Minoritários discutem para fusão da Oi com Portugal Telecom
A Tempo Capital entrou nesta segunda-feira com pedido público de procuração na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para representar outros minoritários da Oi
Da Redação
Publicado em 18 de março de 2014 às 08h33.
Acionistas minoritários da Oi estão aumentando a articulação contra os termos da fusão proposta com a Portugal Telecom e vão tentar barrar a operação na assembleia marcada para dia 27.
A Tempo Capital entrou nesta segunda-feira com pedido público de procuração na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para representar outros minoritários da Oi na assembleia.
A reunião vai deliberar sobre o laudo de avaliação dos ativos da Portugal Telecom para fins de aumento de capital da Oi. O laudo elaborado pelo Santander foi alvo de críticas dos minoritários, que apontam "superavaliação" dos ativos da companhia portuguesa, o que segundo eles tem como consequência uma maior diluição da fatia da Oi.
Segundo Domenica Noronha, sócia da Tempo Capital, o objetivo do pedido público de procuração é facilitar a participação dos minoritários na assembleia, de forma a se opor à aprovação do laudo, peça essencial para a fusão com a PT.
"Nosso objetivo é formar um grupo de acionistas que se posicione contrariamente a esse laudo (de avaliação) e a essa operação (de aumento de capital)", disse Domenica à Reuters.
"Os solicitantes entendem que esta operação é uma tentativa do grupo de controle de obter benefícios particulares às custas da companhia e de seus acionistas minoritários, mediante o compartilhamento de dívidas de responsabilidade exclusiva do grupo de controle com os demais acionistas da companhia", afirmou a gestora no documento enviado à CVM.
O pedido público de procuração foi feito em conjunto com o fundo norte-americano Vinson Fund, na qualidade de titulares de ações que representam 0,5 por cento do capital social da Oi e de 1,8 por cento do capital votante, segundo aviso aos acionistas.
Os esforços dos minoritários ocorrem em meio à disputa na CVM sobre o direito dos controladores de votar na assembleia que irá deliberar sobre o laudo de avaliação. Em novembro, a Tempo Capital alegou que os controladores não poderiam ter direito a voto devido a potencial conflito de interesses.
A autarquia emitiu no início do ano parecer favorável à gestora, mas a Oi entrou com recurso, que ainda será avaliado pelo colegiado da autarquia. A expectativa é que a CVM se posicione sobre a questão antes da assembleia da Oi.
"Historicamente, a CVM tem sido sensível a esse tema; acreditamos que haverá um posicionamento antes da assembleia", disse à Reuters Mauro Cunha, presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec).
Divergência de informações Também nesta segunda-feira, a Amec publicou carta na qual acusa a Oi de divulgar informações divergentes para os mercados local e estrangeiro.
A Amec citou o fato relevante publicado pela Oi em 10 de fevereiro, no qual a empresa menciona a "garantia firme" de bancos contratados para a operação de aumento de capital.
No comunicado, a Oi afirmou que existia um sindicato de instituições nacionais e internacionais de primeira linha que assumiria compromisso para subscrição do valor de 6 bilhões de reais do aumento de capital.
Mas na semana passada, a Portugal Telecom enviou documento à Securities and Exchange Comission (SEC) no qual disse não haver acordo formal com os bancos. "Até o momento deste comunicado, a Oi ainda não fechou nenhum acordo com quaisquer subscritores das ações da Oi que os obrigaria a comprar ações no aumento de capital", disse a companhia no relatório enviado à SEC.
A Amec criticou a divergência das informações, afirmando que "não se pode compreender a diferença de tratamento entre o acionista local e o estrangeiro, o que mais uma vez denota desrespeito ao regulador brasileiro". Procurada, a Oi não se manifestou sobre as acusações.
Domenica, da Tempo Capital, afirmou ser comum em operações semelhantes intenção de subscrição, lembrando, no entanto, que a confirmação dessa subscrição só se dá no momento da operação, no início do processo de bookbuilding.
Caso o aumento de capital seja aprovado na assembleia, o valor da oferta pública será determinado em 16 de abril, com liquidação financeira no dia 23.
Apesar da grita dos minoritários, consultores defendem a operação. Na quinta-feira, a consultoria global Glass, Lewis & Co emitiu um documento recomendando aos acionistas da Oi voto favorável à fusão, afirmando que esta pavimenta o caminho para uma capitalização da companhia.