Custos 'invisíveis' dos sistemas agroalimentares chegam a US$ 12 trilhões, segundo a FAO
Ao mesmo tempo que produzir alimentos gera benefícios à sociedade, os sistemas atuais se mostram insustentáveis do ponto de vista climático
Repórter de Agro
Publicado em 11 de novembro de 2023 às 06h58.
"Há dois lados na história dos sistemas agroalimentares. Ambas são verdadeiras." É assim que a Organização Mundial para Alimentação e Agricultura (FAO) começa o novo estudo ' O Estado da Alimentação e da Agricultura' sobre o custo real dos sistemas agroalimentares. Segundo a publicação da ONU, esse custo oculto é de 12,7 trilhões de dólares.
Como adianta o enunciado, ao mesmo tempo que produzir alimentos gera benefícios à sociedade, os sistemas atuais se mostram insustentáveis do ponto de vista climático. Por isso, o documento se dedicou a analisar a complexidade e as interdependências dos sistemas agroalimentares e como afetam o ambiente, a sociedade, a saúde e a economia através do que os autores chamam de verdadeira contabilidade de custos (TCA).
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Uma análise sobre custos 'invisíveis' nos sistemas agroalimentares, do campo à indústria,avaliou a contabilidade real de 154 países, investigando valores associados a critérios ambientais, sociais e de saúde.Em 2020, foram aproximadamente 12,7 trilhões de dólares em paridade de poder de compra (PPC), o equivalente a quase 10% do PIB mundial em termos de PPC."Isso inclui custos ambientais ocultos decorrentes de emissões de gases de efeito estufa e nitrogênio, uso de água e mudança no uso da terra; custos ocultos para a saúde devido a perdas de produtividade devido a padrões alimentares não saudáveis; e custos sociais ocultos relacionados à pobreza e perdas de produtividade associadas à desnutrição", escrevem os autores do relatório.
"O valor dos sistemas agroalimentares para a sociedade é provavelmente muito superior ao que é medido em produto interno bruto (PIB). O outro lado é que, devido a falhas de mercado, políticas e institucionais, os sistemas agroalimentares são frágeis e insustentáveis, contribuindo para as alterações climáticas e a degradação dos recursos naturais, ao mesmo tempo que não fornecem dietas saudáveis a todos", cita o estudo.
De acordo com a FAO, o valor revela a necessidade de considerar este montante na tomada de decisões para transformar os sistemas agroalimentares. Globalmente, 73% dos custos ocultos estavam associados a padrões alimentares que levaram à obesidade e doenças, a exemplo de alimentos ultraprocessados e com alto nível de açúcar. Os custos ocultos ambientais quantificados da agricultura representam mais de 20% dos 12,7 trilhões de dólares.
Países de baixa renda
Do lado social, estima-se que a renda das pessoas enquadradas como 'moderadamente pobres' que trabalham em sistemas agroalimentares precisa aumentar. A alta sugerida pela FAO é, em média, de 57% nos países de baixa renda e 27% nos países de renda média-baixa, para garantir que estejam acima da linha de pobreza, reduzindo assim a insegurança alimentar e a subnutrição.
"Os custos ocultos quantificados representam um fardo maior em relação à renda nacional em países de baixa renda, onde equivalem, em média, a 27% do PIB (em grande parte devido à pobreza e à subnutrição), em comparação com 11% em países de renda média e 8% em países de alta renda", indica o estudo.
Segundo o documento da FAO, há uma variação considerável de país para país na importância relativa dos custos ocultos ambientais, sociais e de saúde, "sublinhando a necessidade de produzir estimativas específicas de cada país, como um caminho para criação e implementação de políticas".
Do macro ao micro
Embora o estudo não apresente soluções específicas para reverter o montante alocados nos sistemas agroalimentares atuais, a FAO preparou 5 pontos para que os países passem a compreender os sistemas agroalimentares. São eles:
- Estimativas a nível nacionalsobre os custos ocultos dos sistemas agroalimentares nas dimensões ambiental, social e de saúde;
- Complementar estimativas nacionais com dados mais precisos e desagregados, como a interpretação baseada em dados da FAO, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Banco Mundial;
- Cruzar a inteligência dos ministérios da agricultura, saúde, economia e pastas correlatas a fim de umacombinação de análises entre custo-benefício e custo-eficácia;
- Promover alavancas para políticas de reforma e investimentos com foco nos pilares de sustentabilidade;
- Ampliar as avaliações específicas de contabilidade de custos para permitir o monitoramento de reformas