Degelo (AFP)
Da Redação
Publicado em 3 de setembro de 2013 às 13h27.
Washington - A Terra perdeu uma quantidade recorde de gelo marinho no Ártico em 2012 e emitiu níveis elevados constantes de gases do efeito estufa resultantes da queima de combustíveis fósseis, alertaram climatologistas em um relatório divulgado nesta terça-feira.
Enquanto isso, secas e chuvas incomuns atingiram diferentes partes do planeta no ano passado, tendo observada "a pior seca em pelo menos três décadas no nordeste do Brasil", disse o relatório sobre o Estado do Clima, divulgado anualmente por cientistas britânicos e americanos.
De acordo com o documento, o ano passado foi um dos dez com maiores registros de temperaturas globais em terra e na superfície do planeta desde que começou a coleta de dados modernos. "As descobertas são impressionantes", afirmou Kathryn Sullivan, encarregado da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA).
"Nosso planeta como um todo está se tornando um lugar mais quente", disse a alta funcionária a jornalistas. O relatório, revistado por outras autoridades científicas, não abordou as causas por trás destas tendências, mas especialistas afirmaram que o documento deve servir como um guia para desenvolvedores de políticas públicas na preparação para os efeitos da elevação do nível dos mares e do aquecimento global em comunidades e infraestruturas.
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Além disso, aponta para um novo padrão segundo o qual eventos que registram recordes se tornam típicos, particularmente no Ártico, onde a elevação da temperatura superficial rapidamente supera a do resto do mundo, afirmaram cientistas. Globalmente, 2012 é o oitavo ou o nono ano mais quente desde que os registros começaram a ser feitos, de meados para o final dos anos 1800, de acordo com quatro análises independentes citadas no estudo.
"O ano esteve de 0,14°C a 0,17°C acima da média de 1981-2010, dependendo do conjunto de dados considerados", afirmou o informe, publicado no Boletim da Sociedade Meteorológica Americana.
Quanto ao gelo marinho do Ártico, uma nova redução recorde foi registrada em setembro e outra baixa absoluta para a cobertura de neve foi observada no Hemisfério Norte, destacou o relatório. "As temperaturas superficiais no Ártico estão aumentando a uma taxa duas vezes mais rápida do que no restante do mundo", afirmou Jackie Richter-Menge, engenheiro civil da Unidade de Engenharia do Exército Americano.
"No Ártico, os recordes ou quase recordes registrados ano a ano não são mais anomalias ou exceções." "Realmente, para nós se tornou a regra ou a norma do que vemos no Ártico e do que esperamos ver no futuro próximo", disse.
O degelo também está contribuindo para aumentar o nível do mar. O nível médio global do mar atingiu um recorde de alta em 2012, 3,5 centímetros acima da média de 1993 a 2010. "Mais recentemente, nos últimos sete anos, mais ou menos, aparentemente o degelo está contribuindo mais que o dobro para a elevação global do nível do mar, em comparação com o aquecimento das águas", disse Jessica Blunden, climatologista do Centro de Dados Climáticos Nacionais da NOAA.
Enquanto isso, as temperaturas do permafrost (solo permanentemente congelado) atingiram recordes de alta no norte do Alasca e 97% da cobertura de gelo da Groenlândia apresentou alguma forma de degelo.
Além disso, as emissões de dióxido de carbono a partir da queima de combustíveis fósseis também alcançaram novas altas, depois de um declínio suave nos últimos anos, que se seguiram à crise financeira mundial. "Na primavera de 2012, pela primeira vez, a concentração de CO2 atmosférico excedeu as 400 partes por milhão em sete das treze estações de observação do Ártico", afirmou o informe.
A média global de dióxido de carbono alcançou 392,6 ppm, um aumento de 2,1 ppm com relação a 2011, acrescentou. "O Caribe registrou uma temporada seca muito úmida e o Sahel teve a temporada de chuvas mais úmida em 50 anos."
Sullivan afirmou que as descobertas "nos advertem, talvez, para olharmos para um futuro possível em que (eventos) extremos e a intensidade de alguns extremos serão mais frequentes e mais intensos do que tínhamos considerado no passado".
Um ponto positivo destacado no relatório foi a permanência do clima na Antártica "relativamente estável em termos gerais" e que, devido ao ar quente, foi observado o segundo menor buraco na camada de ozônio das últimas duas décadas.