Parece Facebook, mas não é: são as redes educativas
Serviços ganham força nos Estados Unidos e desembarcam no Brasil. Professores e alunos podem fazer quase tudo ali, desde que seja educativo
Da Redação
Publicado em 1 de setembro de 2012 às 11h38.
Seus usuários trocam mensagens, compartilham fotos e comentam atividades recentes. Até parece o Facebook, mas não é. Nesse território, os usuários têm um único assunto: educação. São as chamadas redes sociais educativas. Elas funcionam como uma rede social virtual, mas são mais seguras – o que agrada professores e escolas – e tornam o aprendizado mais interessante para a geração que já nasceu conectada à internet. Além disso, permitem aos pais dar uma espiadinha na rotina escolar dos filhos. "Queremos tornar a escola mais colaborativa, divertida e social", diz Shivanu Shukla, fundador da Teamie, uma rede nascida em Singapura que já mira o mercado brasileiro.
Por enquanto, uma das poucas redes internacionais que disponibilizam conteúdo em português é a Edmodo, sucesso nos Estados Unidos. Nascida em 2008 no Vale do Silício, na Califórnia, já recebeu 47,5 milhões de dólares em investimento (25 milhões no último mês) e soma hoje mais de 9,8 milhões de usuários espalhados por quase 100.000 instituições de ensino. O número representa apenas a centésima parcela de usuários do Facebook, mas é considerado um feito e tanto em matéria de ambientes dedicados exclusivamente ao ensino. Conta Jeff O'Hara, um dos fundadores da plataforma: "A ideia surgiu enquanto eu trabalhava na área de TI de uma secretaria de educação. Vi que muitas redes sociais e sites de vídeo eram bloqueados, e comecei a pensar em alternativas. Percebi que a educação precisava de um espaço só seu."
O funcionamento da Edmodo, da Teamie e dos demais serviços nascentes é bastante parecido. Em geral, o professor se inscreve na plataforma – que pode ser gratuita ou paga, dependendo da empresa desenvolvedora e dos recursos oferecidos –, cria comunidades para os cursos que ministra em determinada instituição de ensino e, em seguida, "adiciona" seus alunos, franqueando o acesso deles à rede. A partir daí, em um ambiente restrito, é possível compartilhar mensagens, material didático, textos e livros e também criar fóruns de discussão. Tudo isso é exibido em uma espécie de linha tempo, bem semelhante à do Facebook. Os estudantes podem entregar trabalhos pela ferramenta, e o professor pode atribuir as notas ali mesmo. Para os docentes, é oferecida ainda uma biblioteca virtual, onde é possível organizar livros, textos e artigos interessantes a cada disciplina. Caso um estudante use a rede para fins não educativos, os professores têm autonomia para deletar comentários impróprios ou arquivos indesejados. "Sabemos que a segurança e a privacidade são imprescindíveis nesse campo da educação", diz Nic Borg, cofundador da Edmodo. De fato, o medo de perder o controle da situação é preocupação permanente dos docentes.
A bem-sucedida experiência internacional da Edmodo entusiasmou o professor de história Rodrigo Abrantes, do Colégio Joana D'Arc, de São Paulo. Desde o início do ano letivo, ele vem integrando a rede social a seus cursos. "Fiquei empolgado com a possibilidade de intercâmbio de ideias e compartilhamento de conteúdos e experiências em um ambiente virtual especificamente escolar", conta. O trabalho tem fluido bem, principalmente nos anos finais do ensino médio. "Em uma aula de atualidades, por exemplo, os livros didáticos ficam defasados rapidamente. Com a ajuda da internet, fica mais fácil compartilhar material complementar com os alunos." Entre as ferramentas que fazem mais sucesso nas aulas de Abrantes está o quiz, aquele jogo de perguntas e respostas. Se um ponto da matéria não foi bem assimilado pelos estudantes, o professor cria testes on-line que ajudam a fixar o conteúdo e, de quebra, treinar para o vestibular. "Não digo que eles me pedem para passar dever de casa, mas eles se empolgam mais em responder questões na internet do que no papel."
Estudantes e professores não são os únicos empolgados com as novas ferramentas. Estudiosos também veem com bons olhos as redes sociais educativas. "Esses sistemas permitem uma experiência educacional mais maleável, no sentido de que o professor pode adaptá-la segundo as necessidades da classe. Além disso, ela extrapola os muros da escola. O estudante passa a estar 'conectado' ao saber mesmo fora do período de aula", diz Christopher Quintana, especialista em tecnologia da educação da Universidade de Michigan. Outro ponto positivo: sites como o Edmodo permitem a participação dos pais, mantendo-os atualizado sobre as atividades escolares dos filhos. "Nosso objetivo é criar uma comunicação transparente entre família e escola para que toda comunidade escolar acompanhe de perto a evolução dos estudantes", diz Shivanu Shukla, da Teamie.
O entusiasmo dos especialistas com os serviços, contudo, não deve ser compreendido como aprovação total. "Tudo ainda é muito novo, e não houve tempo para a medição de impactos", diz Quintana. "É preciso evitar exageros, como avaliar que esta é a salvação para todos os males da educação." Em resumo: é preciso dar tempo ao tempo e às redes para avaliar a capacidade de inovação delas no campo da educação. O estudioso lembra ainda que nem todos os conteúdos se adaptam bem ao formato. "O professor precisa ter discernimento para saber quando alguma interação precisa ser real, não virtual."
Na esteira da Edmodo, outras redes vicejam. Há, por exemplo, serviços voltados ao ensino superior. É o caso do Lore. Criada por quatro jovens amigos, a rede já é acessada por estudantes de mais de 600 universidades, majoritariamente nos Estados Unidos. "Percebemos que, para fortalecer os laços sociais, existia o Facebook; para estreitar relações profissionais, o LinkedIn. E para as relações acadêmicas?", diz Hunter Horsley, criador do Lore. Não existia alternativa à vista. Ou os estudantes criavam comunidades fechadas no Facebook ou trocavam mensagens por meio de grupos de e-mail. "Mas era tudo improvisado", diz Horsley. O criador compara o Lore ao Facebook da fase original (mas sem a eleição da "garota mais quente", que marcou o nascimento do site de Mark Zuckerberg), quando só estudantes de Harvard podiam se cadastrar na plataforma universitária. Assim como Zuckerberg, Hunter abandonou os estudos e não chegou a concluir seu curso, na Universidade da Pensilvânia. Hoje, dedica-se exclusivamente ao negócio.
O lucro dessas redes pode vir de duas fontes: a cobrança de uma taxa de acesso ou a venda de acessórios. No caso da Edmodo, o dinheiro vem da venda de aplicativos educativos, comercializados em uma loja virtual nos moldes da AppleStore. As vendas ainda não estão liberadas para os usuários brasileiros, mas isso deve acontecer em breve. Já a Teamie cobra pelo acesso. A taxa é de 5,50 dólares (equivalente a cerca de 12 reais) por aluno ao mês.
Por aqui, a onda das redes sociais educativas já inspirou um negócio genuinamente brasileiro. O site Passei Direto foi idealizado por Rodrigo Salvador quando ele tinha apenas 17 anos. Seis anos depois, a ideia saiu do papel. Lançado em 4 de junho, já tem 110.000 usuários espalhados por 30 instituições de ensino. Para fazer parte, o usuário cria um perfil e seleciona a universidade e o curso do qual faz parte. Lá, encontra outros estudantes na mesma condição: a partir daí, começa o compartilhamento de arquivos e mensagens. Os professores até podem fazer parte rede, mas são identificados como qualquer outro usuário. Ou seja, o negócio é mesmo dedicado aos estudantes. E a um assunto: a educação.
Seus usuários trocam mensagens, compartilham fotos e comentam atividades recentes. Até parece o Facebook, mas não é. Nesse território, os usuários têm um único assunto: educação. São as chamadas redes sociais educativas. Elas funcionam como uma rede social virtual, mas são mais seguras – o que agrada professores e escolas – e tornam o aprendizado mais interessante para a geração que já nasceu conectada à internet. Além disso, permitem aos pais dar uma espiadinha na rotina escolar dos filhos. "Queremos tornar a escola mais colaborativa, divertida e social", diz Shivanu Shukla, fundador da Teamie, uma rede nascida em Singapura que já mira o mercado brasileiro.
Por enquanto, uma das poucas redes internacionais que disponibilizam conteúdo em português é a Edmodo, sucesso nos Estados Unidos. Nascida em 2008 no Vale do Silício, na Califórnia, já recebeu 47,5 milhões de dólares em investimento (25 milhões no último mês) e soma hoje mais de 9,8 milhões de usuários espalhados por quase 100.000 instituições de ensino. O número representa apenas a centésima parcela de usuários do Facebook, mas é considerado um feito e tanto em matéria de ambientes dedicados exclusivamente ao ensino. Conta Jeff O'Hara, um dos fundadores da plataforma: "A ideia surgiu enquanto eu trabalhava na área de TI de uma secretaria de educação. Vi que muitas redes sociais e sites de vídeo eram bloqueados, e comecei a pensar em alternativas. Percebi que a educação precisava de um espaço só seu."
O funcionamento da Edmodo, da Teamie e dos demais serviços nascentes é bastante parecido. Em geral, o professor se inscreve na plataforma – que pode ser gratuita ou paga, dependendo da empresa desenvolvedora e dos recursos oferecidos –, cria comunidades para os cursos que ministra em determinada instituição de ensino e, em seguida, "adiciona" seus alunos, franqueando o acesso deles à rede. A partir daí, em um ambiente restrito, é possível compartilhar mensagens, material didático, textos e livros e também criar fóruns de discussão. Tudo isso é exibido em uma espécie de linha tempo, bem semelhante à do Facebook. Os estudantes podem entregar trabalhos pela ferramenta, e o professor pode atribuir as notas ali mesmo. Para os docentes, é oferecida ainda uma biblioteca virtual, onde é possível organizar livros, textos e artigos interessantes a cada disciplina. Caso um estudante use a rede para fins não educativos, os professores têm autonomia para deletar comentários impróprios ou arquivos indesejados. "Sabemos que a segurança e a privacidade são imprescindíveis nesse campo da educação", diz Nic Borg, cofundador da Edmodo. De fato, o medo de perder o controle da situação é preocupação permanente dos docentes.
A bem-sucedida experiência internacional da Edmodo entusiasmou o professor de história Rodrigo Abrantes, do Colégio Joana D'Arc, de São Paulo. Desde o início do ano letivo, ele vem integrando a rede social a seus cursos. "Fiquei empolgado com a possibilidade de intercâmbio de ideias e compartilhamento de conteúdos e experiências em um ambiente virtual especificamente escolar", conta. O trabalho tem fluido bem, principalmente nos anos finais do ensino médio. "Em uma aula de atualidades, por exemplo, os livros didáticos ficam defasados rapidamente. Com a ajuda da internet, fica mais fácil compartilhar material complementar com os alunos." Entre as ferramentas que fazem mais sucesso nas aulas de Abrantes está o quiz, aquele jogo de perguntas e respostas. Se um ponto da matéria não foi bem assimilado pelos estudantes, o professor cria testes on-line que ajudam a fixar o conteúdo e, de quebra, treinar para o vestibular. "Não digo que eles me pedem para passar dever de casa, mas eles se empolgam mais em responder questões na internet do que no papel."
Estudantes e professores não são os únicos empolgados com as novas ferramentas. Estudiosos também veem com bons olhos as redes sociais educativas. "Esses sistemas permitem uma experiência educacional mais maleável, no sentido de que o professor pode adaptá-la segundo as necessidades da classe. Além disso, ela extrapola os muros da escola. O estudante passa a estar 'conectado' ao saber mesmo fora do período de aula", diz Christopher Quintana, especialista em tecnologia da educação da Universidade de Michigan. Outro ponto positivo: sites como o Edmodo permitem a participação dos pais, mantendo-os atualizado sobre as atividades escolares dos filhos. "Nosso objetivo é criar uma comunicação transparente entre família e escola para que toda comunidade escolar acompanhe de perto a evolução dos estudantes", diz Shivanu Shukla, da Teamie.
O entusiasmo dos especialistas com os serviços, contudo, não deve ser compreendido como aprovação total. "Tudo ainda é muito novo, e não houve tempo para a medição de impactos", diz Quintana. "É preciso evitar exageros, como avaliar que esta é a salvação para todos os males da educação." Em resumo: é preciso dar tempo ao tempo e às redes para avaliar a capacidade de inovação delas no campo da educação. O estudioso lembra ainda que nem todos os conteúdos se adaptam bem ao formato. "O professor precisa ter discernimento para saber quando alguma interação precisa ser real, não virtual."
Na esteira da Edmodo, outras redes vicejam. Há, por exemplo, serviços voltados ao ensino superior. É o caso do Lore. Criada por quatro jovens amigos, a rede já é acessada por estudantes de mais de 600 universidades, majoritariamente nos Estados Unidos. "Percebemos que, para fortalecer os laços sociais, existia o Facebook; para estreitar relações profissionais, o LinkedIn. E para as relações acadêmicas?", diz Hunter Horsley, criador do Lore. Não existia alternativa à vista. Ou os estudantes criavam comunidades fechadas no Facebook ou trocavam mensagens por meio de grupos de e-mail. "Mas era tudo improvisado", diz Horsley. O criador compara o Lore ao Facebook da fase original (mas sem a eleição da "garota mais quente", que marcou o nascimento do site de Mark Zuckerberg), quando só estudantes de Harvard podiam se cadastrar na plataforma universitária. Assim como Zuckerberg, Hunter abandonou os estudos e não chegou a concluir seu curso, na Universidade da Pensilvânia. Hoje, dedica-se exclusivamente ao negócio.
O lucro dessas redes pode vir de duas fontes: a cobrança de uma taxa de acesso ou a venda de acessórios. No caso da Edmodo, o dinheiro vem da venda de aplicativos educativos, comercializados em uma loja virtual nos moldes da AppleStore. As vendas ainda não estão liberadas para os usuários brasileiros, mas isso deve acontecer em breve. Já a Teamie cobra pelo acesso. A taxa é de 5,50 dólares (equivalente a cerca de 12 reais) por aluno ao mês.
Por aqui, a onda das redes sociais educativas já inspirou um negócio genuinamente brasileiro. O site Passei Direto foi idealizado por Rodrigo Salvador quando ele tinha apenas 17 anos. Seis anos depois, a ideia saiu do papel. Lançado em 4 de junho, já tem 110.000 usuários espalhados por 30 instituições de ensino. Para fazer parte, o usuário cria um perfil e seleciona a universidade e o curso do qual faz parte. Lá, encontra outros estudantes na mesma condição: a partir daí, começa o compartilhamento de arquivos e mensagens. Os professores até podem fazer parte rede, mas são identificados como qualquer outro usuário. Ou seja, o negócio é mesmo dedicado aos estudantes. E a um assunto: a educação.