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Redação Exame
Publicado em 3 de agosto de 2024 às 07h00.
Por Marcelo Pagoti*
No momento em que o Brasil se prepara para o enfrentamento às mudanças climáticas, a irrigação tem sido uma resposta importante para enfrentar os desafios provocados pelo aumento da temperatura, pelas mudanças nos padrões de precipitações e o aumento da frequência de eventos climáticos extremos, particularmente as secas.
Os benefícios destes projetos são inegáveis. As soluções reduzem os impactos ambientais nas culturas e aumentam a eficiência agrícola e a produtividade no campo. Destaque-se que o uso de equipamentos de irrigação vem, gradativamente, ganhando espaço entre os agricultores brasileiros.
Os modelos no mercado incluem a irrigação de superfície - que não requer maquinários específicos e funciona a partir da disposição de água diretamente no solo cultivado-, a irrigação localizada -que dispersa gotículas de água em áreas limitadas-, e a irrigação por aspersão - que utiliza sprinklers, popularmente denominados ‘chuvas artificiais’ e que tem adesão a uma grande diversidade de culturas e eficiência no uso da água.
A crescente pressão sobre a produção agrícola brasileira, por sua vez, tem impulsionado a adoção de sistemas de irrigação inovadores neste mercado. Uma tendência de grande impacto são as plataformas de agricultura de precisão que permitem um controle mais rigoroso e eficiente do uso da água, otimizando recursos.
Da mesma forma, o aumento da conectividade impulsiona tecnologias de monitoramento remoto e em tempo real, para ajustes rápidos e informados. Por fim, com a digitalização no campo e devido às crescentes preocupações com a escassez de água, há inovações voltadas para a melhoria da gestão hídrica e integração de dados climáticos e do solo, promovendo uma irrigação mais sustentável e economicamente viável.
É imperativo, contudo, entender quem se beneficia destes projetos de irrigação no país, uma vez que se verifica, claramente, a desigualdade de acesso a estes sistemas entre as diferentes regiões do país. Os produtores do Sudeste se destacam como os que mais adotam sistemas de irrigação, com 50% da agricultura irrigada concentrada nesta região, em contraste com os produtores da região Centro-Oeste, onde 17% dos produtores fazem uso da tecnologia de irrigação. Chama especial atenção a região Nordeste, mais vulnerável ao aquecimento global.
Uma das projeções disponíveis, levando em conta o cenário mais crítico e o modelo mais rigoroso, aponta para a desertificação do semiárido nordestino até o fim do século. A região conhecida por secas extremas tem somente 20% de sua agricultura irrigada. Ainda mais desigual é a região Norte, onde apenas 6% dos agricultores se valem de sistemas de irrigação. Vale destacar que a infraestrutura restrita para distribuição de eletricidade nesta região também representa um desafio para a adoção generalizada de sistemas de irrigação.
Considerando que o valor do mercado de tecnologia de irrigação tem crescido de forma mais enfática é preciso entender que este tem sido um obstáculo relevante para muitos produtores excluídos.
Políticas públicas adequadas podem contribuir para modernizar e intensificar o uso de sistemas de irrigação na agropecuária e reduzir as desigualdades regionais.
Os contratos de concessão para projetos de irrigação voltados para a região Nordeste em avaliação pelo Governo Federal - envolvendo investimentos totais de R$ 6,1 bilhões - são essenciais para o país avançar neste caminho, fortalecendo a agricultura, impulsionando o desenvolvimento econômico, garantindo segurança alimentar e promovendo a sustentabilidade.
*Marcelo Pagoti é diretor de agro da consultoria Bip