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Aplicativos entram na mira da reforma tributária porque "arrecadam pouco"

Empresas como Netflix e Spotify, por exemplo, podem ter que pagar mais impostos no futuro

Netflix: empresa afirma que já arca com todos os impostos exigidos pela lei brasileira (Jaap Arriens/NurPhoto/Getty Images)
RL

Rodrigo Loureiro

Publicado em 11 de julho de 2019 às 18h06.

Última atualização em 15 de julho de 2019 às 13h50.

São Paulo – Caso seja aprovada, a reforma tributária poderá impactar diretamente na operação de empresas que atuam com aplicativos no Brasil. É o caso de serviços de streaming, como Spotify e Netflix,de entregas, como Rappi e iFood , e de transporte de passageiros, tais quais 99 e Uber . Na visão de quem está por trás da reforma, esses negócios precisam arcar com uma carga maior de tributos.

Na quarta-feira (10), o deputado federal Hildo Rocha (MDB-MA), que preside a comissão da reforma, afirmou ao jornal O Estado de S.Paulo que pretende “tributar aqueles serviços que, hoje, não são tributados”.

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Nas palavras do emedebista publicadas pelo jornal, “esses serviços de internet, todos os aplicativos, estão praticamente isentos de tributos em nosso País”. O político justifica que essas companhias não contribuem efetivamente para a geração de empregos e de riquezas para o País.

Não é bem assim. No fim de 2016, o então presidente Michel Temer sancionou uma lei que permitiria taxar serviços de transmissão de áudio e vídeo com uma alíquota mínima de 2%.

Para o economista Bernard Appy, considerado o pai da reforma tributária que tramita na Câmara, empresas como Netflix e Spotify são sim tributadas. No entanto, com uma carga menor do que a adequada. “Arrecadam pouco e vão pagar mais do que pagam hoje”, afirma. “Claro que todo mundo vai reclamar que não quer pagar mais impostos. Isso é normal. Mas é preciso observar que a demanda pelo serviço vai crescer com o aumento do poder de compra da população", diz Appy.

Em nota, a assessoria da Uber afirmou que a companhia não apenas arcou com tributos no País, como gerou renda para profissionais que atuam como motoristas do aplicativo. A empresa americana também informou que, somente no ano de 2017, arcou com R$ 972 milhões em tributos no País, incluindo impostos federais e municipais.

Outro player que atua com transporte de passageiros, a 99 informou que é uma “empresa prestadora de serviços e constituída no Brasil” e, por isso, “paga Imposto de Renda, PIS, Cofins e ISS, conforme a legislação brasileira em vigor”.

No setor de streaming, o serviço sueco Spotify preferiu não se manifestar. A Netflix, por sua vez, informou que investe na indústria de entretenimento local. Em nota, a companhia americana também afirma que “paga todos os impostos exigidos pela lei brasileira, incluindo e não restrito aos 11,25% recolhidos de cada assinatura”.

No mercado e entrega de produtos, a Rappi enviou uma nota em que afirma estar sujeita a todos os tributos incidentes de sua atividade, como ISS, PIS e Cofins. A startup colombiana também informou que esses custos não são repassados aos consumidores.

A assessoria do iFood informou que "recolhe todos os tributos diretos e indiretos inerentes a sua operação, sendo um importante contribuinte no seu mercado de atuação". A companhia também se posicionou a favor da simplificação do sistema tributário brasileiro.

“Hoje há uma zona cinzenta em relação a tributação desse setor. Existe uma discussão se essas operações seriam tributadas e se isso aconteceria pelo Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) ou pelo Imposto Sobre Serviços (ISS), por exemplo”, afirma Fabio Nieves, advogado e professor de direito tributário na Fundação Instituto de Administração (FIA).

Esse problema poderia ser resolvido com a reforma tributária, que simplificaria a taxação ao substituir a cobrança dos impostos federais como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), PIS e Cofins, além das cobranças estaduais e municipais como o ICMS e ISS pelo Imposto sobre Valor Agregado (IVA). “Esse vácuo deixaria de existir”, diz Nieves.

É uma discussão que vai longe. Principalmente porque o Congresso está concentrado em discutir os avanços da reforma da Previdência. E, segundo o secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, em declaração de junho deste ano, a reforma tributária só deve avançar após o debate sobre a Previdência .

Questionadas se impactos de novos tributos poderiam acarretar em um aumento no preço dos serviços ofertados, as companhias não se manifestaram. Para Nieves, esse é um cenário provável. "Como serão tributadas, o custo do tributo poderá entrar no preço dos serviços. Logo, ficarão mais caros", diz o professor.

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