Seria o mundo sem privacidade um lugar melhor? Um ativista acredita que sim
Ativista Noah Dyer propõe ficar um ano inteiro sem privacidade, transmitindo a própria vida por streaming para quem estiver interessado
Da Redação
Publicado em 27 de agosto de 2014 às 17h04.
O ativista Noah Dyer quer provar ao mundo que viveríamos em um lugar melhor se todos, sem exceção, abdicassem da própria privacidade . E a crença nesta ideia aparentemente radical é tão forte que o professor norte-americano está propondo, através de uma campanha no Kickstarter, viver um ano expondo toda sua vida em um streaming ao vivo para quem estiver interessado, bem aos moldes do clássico O Show de Truman, de 1998.
A comparação da ideia, batizada de Um Ano Sem Privacidade , com o filme de Jim Carrey não é exagero. De acordo com a descrição escrita pelo ativista, você verá cada minuto da minha vida por um ano, cada e-mail, texto, mensagem no Facebook e qualquer outra comunicação que eu receber. A exposição se estenderia ainda a transações bancárias, sono, exercícios, sexo e tudo mais, sem exceção ou ao menos é o que ele diz.
Soa bizarro, mas a proposta serviu para gerar bastante discussão e um bom artigo no site americano The Atlantic vale ler aqui. A reportagem teve acesso inclusive à conta bancária e ao e-mail de Dyer, que passou os números, logins e senhas sem nem mesmo questionar, apenas para exemplificar como seria um mundo sem nenhuma privacidade.
O ativista acredita que segredos assim existem apenas para impedir que outras pessoas ajam como fariam se tivessem a informação completa. E ele não se refere apenas a cidadãos comuns: Dyer defende a total transparência de governos inclusive em casos considerados sigilosos, como reuniões secretas e, segundo The Atlantic, ainda vai além.
Para o ativista, diz a reportagem, nossa insistência pelo direito à privacidade acaba por fortalecer as pessoas de cima, como aconteceu no caso da Agência Nacional de Segurança dos EUA. Elas mantêm, em segredo, acesso a informações privilegiadas, e podem usá-las para obter vantagens ou para outros diversos fins diferentes. Se todos tivessem acesso a esses mesmos dados, afirma ele, a sociedade seria mais justa e igualitária, diz a matéria.
https://www.kickstarter.com/projects/noahdyer/a-year-without-privacy-noahdyertv/widget/video.html
Fora isso, Dyer defende também que, com o fim da privacidade, a criminalidade e outras mazelas seriam extintas, o que por um lado até faz sentido. Uma conta no banco ficaria aberta e qualquer um poderia roubá-la facilmente, é claro. Mas como todos estariam cientes do que os outros fazem, todos também saberiam quem foi o responsável pelo furto e o mesmo vale para outros crimes.
Mas é claro que há contrapontos para a teoria, que pode ser considerada utópica só por pensar em um mundo em que todos concordariam uns com os outros e agiriam honestamente. Nem todos estaria dispostos a, por exemplo, mostrar ao mundo a própria noite de núpcias ou falar publicamente da vida amorosa como o ativista promete fazer, para ficar apenas em dois exemplos comuns.
De qualquer forma, apesar da discussão gerada, a campanha de Dyer no Kickstarter dificilmente sairá do papel. Dos 300 mil dólares pedidos para cobrir custos de hospedagem de dados e aquisição de equipamentos, apenas 1.000 foram doados, e faltam apenas quatro dias para a arrecadação ser encerrada. O Show de Truman (ou Big Brother) da vida real, então, deve ficar para outra hora.