França e México pedem explicações aos EUA por espionagem
México e França pediram explicações aos Estados Unidos após novas revelações sobre atos de espionagem por parte dos serviços norte-americanos
Da Redação
Publicado em 21 de outubro de 2013 às 07h11.
México e França pediram explicações aos Estados Unidos após novas revelações sobre atos de espionagem por parte dos serviços norte-americanos, que tensionaram suas relações com Washington.
Ilustrando a gravidade da crise, o chanceler da França, Laurent Fabius, anunciou nesta segunda-feira (21) ter convocado de forma imediata o embaixador dos Estados Unidos em Paris pelo caso de espionagem em massa revelado pelo jornal Le Monde.
"Convoquei imediatamente o embaixador dos Estados Unidos, que será recebido ainda nesta manhã" na chancelaria, disse Fabius ao chegar a uma reunião europeia em Luxemburgo.
"Entre sócios, estes tipos de práticas que atentam contra a vida privada são totalmente inaceitáveis. É preciso garantir muito rapidamente que (...) não ocorram mais", acrescentou Fabius à imprensa.
O ministro reagiu assim à informação do jornal Le Monde, que afirma que a agência americana de Segurança (NSA) realizou 70,3 milhões de gravações de dados telefônicos franceses em um período de 30 dias entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013.
O Le Monde cita documentos do ex-consultor da NSA Edward Snowden, atualmente asilado na Rússia.
No domingo, foi o governo mexicano quem condenou a espionagem e exigiu uma explicação imediata, depois que a revista alemã Der Spiegel afirmou que o serviço de inteligência americana invadiu o e-mail do ex-presidente Felipe Calderón (2006-2012).
"O governo do México reitera sua categórica condenação à violação da privacidade das comunicações de instituições e cidadãos mexicanos", disse um comunicado da chancelaria mexicana.
"Esta prática é inaceitável, ilegítima e contrária ao direito mexicano e ao direito internacional", afirmou a chancelaria, que afirma que pedirá às autoridades americanas uma investigação "que deverá ser concluída em breve".
Em sua versão digital, a Der Spiegel citou no domingo um documento ultrassecreto vazado por Edward Snowden, ex-consultor da NSA acusado de espionagem por seu país e asilado na Rússia.
Em maio de 2010, a NSA "explorou de forma bem-sucedida uma chave de servidor de e-mail na rede da Presidência mexicana (...) para obter, pela primeira vez, acesso à conta pública de e-mail do (então) presidente Felipe Calderón", afirma o texto, que atribui a missão a um departamento chamado Operações de Acesso à Medida (TAO, em inglês).
"Em uma relação entre vizinhos e sócios não há espaço para as práticas que supostamente ocorreram", afirmou a secretaria de Relações Exteriores do México depois deste novo escândalo de espionagem americana.
Milhares de comunicações interceptadas
No início de setembro, a Rede Globo de Televisão revelou que em 2012 os Estados Unidos espionaram as comunicações do então candidato e agora presidente do México Enrique Peña Nieto, assim como da presidente Dilma Rousseff.
Os países latino-americanos convocaram os embaixadores americanos para pedir explicações e Dilma inclusive adiou uma visita oficial aos Estados Unidos que estava marcada para outubro.
No caso do México, o próprio presidente Barack Obama se comprometeu em setembro com Peña Nieto a realizar uma investigação exaustiva e atribuir responsabilidades.
Segundo a Der Spiegel, a missão contra Calderón foi chamada "Fratliquid" e este caso "pode provocar mais tensão nas relações de México e Estados Unidos", sobretudo se for levado em conta que Calderón foi "um líder que trabalhou com mais proximidade com Washington que qualquer um de seus antecessores".
Segundo a revista, as operações TAO no México apenas começaram e pretendiam "ir muito mais longe contra alvos importantes".
Por outro lado, o jornal alemão denunciou que em agosto de 2009 a NSA invadiu os e-mails de vários funcionários de alto escalão da pasta mexicana de Segurança envolvidos no combate ao narcotráfico e ao tráfico de pessoas.
Isto teria gerado 260 relatórios confidenciais da agência e permitido que "políticos americanos conduzissem negociações políticas bem-sucedidas e planejassem investimentos internacionais", segundo a mesma fonte.