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Brasil precisa de choque de educação, diz presidente da Intel

Otellini vem ao Brasil falar da maior transformação da história da gigante dos chips

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h25.

O presidente da Intel, Paul Otellini, está no Brasil. É uma visita tradicional. Nos últimos sete anos, pelo menos, o principal executivo da companhia vem ao país para conversar com clientes e falar com a imprensa do décimo maior mercado da gigante dos chips. Dessa vez, porém, há um assunto importante em curso. A Intel atravessa a maior transformação de sua história. Os crescentes ganhos de performance são cada vez menos importantes. Agora, o negócio depende de marketing: ouvir e antecipar-se à demanda dos usuários.

Otellini vai dar uma palestra para convidados nesta terça-feira, dia 28, no hotel Hyatt, em São Paulo. Depois, conversa com jornalistas. Na semana passada, ele concedeu uma entrevista exclusiva a EXAME, na qual falou da virada da empresa e deu conselhos ao governo brasileiro na competição com países emergentes como China e Índia. Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

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Portal EXAME - A Intel passa por uma das maiores transformações de sua história. Ser capaz de falar com os consumidores por meio do marketing será tão decisivo no futuro quanto as conquistas técnicas foram no passado. Quais são os maiores riscos dessa nova estratégia? E quais os maiores ganhos?

Paul Otellini - A Intel já tem uma das marcas mais valiosas do mundo, mas queremos valorizá-la e torná-la ainda mais forte. Essa evolução da marca nos permitirá ser mais bem reconhecidos por nossa visão de plataformas e nossas contribuições além do microprocessador, além de estabelecer uma conexão emocional maior com nossos consumidores.

EXAME - A Intel tentou entrar em novos mercados no passado, tais como entretenimento e saúde. O que mudou agora?

Otellini - Nos últimos anos, a Intel tem evoluído de uma empresa baseada em microprocessadores para uma empresa de plataformas tecnológicas. A chave do sucesso é manter-se concentrado nas necessidades das pessoas, na vida profissional e pessoal. Vemos oportunidades importantes de aplicar nossas tecnologias e inovações em novos segmentos. Por exemplo: a Intel ajuda o setor de saúde a conectar pessoas e informações de maneiras novas, que vão permitir melhorar a qualidade dos serviços e oferecer custos mais baixos.

EXAME- O senhor acredita que o negócio de entretenimento e produtos móveis possa ser maior que o de chips para PCs? Em caso positivo, quando?

Otellini - Ambos são segmentos em crescimento, mas não se trata de uma questão de um negócio ser maior que o outro. O importante é saber que o mercado vai crescer, o que significa novas oportunidades para a Intel e mudanças profundas na maneira que usamos a tecnologia.

EXAME - A empresa foi reorganizada em linhas de produtos cerca de um ano atrás. Essa mudança já deu resultados? Quais são eles?

Otellini - O progresso da reorganização de janeiro do ano passado é espantoso. Mais de 110 produtos foram criados a partir da nossa plataforma de entretenimento Viiv. A plataforma Centrino, que permite mobilidade, já tem mais de 230 projetos. E nossas novas plataformas corporativas também começam a crescer.

Também atraímos diversos clientes dignos de nota no ano passado, incluindo a Apple e a Research in Motion (fabricante do equipamento de email móvel Blackberry). Metade da linha de produtos da Appel já usa nossa tecnologia, e a empresa estima que a transição estará completa no fim deste ano. Além disso, estamos nos preparando para lançar produtos desenhados especificamente para os mercados emergentes.

EXAME - Algumas reportagens publicadas recentemente sugerem que os engenheiros da Intel sentiram desconforto com a crescente importância do marketing. Há alguma verdade nisso?

Otellini - A Intel tem uma longa história de inovação, e nossos programas de marketing simplesmente refletem a mudança fundamental em nossa estratégia de negócio. A maioria dos funcionários da Intel apóia essa evolução.

EXAME - Uma das principais apostas da empresa é a plataforma Viiv. Ela compete diretamente com os gravadores digitais, consoles de videogame e até com mesmo os decodificadores de TV paga na disputa pela supremacia na sala de estar. O que vai fazer da plataforma Viiv uma vencedora contra esses concorrentes?

Otellini - Todos esses equipamentos são complementares. A beleza do entretenimento entregue por meio digital, com conexões de banda larga, é que as famílias poderão assistir e compartilhar o conteúdo por toda a casa, em vários tipos de aparelhos. A tecnologia Viiv foi criada para incluir esses outros equipamentos. Lembre-se que os PCs têm dezenas de milhões de conexões de banda larga. Também oferecem mais flexibilidade para integrar novidades, como som surround, e contam com o maior número de desenvolvedores e aplicações em todo o mundo.

Nossa tecnologia Viiv foi adotada pelos nossos clientes. Há mais de 110 projetos de sistemas usando a plataforma. Temos o compromisso assumido com mais de 50 grandes empresas de conteúdo, para garantir uma grande quantidade de filmes, músicas, jogos e esportes nos PCs equipados com o sistema Viiv.

EXAME - Não é arriscado abandonar uma marca tão forte como Pentium, em que a Intel investiu tantos recursos, durante tanto tempo?

Otellini - Nossa nova identidade enfatiza nosso maior patrimônio, o logotipo corporativo da Intel. Continuamos a lançar novas marcas, como Viiv e Core Duo, portanto é cada vez mais importante simplificar e tornar claras nossas comunicações, sem deixar de fortalecer nosso principal patrimônio. Acredito que o novo esquema de marcas é uma maneira melhor de comunicar essa nova Intel multidimensional.

EXAME - Quais são os planos para a divisão de saúde? Que tipos de produtos a empresa pode desenvolver? E qual é o potencial para a tecnologia ligada à saúde?

Otellini - Doenças crônicas seguem crescendo, e a população envelhece rapidamente. Nunca houve uma necessidade tão urgente de melhorar a qualidade e reduzir custos com o uso da tecnologia. Por exemplo: em 2000, a população mundial acima de 60 anos era de 600 milhões de pessoas. Em 2005, serão 1,2 bilhão. Isso significa uma grande oportunidade de negócios.

Nossa estratégia se concentra em melhorar a qualidade da saúde dos indivíduos, acelerar o progresso de empresas de pesquisas biomédicas e melhorar o conjunto de padrões e políticas que facilitem a inovação em todo o ecossistema do setor de saúde. Recentemente, no Forum de Desenvolvedores Intel, mostramos dois protótipos, um computador de mão para médicos e enfermeiras e um sistema doméstico para o monitoramento de doenças crônicas. Mas ainda não há detalhes de quanto esses produtos serão lançados.

EXAME - Qual é a importância de ter os chips Intel dentro dos computadores da Apple? A empresa tem apenas uma pequena parte do mercado de computadores.

Otellini - É uma oportunidade para as duas empresas. Para a Intel, podemos ter a empresa de computadores mais inovadora do mundo como nossa cliente.

EXAME - O senhor já disse que a Intel é uma empresa "geneticamente programada" para crescer. É razoável esperar crescimento rápido de uma empresa que fatura 35 bilhões de dólares por ano?

Otellini - Sim. Tivemos três anos consecutivos de crescimento acima dos dois dígitos, algo que a comunidade financeira achou que jamais fosse acontecer de novo na indústria dos PCs. Não foi sorte, foi trabalho duro por parte de nossos funcionários na criação de novos produtos e novos mercados.

Este será nosso ano mais competitivo em termos de lançamento de novos produtos. Nossa presença global, a estratégia de plataformas e nossa vantagem na manufatura continuarão a impulsionar nosso crescimento.

EXAME - Os PCs vão ser tão importantes em nosso dia-a-dia daqui a dez anos?

Otellini - Com certeza. Mas a aparência e o que eles fazem vai continuar a evoluir. A mobilidade é uma tendência chave. Por exemplo: aplicações como blogs, podcasts e RSS tonam a internet ainda mais pessoal e interativa. As pessoas querem carregar essa experiência consigo. Uma nova categoria de aparelhos ultraportáteis vai surgir. Eles serão diferentes dos computadores de mão, pois terão todas as funções de um PC e serão capazes de identificar e adaptar-se ao ambiente para comunicação, acesso a informações, entretenimento e funções de produtividade.

EXAME - E as redes WiMax? O padrão não está 100% completo, e há concorrentes importantes. O WiMax terá o mesmo sucesso do padrão Wi-Fi?

Otellini - Acreditamos que há uma excelente oportunidade em países emergentes, como o Brasil, no uso de tecnologias de acesso sem fio à banda larga. O custo de implementação de uma rede WiMax é muito mais baixo do que o de uma rede fixa. O principal desafio é reduzir o custo dos equipamentos para os usuários. Isso vai acontecer quando os volumes aumentarem. Acreditamos que Wi-Fi e WiMax sejam tecnologias complementares e que o Wimax vai prevalecer.

EXAME - O Brasil costuma ser apontado, junto com China, Índia e Rússia, como um dos mais promissores mercados emergentes. Mas a sensação geral aqui é que o país está ficando para trás, e que chineses e indianos estão recebendo muito mais atenção - e, consequentemente, investimentos. O que o senhor pensa sobre isso? O que os dirigentes do país deveriam fazer para aumentar a competitividade do país?

Otellini - O governo já se movimenta na direção correta, com a Lei de Inovação, por exemplo. Mas a queda do país para a 65ª posição no ranking de competitividade do Forum Econômico Mundial deve ser olhada com atenção.

Os líderes do país devem consideram acelerar investimentos para criar uma rede nacional de comunicações. Tecnologias como WiMax são uma maneira econômica de oferecer acesso à internet em áreas remotas, sem precisar usar as antigas redes de telecomunicações. Investimento em educação deve ser outro foco. Educação é vital para desenvolver uma força de trabalho qualificada, a fundação sobre a qual são erguidos os negócios.

EXAME - A Intel considera produtos ou plataformas específicas para os mercados mais pobres? Algo parecido com o laptop de cem dólares, proposto por Nicholas Negroponte, por exemplo?

Otellini - Temos a tradição de fazer a tecnologia melhor, mais rápida e mais barata. Igualmente, temos um grupo abrangente de programas ao redor do mundo para aumentar a disponibilidade da computação e do acesso à internet. Entretanto, nossa experiência mostra que a adoção de tecnologia exige muito mais do que um "PC barato". O equilíbrio correto entre hardware, software, canais e o ecossistema são fundamentais.

Crianças em idade escolar, por exemplo, precisam de um equipamento que seja fácil de usar e que consiga rodar uma grande variedade de programas educativos. Usuários de PCs precisam ter, no fim das contas, uma boa experiência. O preço não é tudo.

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