Dell anuncia pacote para cortar US$ 3 bi em custos
Iniciativa envolve fechamento de fábrica nos EUA e demissão de mais de 8 mil funcionários. Para analista, momento é decisivo para recuperação, após perda de mercado para a HP
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h33.
Depois de perder a liderança do mercado mundial de computadores pessoais para a HP, a Dell parece estar mais agressiva do que nunca na busca pelo crescimento de suas operações. A companhia anunciou no fim da tarde de segunda-feira (31/3) um plano de reestruturação para cortar 3 bilhões de dólares em custos e melhorar a rentabilidade.
Entre as medidas, estão o fechamento de uma fábrica de computadores desktop em Austin, no Texas - para melhoria da rede logística, segundo a Dell -, e também a demissão de mais 5.600 funcionários ao redor do mundo. A companhia já conduzia um plano de demissões e até agora havia dispensado 3.200 pessoas.
As medidas de redução de custos, que devem acontecer ao longo do ano fiscal de 2009 - iniciado em março -, vão abordar as áreas de consumo global, corporativo, notebooks, pequenas e médias empresas e mercados emergentes. Entre os aspectos que a Dell pretende reformular estão design, produção e logística de produtos. Os primeiros resultados já são esperados para o próximo trimestre, mas a conclusão do pacote deverá acontecer ao longo de três anos.
A divisão de Serviços Financeiros também deve receber fôlego e dar mais crédito a consumidores domésticos ou corporativos de pequeno e médio portes. A empresa também poderá adotar a modalidade de aluguel de equipamentos, como no leasing.
"Esperamos que essas ações, com o rigor prolongado que temos aplicado ao controle de despesas operacionais, vão resultar em uma estrutura de custos de destaque", disse Don Carty, vice-presidente e diretor financeiro da companhia.
Para Carl Howe, diretor de pesquisas do Yankee Group, a iniciativa da Dell de reorganização não poderia esperar mais, sob pena de a companhia se distanciar demais da HP como líder de PCs (hoje com 18,2% do mercado). Em 2007 foram vendidos 271,2 milhões de PCs. A Dell atingiu 14,3% desse total, segundo o Gartner.
A história da Dell mudou muito nos últimos anos, aponta Howe. A estratégia do fundador Michael Dell de vender diretamente para seu cliente computadores de baixo custo não traz diferenciais para a companhia por dois motivos: concorrentes já conseguem vender PCs mais baratos e a logística de ter muitos clientes não favorece.
"A empresa está olhando para uma nova onda de diferenciação, como talvez entrar com força na indústria de games. Michael Dell já reinventou tantas vezes a empresa, e não deve ser diferente dessa vez", ressalta Howe. Em fevereiro passado, a Dell apresentou ao mercado sua máquina com alto poder de processamento destinado aos jogos, em um esforço de ampliar sua linha de equipamentos topo de linha.
A descentralização dos locais de produção é um dos indícios dessa busca por eficiência e novos mercados, indica Mauro Peres, diretor geral da IDC Brasil. Segundo o executivo, a companhia precisa agora acertar seu modelo de negócios. "A Dell já vende no Brasil em lojas como Wal Mart e Ponto Frio, mas até agora a estratégia não surtiu efeito esperado em vendas", ressalta. Hoje a companhia ocupa a terceira colocação no mercado brasileiro de desktops, atrás de Positivo e HP.
Procurada pela reportagem para comentar a reestruturação, até o momento a subsidiária da Dell não se pronunciou.