Tecnologia

Empresas estão mais dispostas a inovar, mas problemas persistem

Pesquisa da CNI mostra que 81,2% das indústrias de todos os portes pretendem investir mais em pesquisa e desenvolvimento

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h22.

A indústria brasileira quer investir mais em inovação tecnológica, mas a falta de estrutura e de políticas públicas adequadas retardam a transformação dessas intenções em fatos. A conclusão é da 5ª edição do estudo "Indicadores de Competitividade Industrial", elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com o Sebrae. Realizada entre outubro de 2004 e março deste ano, a pesquisa constatou que 81,2% das 743 empresas consultadas pretendem investir em inovação neste ano. Em 2003, a parcela era de 70,7%.

"O principal resultado da pesquisa é mostrar que a inovação está se tornando o elemento principal das empresas", afirma Maurício Mendonça, coordenador de Competitividade Industrial da CNI. Segundo Mendonça, isso significa o início de um novo ciclo para a indústria brasileira. A abertura comercial transformou a década de 90 naquela em que as empresas procuraram cortar custos e aumentar a qualidade dos produtos para sobreviver à concorrência dos importados. Agora, com padrões de qualidade e produtividade estáveis, as empresas passam a se preocupar com a inovação como diferencial para competir no mercado externo.

Entre os vários aspectos da inovação, o que mais concentra a atenção dos empresários é o desenvolvimento de novos processos ou produtos. A pesquisa mostra que 58,7% das microempresas pretendem investir nessa área em 2005, contra 64,9% das pequenas, 69,1% das médias, e 76,5% das grandes. Em 2003, esses percentuais eram de 36%, 53,7%, 61,7% e 67,3%, respectivamente.

A disposição de transferir tecnologia de outros países também aumentou bastante; Em 2003, somente 5,3% das micros, 9,5% das pequenas, 9,4% das médias e 24,5% das grandes investiram na aquisição de tecnologia do exterior. Neste ano, as taxas saltaram para 15,5%, 21,2%, 22,1% e 31,6%, respectivamente.

Além de aumentar o número de empresas dispostas a investir em pesquisa e desenvolvimento, a CNI encontrou uma parcela maior de indústrias que tencionam aumentar o volume de recursos financeiros para essa área. Em 2003, a maior parte das empresas de qualquer porte aplicava entre 0% e 1% do faturamento bruto em P&D. Neste ano, embora a maioria dos respondentes continue nesta faixa de aplicação de recursos, cresceu a parcela dos que pretendem investir de 1% a 2% das receitas. Entre as micros, essa fatia cresceu de 14% para 19,7%; nas pequenas, de 20,3% para 27,1%; nas médias, de 23,1% para 29,1%; e nas grandes, de 22% para 28,4%.

Gargalos

Os resultados do estudo da CNI contrastam fortemente com a Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em junho deste ano. Trabalhando com dados de 2003, a Pintec pesquisou 72 000 empresas e constatou que a taxa de inovação número de empresas que lançaram novos produtos ou criaram novos processos passou de 31,5% para 33,3% entre 2001 e 2003.

Segundo Mendonça, não é possível uma comparação direta entre a Pintec e o estudo da CNI. A primeira focaria mais processos de pesquisa, além de trabalhar com investimentos efetivamente realizados pelas empresas. Já a CNI pesquisou a intenção de aplicar recursos em P&D. Além disso, a pesquisa seria mais focada em desenvolvimento de produtos.

A distância entre as intenções e o que as empresas realmente implementam é ampliada, ainda, por problemas estruturais, de acordo com Rodrigo Costa da Rocha Loures, presidente do Conselho de Política Industrial e Desenvolvimento Tecnológico da CNI. "Cresceu a consciência da indústria sobre a necessidade de investimentos em inovação, mas é preciso que o ambiente institucional também seja inovador", diz.

A lentidão no registro de patentes é um exemplo, de acordo com Loures. Enquanto, em outros países, o patenteamento de uma invenção demora apenas alguns meses, no Brasil, o processo pode alcançar oito anos. Outro exemplo é a ainda esporádica interação entre as empresas e as universidades e centros públicos de pesquisa. "A formação de doutores pelas universidades não está conectada às demandas das empresas", diz.

A falta de linhas especiais de financiamento para projetos de inovação também atrapalha a indústria, segundo Loures. No Brasil, cerca de 60% dos investimentos em P&D são realizados pelo governo, enquanto a iniciativa privada arca com o restante. Em países desenvolvidos, a relação é inversa.

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