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"Jejum de internet", o remédio pioneiro para uma dependência crescente

Método 'mistura o tratamento com fazer-lhes experimentar o mundo real, o trabalho em grupo e o contato com a natureza

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Da Redação

Publicado em 11 de outubro de 2014 às 10h53.

Oito dias de acampamento na floresta sem tocar um computador nem um smartphone - um "jejum de internet" que serve como tratamento pioneiro no Japão para uma dependência que afeta cada vez mais japoneses, especialmente os jovens.

Uma dezena de adolescentes participou de forma voluntária no primeiro programa deste tipo iniciado no país asiático em agosto, e que antes só tinha sido testado na vizinha Coreia do Sul, explicou à Agência Efe o coordenador do projeto, o psiquiatra Susumu Higuchi.

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Os jovens se alojaram em cabanas perto do monte Fuji, fizeram trilhas e outras atividades ao ar livre e prepararam suas próprias refeições, tudo isso acompanhados de três psicólogos e no marco de um tratamento de grupo.

O método "mistura o tratamento com fazer-lhes experimentar o mundo real, o trabalho em grupo e o contato com a natureza", detalhou Higuchi, diretor do Centro Médico Nacional Kurihama para Dependências do Japão.

Os participantes apresentavam sintomas de dependência à internet, definida pelo especialista como "um uso excessivo ou compulsivo" de dispositivos como computadores e smartphones, e acompanhado de consequências psicológicas, sociais ou educativas.

Em sua chegada ao acampamento, os adolescentes "eram muito reticentes a interagir entre si e com os psicólogos", mas ao término do mesmo "se mostraram falantes, extrovertidos e desenvolveram laços íntimos entre eles", destacou o coordenador.

Além disso, cada participante elaborou seu próprio plano para "conviver com os computadores e a internet de forma saudável", relatou Higuchi, que, no entanto, considera que "ainda é cedo" para avaliar os resultados do programa, "cujos verdadeiros efeitos serão vistos no longo prazo".

O "acampamento sem internet" começou por iniciativa do Ministério da Educação, Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia do Japão, por conta de alarmantes estatísticas sobre a dependência à internet entre os jovens divulgadas no ano passado.

Uma consulta realizada entre mais de 100 mil estudantes de primário e ensino médio em 2012 - a mais ampla no Japão até o momento - revelou que 6,5% dos meninos e 9,9% das meninas mostrava "uma dependência severa" da internet.

Entre seus sintomas se encontram os transtornos de sono ou alimentícios e o hábito de passar cinco horas por dia conectado à rede.

Outros transtornos frequentes entre os viciados em internet são o déficit de atenção, a hiperatividade, a ansiedade e a depressão, e em alguns casos extremos também foram diagnosticados fobia social e síndrome de Asperger.

Quanto aos adultos, o fenômeno afetava 4,5% dos homens e 3,6% das mulheres em 2013, o que representa um aumento de quase 1,5 ponto em cada grupo desde 2008, segundo outra pesquisa realizada pelo citado centro estatal.

"A quantidade de pacientes aumentou de forma significativa e seguirá crescendo no futuro, mas o número de clínicas que ofertam tratamentos específicos é, por enquanto, muito limitado", declarou Higuchi, que também é membro do Comitê sobre Alcoolismo e Toxicomania da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O centro que ele dirige é, de fato, o único no Japão que conta com uma clínica especializada para tratar a dependência à internet, e desde sua abertura, em abril de 2011, passaram por ele 1.300 pacientes, a grande maioria deles menores de idade.

"Ainda estamos em uma fase muito inicial do tratamento deste novo problema", admitiu Higuchi, acrescentando que não há consenso na comunidade científica para considerar a dependência à internet como uma patologia "oficial", já que em muitos países ainda não se mediu seu impacto.

Atualmente este tipo de dependência não é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde nem pela Associação de Psiquiatras dos Estados Unidos, que elaboram os manuais de diagnóstico de referência em nível mundial.

Em qualquer caso, o ministério japonês planeja repetir os "acampamentos sem internet" no próximo ano e em maior escala, garantiu o especialista.

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