Operações de Datasul e Totvs permanecem independentes
Apesar da fusão, os canais de vendas continuarão separados e poderão até concorrer entre si. Executivos da Datasul também serão mantidos nos mesmos cargos
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h35.
Com uma bandeira branca na mão e um abraço no fundador da Datasul - Miguel Abuhab -, o presidente da Totvs, Laércio Cosentino, abriu na manhã desta quinta-feira (24/07) a entrevista coletiva para falar sobre a união com antiga rival, que vai criar a maior empresa de software de gestão do Brasil, com cerca de 40% do mercado. "Foram anos de 'elogios' de uma empresa para a outra, mas essa bandeira é necessária. Seremos mais fortes juntas", disse.
Em uma transação avaliada em 700 milhões de reais, as duas empresas vão unificar suas operações e atingirão juntas 17,5% de participação no mercado de software da América Latina, ultrapassando a Oracle. Parte dos recursos para a aquisição pode vir do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de onde a Totvs pediu duas linhas de crédito de 200 milhões de reais cada uma.
Mas o resumo sobre o negócio que criou a maior gigante de software do país é que nada muda, ao menos por enquanto. A Datasul vai manter sua sede em Joinville, seu presidente, o catarinense Jorge Steffens, suas franquias de desenvolvimento e vendas. Vai, inclusive, continuar competindo com produtos da Totvs. "Teremos agora a Ambev do software", disse Cosentino.
O modelo consolidado vai manter diversas marcas para atender o mercado nas duas grandes maneiras em que ele pode ser fatiado: seja por tamanho do cliente, seja por ramo de atuação. A Totvs é tradicionalmente forte em pequenas e médias empresas, e a Datasul, em médias e grandes - além do grande foco em verticais, com as dez aquisições que realizou desde o IPO, no primeiro semestre de 2006.
Um dos maiores desafios das duas empresas nesse momento será fazer uma comunicação eficiente aos funcionários e ao mercado, de fato a minimizar os choques. "Os funcionários foram pegos de surpresa, logo após o almoço - horário em que foi divulgado o fato relevante ao mercado na quarta-feira (22/07). Foi um choque, mas sabemos que diante do potencial de crescimento, os funcionários passarão a ter um brilho a mais nos olhos", disse Steffens, da Datasul.
A Totvs também acredita que a forma como a união será conduzida - depois de uma negociação que durou cerca de 30 dias - é mais eficiente do que uma oferta hostil de aquisição. "Empresa de software é empresa de capital intelectual. Queremos ao máximo preservar não só os interesses de cada uma delas como criar um novo momento para as companhias, o que não seria possível com uma oferta hostil", afirma José Rogério Luiz, diretor de relação com investidores da empresa.
A transação foi aprovada pelos conselhos de administração das duas empresas, e agora seguem para as assembléias de acionistas, que devem acontecer no dia 19 de agosto. A aprovação é tida como certa. Juntas, as duas empresas somam mais de 21 000 clientes de ERP, mais de 9 000 funcionários e receita bruta de 778 milhões de reais. O crescimento esperado para 2008 sobre o ano passado é de cerca de 20%.
Repercussão no mercado
Segundo os analistas, a união de Datasul e Totvs fortalecerá a presença do Brasil no mercado internacional de software, especialmente na América Latina.
Entre demais empresas que atuam no ramo de sistemas empresariais, a repercussão também foi positiva. Em nota à imprensa, a SAP informou acreditar "que os movimentos de consolidação do mercado de TI e ERP no Brasil não são recentes e só comprovam o amadurecimento do setor e dos clientes brasileiros, cada vez mais em busca de fornecedores sólidos e com capacidade de desenvolvimento de soluções globais".
Para a Virtus, a movimentação confirma o aquecimento do mercado nacional de TI. "A Virtus vê com bons olhos a fusão de Totvs/Datasul porque acredita que o país necessita de organizações empresariais fortes para viabilizar uma aumento da nossa relevância no cenário internacional", disse o CEO da empresa, André Fonseca, em nota. A Virtus é fruto da união de oito empresas de software.