e no longo prazo:
Qual é o projeto da Bancada Ativista?
O movimento se enxerga mais como uma “confluência eleitoral”, baseada em propostas para eleger pessoas que já são ativistas em movimentos sociais, ambientais, de mobilidade, hackers, das causas de gênero e étnicas raciais, por exemplo. A ideia é viabilizar a candidatura de pessoas que já são de movimentos da sociedade civil, apoiá-las para que elas possam participar também da política institucional — que, na avaliação do grupo, tem representação sempre minoritária nos cargos eletivos.
Por que montar um movimento, e não um partido?
A justificativa para não montar um partido é clara: a Bancada é contra a obrigatoriedade da filiação partidária para participar das eleições. Apesar de respeitar a Constituição, o grupo tem como um de seus projetos lutar pelas candidaturas independentes.
Além disso, também pesaram nessa decisão as dificuldades para fundação de um partido, e o descrédito, por parte da população, sobre a atuação das legendas.
Qual o critério para aceitar novos membros? Vocês ajudam na preparação dos candidatos? De que forma?
Em resumo, qualquer pessoa que esteja interessada em participar da Bancada pode só chegar em uma reunião e começar a colaborar. Em relação às candidaturas, a coisa já fica mais complexa: em 2016, nas eleições municipais, a Bancada apoiou oito candidatos a vereador, e só uma foi eleita: Sâmia Bomfim, pelo PSOL.
A estratégia consistiu em apoiar as candidaturas já existentes que, de alguma forma, se encaixassem nas propostas da Bancada Ativista. O grupo atuava, assim, como uma campanha paralela, um lugar onde as pessoas podiam encontrar candidatos para apoiar.
Neste ano, quais são os planos para a eleição?
Uma eleição nacional é diferente de uma municipal, e o Bancada Ativista, que atua majoritariamente em São Paulo (SP), decidiu mudar a estratégia. A ideia agora é ter apenas um candidato a deputado estadual (ainda não há definição do nome e do partido), mas com a apresentação de toda a equipe que vai formar o gabinete do mandato, caso a pessoa seja eleita.
“É como se a gente levasse a nossa bancada, da sociedade civil, onde a gente se reconheça, para o Legislativo”, explica Teixeira. O movimento entende que é no Legislativo que a representação dos movimentos sociais é minoritária, e quer atacar de frente essa desproporcionalidade.
Como é a relação entre os participantes do movimento e o partido? Se a pessoa que se elegeu tiver que votar de acordo com a orientação do partido, por exemplo, e isso for contra o posicionamento do grupo em um determinado assunto, como a Bancada lida com esse conflito?
A experiência que o coletivo teve, até agora, foi com o mandato de Sâmia Bomfim, e a orientação foi clara: o mandato é dela, não da Bancada, segundo os membros do grupo. Por isso, há tanta conversa para afinar os objetivos antes da definição de apoio a alguma candidatura.
Para este ano, como a Bancada vai lançar a própria candidatura (e tem conversas próximas com PSOL e Rede, entre outros partidos), uma definição sobre o mandato será acordada com a sigla do candidato escolhido. Um dos tópicos caros ao movimento será a autonomia institucional, ou seja, o candidato eleito terá liberdade para votar nas propostas legislativas que forem acordadas com a Bancada.
De acordo com Teixeira, os partidos têm recebido bem essa proposta, até por terem entendido a necessidade de promover renovação e mais democracia aos processos internos.
Como o movimento é mantido?
A Bancada Ativista funciona com trabalho voluntário. Já fizeram um crowdfunding pontualpara pagar uma viagem a Belo Horizonte — eles conseguiram arrecadar 4,4 mil reais. Mas, no geral, são os próprios membros do movimento que financiam a compra de lanches para as reuniões, viagens, e outros pequenos gastos.
Os encontros são feitos em lugares públicos, ou em espaços de coworking cedidos por algum dos participantes. Na prestação de contas divulgada no site, o orçamento do movimento desde 2017 está deficitário. O que consta como “déficit” na planilha de prestação de contas é o dinheiro que foi colocado do próprio bolso por membros que participam do coletivo.
Muitos analistas já falam de um certo desencanto dos eleitores com a proposta de renovação política, inclusive citando a última minirreforma que favoreceu os candidatos que já têm mandato. A Bancada Ativista concorda com essa avaliação? Como estão se organizando para trabalhar com isso?
A avaliação da Bancada Ativista, na verdade, é mais abrangente: qualquer movimento de renovação política já iria enfrentar dificuldades financeiras, com ou sem reforma. Da forma como o processo eleitoral está configurado no Brasil, de acordo com a avaliação da Bancada, já é quase senso comum que “dinheiro compra cadeira”.
Assim, o grande desafio é subverter essa lógica, construindo um mandato que venha da base, que mostre para os eleitores que é possível fazer política sem depender de financiamentos grandiosos.
O que conta, entre os movimentos de renovação, segundo a Bancada Ativista, é a criatividade e o potencial de se fazer conhecer por outras formas, sem depender de tempo de rádio ou TV, mas priorizando as conversas nas ruas, o contato com as demandas da população.