Vice-presidente da Peoplesoft avalia fusão com J.D. Edwards
Em entrevista ao Portal EXAME, Philip Wilmington diz que áreas de manutenção, consultoria e vendas já estão funcionando juntas e que, em termos de tecnologia, o futuro da empresa de ERP já está traçado
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h22.
Apesar da consolidação na indústria de software de gestão (ERP, na sigla em inglês), ainda há muito espaço para crescimento, na opinião de Philip Wilmington, vice-presidente da Peoplesoft. Desde a compra da J.D. Edwards, em meados do ano, a Peoplesoft tornou-se a segunda maior fornecedora do mundo de ERPs. Está apenas atrás da alemã SAP. Wilmington esteve em São Paulo na segunda semana de novembro e conversou com exclusividade com o Portal Exame. Leia os principais trechos da entrevista.
Portal EXAME - Como o senhor avalia a fusão com a J.D. Edwards?
Philip Wilmington - Os resultados são ótimos. Estamos presentes em 12 000 empresas clientes e temos 11 000 funcionários. As áreas de manutenção, consultoria e vendas já estão funcionando juntas. Em termos de tecnologia, nosso futuro já está traçado. Temos produtos para as grandes, médias e pequenas empresas. Hoje, já somos a segunda maior empresa no segmento de software de gestão.
Portal - Mas o mercado de ERP não está saturado? O crescimento no segmento de pequenas e médias será suficiente?
PW - Bem, os primeiros sinais da maturidade do mercado estão aí: a consolidação é um deles. Mas ela tem acontecido principalmente em nichos, como o de compras ( e-procurement ) e recrutamento. Ainda há espaço para crescer com produtos mais complexos, que integrem todas as funções que os clientes querem utilizar. Além disso, a oportunidade nas empresas médias não pode ser desprezada. Uma empresa menor não quer dizer um cliente menos sofisticado. Ela tem uma demanda clara: quer programas fáceis de instalar. Temos mais de 4 000 clientes com faturamento abaixo de 300 milhões de dólares. Estamos melhorando nosso atendimento a esses clientes, treinando parceiros e aumentando o ecossistema de atendimento, para que não haja falhas de assistência técnica e distribuição.
Portal - Um artigo publicado este ano na Harvard Business Review argumentou que a tecnologia da informação não é mais um diferencial competitivo entre as empresas. O que o senhor pensa disso?
PW - A comoditização é fato em algumas áreas da tecnologia, como a da indústria de hardware em geral, de PCs e de infra-estrutura de telecomunicações. Mas isso não é verdade para tudo. Se fosse, as implementações de software seriam tarefas simples - e não o são. Há muitos investimentos na vanguarda intelectual. Quando você implementa um ERP, por exemplo, não está apenas mexendo com o código. Trata-se de transferir conhecimento de negócios. Há 18 meses, fizemos um retiro com os principais executivos da empresa, e levamos Jack Welch ( o ex-CEO da GE ) para fazer uma palestra. Ele disse que o conhecimento fixado nos softwares jamais deixará de ser uma vantagem competitiva.
Portal - A empresa corre o risco de ser surpreendida por pequenos inovadores, gente que é mais ágil e mais flexível do que uma empresa como a Peoplesoft?
PW - Vou lembrar um pouco do que aconteceu no auge da bolha, entre 1999 e 2000. Havia centenas de provedores especializados. Muitos deles se anunciavam como salvadores e causavam muito rebuliço no mercado. Mas a integração de seus produtos ao que os clientes tinham em casa era caríssima e complicada. Portanto, acredito que a inovação possa acontecer em pequenos negócios, mas é preciso ter a visão de uma grande companhia para torná-la realidade.
Portal -Por que a empresa resiste tanto à tentativa de compra pela Oracle?
PW - Por que temos foco no cliente e na qualidade de nossos produtos. Esses são valores que a Oracle não tem. Quando a tentativa de aquisição hostil foi anunciada, nossos clientes foram os primeiros a reclamar. E não foi apenas verbalmente: após a divulgação da intenção da Oracle, passamos a vender mais software. Ou seja, nossos clientes continuaram fazendo negócios conosco, nos dando um voto de confiança.
Como está a vida no Vale do Silício hoje? Os dias de agitação como na época da internet vão voltar?
PW - Hoje a tônica é a estabilidade. As taxas de desemprego chegaram a bater em 25%, o que nunca tinha acontecido na história. Mas na Peoplesoft sempre fomos conservadores. Acredito que o amadurecimento da indústria é uma coisa boa. Teremos poucas empresas, mas em posição de liderança. E isso não significa menos desafios. O PC era muito complexo 15 anos atrás. Hoje, é relativamente simples operar um computador. Queremos fazer o mesmo com os sistemas corporativos. Temos de transformar a tecnologia corporativa num Nintendo, um videogame que precisa estar apenas ligado na tomada para funcionar. Esse é o principal foco da empresa.
Portal - Asstock optionscaíram em descrédito, o Vale do Silício não é o lugar movimentado que era tempos atrás. O senhor ainda consegue atrair bons funcionários? Como?
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p class="MsoNormal">PW - Somos uma empresa de 3 bilhões de dólares, e isso sempre funciona como um atrativo para gente talentosa. Mas temos muitas áreas de negócio que crescem, especialmente em tecnologias como CRM e business intelligence. Estou há 11 anos na empresa e ainda me considero motivado. Somos uma empresa feita por funcionários que querem vencer. E as melhores pessoas querem vencer, sempre.