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Agricultura de precisão: o que é e por que tem sido tão importante para a produção de alimentos

Entenda como esse conceito está transformando o futuro no campo, tornando a atividade agrícola mais eficiente, econômica e sustentável

Abordagem é um conjunto de tecnologias e ferramentas avançadas, baseadas em dados e sistemas de geoposicionamento, que permite ao produtor rural fazer um gerenciamento controlado e preciso das lavouras. (Martin Harvey/Getty Images)
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Publicado em 24 de junho de 2024 às 12h14.

Reconhecido como um gigante no cenário agrícola mundial, o agronegócio brasileiro vive um momento particular de transformação, alavancado pelo uso de tecnologia no campo. Sobretudo pela adoção crescente da agricultura de precisão (AP), o ganho de produtividade nos últimos anos é expressivo: em 2023, o agro bateu recordes de produção, com 15% de crescimento, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Um estudo da McKinsey & Company indicou que cerca de 50% dos agricultores do país já adotam ou estão dispostos a incorporar tecnologias agrícolas de precisão nas suas operações. Entre as grandes oportunidades para o futuro, a agricultura de precisão aparece em primeiro lugar na visão dos produtores, com um terço das respostas em um outro levantamento, da KPMG com a SAE Brasil.

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O país aposta tanto no potencial da AP para fortalecer sua posição como um dos maiores produtores de alimentos do mundo que até instituiu uma política nacional de incentivo à sua prática.

A Lei Nº 14.475, sancionada em dezembro de 2022, tem como diretrizes o apoio à inovação; a sustentabilidade ambiental, social e econômica; o desenvolvimento tecnológico; a ampliação de rede de pesquisa, desenvolvimento e inovação do setor; o estímulo à ampliação da rede e da infraestrutura de conexão de internet nas áreas rurais; a articulação entre entes públicos e setor privado; e a divulgação das linhas de crédito para financiamento da agricultura e pecuária de precisão.

O que é agricultura de precisão?

É um conjunto de tecnologias e ferramentas avançadas, baseadas em dados e sistemas de geoposicionamento, que permite ao produtor rural fazer um gerenciamento controlado e preciso das lavouras.

Com essa abordagem, em vez de lidar de modo uniforme com o cultivo (no planejamento de defensivos, fertilizantes e irrigação, por exemplo), o agricultor consegue trabalhar de forma localizada e personalizada cada ponto da propriedade agrícola, considerando a variabilidade do solo, como teor de nutrientes, compactação, produtividade e afins.

Que ferramentas e tecnologias são essas?

São combinados diversos recursos, entre eles o Sistema de Posicionamento Global (GPS na sigla em inglês), para localização exata de equipamentos e geração de mapas de produtividade, por exemplo; Sistema de Informações Geográficas (GIS), para armazenar dados geográficos; e máquinas de aplicação localizada de insumos a taxas variáveis.

Os processos podem ser mesclados, entre outras coisas, com sensoriamento (sensores de solo, de plantas e remotos) para detectar a diversidade e mudanças do solo e do clima; drones (captura de imagens de alta resolução, identificação de pragas e deficiências nutricionais); Big Data (análise de dados); Internet das Coisas (integração de sensores e outros dispositivos); e inteligência artificial (análise de dados em tempo real para adequar a aplicação de recursos, previsão de safras, detecção de doenças nas plantas, piloto automático em máquinas).

Propriedade mapeada: com a AP, é possível gerenciar de modo único cada parte da propriedade. Na imagem, telemetria com tecnologia de taxa variável, da Jacto. (Jacto/Divulgação)

Como tem evoluído a AP no país?

A ideia de melhorar o rendimento da produção levando em conta as particularidades do solo não é recente, mas apenas as soluções avançadas existentes hoje possibilitaram que isso fosse colocado em prática de maneira efetiva.

Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a agricultura de precisão foi introduzida no Brasil em meados dos anos de 1990, porém, os avanços significativos só aconteceram a partir de 2000, quando o uso do GPS, elemento-chave no processo, foi amplamente difundido.

De lá para cá, a AP evoluiu rapidamente, com relatórios cada vez mais detalhados e incorporação de fábrica de tecnologias embarcadas no maquinário agrícola. Hoje, com o progresso acelerado da inteligência artificial, a agricultura de precisão está dando um salto ainda maior, com monitoramento preventivo das lavouras e equipamentos autônomos, por exemplo, que ajudam a tomar decisões mais assertivas e executar as operações em campo com exatidão.

Quais as vantagens da agricultura de precisão?

Essa abordagem personalizada traz valiosos benefícios, tendo em vista a demanda global pelo aumento da produção de alimentos. As vantagens incluem melhoria do planejamento e monitoramento das atividades de campo, otimização dos custos, minimização dos impactos ambientais negativos e, principalmente, aumento da eficiência produtiva.

Um levantamento feito pelo departamento técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul (Famasul) mostrou que, dependendo do nível tecnológico da propriedade antes da implantação da agricultura de precisão, a elevação da produtividade pode chegar a cerca de 30%, e quase um quarto, em média, dos insumos pode ser economizado.

A coleta e o processamento de dados de forma tão completa tornam mais segura a tomada de decisão dos produtores, que conseguem ter ações direcionadas, aplicando insumos somente onde é necessário realmente, conforme a necessidade do solo.

Isso evita o desperdício e reduz o uso de pesticidas e fertilizantes, conciliando produtividade e sustentabilidade. É possível também entender, dentro das etapas de crescimento das plantas, qual o momento ideal para todo tipo de atividade – como planejar o sistema de irrigação, por exemplo – ou distinguir automaticamente a presença de ervas daninhas no meio da plantação.

Tem “Waze” no campo: dispositivos de GPS – este da FARMPRO – são essenciais na agricultura de precisão. (FARMPRO/Divulgação)

Essa visão agiliza os processos, criando mapeamentos das operações de lavoura: onde e como fazer a semeadura, a distribuição de insumos e a colheita. Depois, máquinas automatizadas, com sistemas de orientação integrados a um GPS, executam as tarefas mapeadas de forma inteligente evitando falhas e sobreposições, como pulverizar defensivos duas vezes no mesmo local.

Um exemplo é o pulverizador autônomo da multinacional brasileira Jacto, que usa inteligência artificial na operação, aliada a câmeras, laser e sinal de GPS, para trafegar de forma independente dentro da cultura de citros. A máquina ainda conta os frutos enquanto executa a tarefa, dando uma estimativa de produtividade.

Se a propriedade tem mais de uma unidade, os equipamentos podem compartilhar os mapas de aplicação, para identificar onde o outro já aplicou e, assim, evitar sobreposições. E com a tecnologia de precisão de taxa variável, podem aplicar diferentes doses na área a ser pulverizada dependendo da necessidade identificada previamente, otimizando e reduzindo a aplicação de defensivos.

Piloto automático: máquinas agrícolas autônomas, como este pulverizador da Jacto, operam usando IA combinada com sensores, câmeras e GPS. (Jacto/Divulgação)

Esses e outros recursos cada vez mais avançados estão revolucionando a agricultura, fazendo dela uma atividade mais eficiente, econômica e sustentável, à medida que as informações sobre conceitos, técnicas e vantagens chegam ao produtor rural. Para os especialistas, este já é um caminho sem volta, dada a urgente necessidade de elevação da produção de alimentos no mundo.

Nos cálculos da Organização das Nações Unidas (ONU), a população mundial será de 9,7 bilhões de pessoas em 2050. Para compensar esse crescimento, segundo a agência de alimentos e agricultura da ONU (FAO), será preciso um aumento de 70 % na produção agrícola. É aí que a agricultura de precisão ganha força, como o caminho possível para o futuro superpovoado que nos aguarda.

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