Margie Moreno: diretora lidera produção de conteúdo original na América Latina (YouTube/Divulgação)
Lucas Agrela
Publicado em 10 de outubro de 2020 às 07h55.
Última atualização em 13 de outubro de 2020 às 14h36.
Um dos pioneiros no mercado de vídeos na internet, o YouTube também investe em produções originais de conteúdo. Desde o ano passado, a companhia liberou para todos os vídeos produzidos junto a influenciadores de todo o mundo. Antes, eles eram exclusivos para assinantes do YouTube Premium. Agora, eles estão disponíveis para todos, e são rentabilizados com anúncios, como qualquer outro vídeo disponível na plataforma. No Brasil, já são quatro produções originais até o momento.
Para Margie Moreno, diretora de conteúdo criativo internacional do YouTube, as produções locais de cada país são importantes para a empresa e o público. “Precisamos ter uma boa programação em português para atender a audiência brasileira”, afirma.
Na empresa desde 2017, executiva atuou por 20 anos empresas de mídia tradicional, como NBC Universo e Mandalay Pictures. Agora, ela coordena projetos internacionais de produção de conteúdo na América Latina, inclusive no Brasil, um dos maiores mercados para o YouTube. Confira, a seguir, os melhores trechos da entrevista com Moreno.
Qual é a principal diferença entre trabalhar em emissoras de TV e em uma empresa de streaming de vídeo?
Há duas coisas ótimas sobre o YouTube. Na mídia tradicional, você mira em mercado específico e você precisa de uma programação engessada, com duração de uma hora ou meia hora. No streaming, isso é irrelevante. Não há regras assim. Quando criamos conteúdo para streaming, criamos pensando que eles irão viajar o mundo, e não apenas atingir um setor específico. Um vídeo pode ter 10 minutos, 15 minutos ou uma hora. Temos uma flexibilidade maravilhosa no streaming. Em tese, um conteúdo pode ser visto por 2 bilhões de usuários mensais do YouTube no mundo todo. Também conseguimos responder rapidamente a novas tendências ou mudanças repentinas. Com a pandemia, conseguimos ter uma programação adequada em apenas algumas semanas. E pudemos continuar a gravar mesmo na pandemia, o que muitas empresas não conseguiram fazer.
Para uma empresa de streaming de vídeo, é mais fácil ou mais difícil produzir conteúdo audiovisual?
Como YouTube, nosso papel tem sido realmente dar apoio aos criadores de vídeos. Eles podem ser personalidades, como o Whindersson Nunes, ou músicos. Tentamos dar a eles a flexibilidade para dar vazão à criatividade com os recursos e o conhecimento que temos. Ainda estamos seguindo o modelo tradicional de produção, mas dando mais espaço para a criatividade. Muitas vezes, os criadores nunca produziram uma série de seis episódios e damos apoio para isso.
Qual foi o impacto da pandemia para o YouTube?
O impacto foi enorme, e em diferentes sentidos. Quando você não pode sair de casa, as telas se tornam portais para o mundo exterior. O consumo de vídeo cresceu muito por conta disso. Nós também lançamos três programas um mês depois de o início da quarentena, mas sem os eventos e entrevistas que fazemos normalmente. Lançamos um programa com a Nathalia Arcuri apenas dias depois do começo da pandemia. Tivemos que mudar totalmente a nossa estratégia e passamos a criar mais oportunidades para que Arcuri interagisse com o público do seu canal. Também lançamos um projeto com o Desimpedidos, filmado pouco antes da quarentena, que teria muitos jogos que seriam parte do programa. Os criadores nos contaram que a experiência de filmagem eles procuraram outros canais para criar uma empolgação sobre o programa. Por fim, tivemos que parar as filmagens do programa da Nathalia Arcuri, mas retomamos assim que possível, tomando os cuidados necessários, para que ela pudesse falar com empreendedores sobre o efeito da pandemia nos negócios. Isso era muito importante para o público.
Qual é a importância do conteúdo local para uma empresa global como o YouTube?
O conteúdo local é muito importante. Não só por visualizações e pela população do Brasil, mas também por causa do idioma. Precisamos garantir que tenhamos vídeos que se comuniquem com o público de forma autêntica e que reflita o dia a dia das pessoas. Nossa meta é colocar os brasileiros no holofote primeiramente para outros brasileiros. Só então esses conteúdos são levados para o resto do mundo. Não queremos saber o que o resto do mundo pensa sobre o Brasil. Já sabemos disso e não queremos isso. Queremos ouvir da própria fonte como é sua vida e como são suas experiências. Por isso, a perspectiva local é importante e buscamos amplificar o alcance das vozes dos criadores de conteúdo.
O YouTube anunciou novos conteúdos originais focados em justiça racial e valorização da cultura negra. Poderia dar mais detalhes?
Em junho deste ano, anunciamos um fundo de US$100 milhões de dólares para ampliar as vozes e perspectivas negras no YouTube, junto com o compromisso de sermos uma plataforma melhor em proteger criadores, artistas e usuários negros. Desde então, temos trabalhado muito nos bastidores e, agora, oficialmente anunciamos o Fundo Vozes Negras do YouTube. Nossa proposta é direcionar investimentos para apresentar narrativas que enfatizem o poder intelectual, a autenticidade, a dignidade e a alegria das vozes negras, bem como educar o público sobre justiça racial.
Há uma guerra entre as empresas de streaming de vídeo e a TV por assinatura?
Não acredito que exista uma guerra. Quanto mais empresas existirem, mais oportunidades surgem para novas produções. Os criadores de conteúdo podem ter diferentes programas em diferentes plataformas. Buscamos parcerias com emissoras e empresas justamente porque não acreditamos em uma competição. Para nós, isso significa amplificar o alcance de um conteúdo.
As transmissões ao vivo tiveram um grande pico no começo da quarentena. Elas continuam em alta?
Sim. Há lives de todo tipo. Houve uma que era uma transmissão ao vivo de um jogo de jokenpô. E nada mais. Mesmo assim, ela foi enorme. Criar momentos inesperados ao vivo a assim ajuda as pessoas a se divertirem mesmo com tudo que está acontecendo no mundo atualmente. A live ajuda a ter uma conexão maior com quem a assiste.
Qual será o impacto do 5G para o streaming de vídeo?
Tenho visto que o avanço da tecnologia tem levado a internet para o celular mais do que para o computador. Pessoalmente, acredito que veremos mais vídeos pelo smartphone na era do 5G.
O público brasileiro que assiste a vídeos do YouTube é diferente do público americano? Como?
Há muitas similaridades. O que muda é que algumas tendências são mais fortes com brasileiros, como vídeos de esportes, uma vez que o Brasil é um líder nessa área. Em música, o comportamento também é diferente. Temos um projeto global da influência da música do Brasil no YouTube, justamente porque aqui o segmento musical é mais forte do que em outros mercados. Por fim, em face da situação socioeconômica no Brasil, o aprendizado por vídeos é uma oportunidade. O YouTube tem a responsabilidade de criar programas de educar as pessoas que não teriam acesso a aqueles conteúdos.
Qual é o futuro das produções originais no YouTube?
Vamos continuar a produzir localmente de forma exponencial. Antes, os conteúdos eram exclusivos para assinantes do YouTube Premium. Agora, todos podem assistir a eles gratuitamente com anúncios. Aumentamos as possibilidades de atingir um grande público. Isso nos torna um competidor único no mercado de streaming. Os assinantes do Premium podem acessar, também, alguns recursos adicionais.