A fênix na telinha
Ressurge das cinzas um grande negócio: a TV por assinatura
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h28.
Esqueça, por um momento, o debate sobre TV digital que tanto consome as atenções dos executivos do setor no Brasil e medite sobre um único número: 3,4 bilhões de reais. Essa é a receita prevista neste ano para o mercado brasileiro de TV paga, de acordo com a Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (Abta). Trata-se de algo como 60% da receita total da TV aberta. No ano passado, quando todas as emissoras de TV aberta faturaram 5,6 bilhões de reais, as TVs pagas haviam alcançado a cifra de 3,2 bilhões. A novidade deste ano é que, além de crescer, as operadoras pagas começam a trabalhar no azul, com margens operacionais na casa dos 25%. Trata-se de números para lá de respeitáveis, se considerarmos a fama de poço sem fundo das TVs por assinatura, sempre tidas como culpadas de plantão pelo endividamento e pela crise dos conglomerados de mídia.
É claro que a base de assinantes de TV paga no Brasil ainda está estagnada ao redor dos 3,5 milhões desde 2000. Também é verdade que o setor foi beneficiado pela correção das mensalidades pelo IGP-M, fortemente influenciado pela desvalorização cambial. E as dívidas, embora em queda, ainda pesam no balanço de quase todas as operadoras de TV por assinatura. Mas eis alguns indicadores que revelam transformações positivas do setor:
1. A receita publicitária da TV paga cresceu 28% em 2002 e 15% em 2003, dois anos em que o mercado publicitário estagnou em quase todas as mídias.
2. Na NET, operadora de cabo das Organizações Globo, os custos caíram de 63% da receita no quarto trimestre de 2002 para 53% no segundo trimestre deste ano, o que ajudou a elevar o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de 16,3% para 26,2%. No segundo trimestre de 2003, pela primeira vez na história, a NET fechou no azul, com Ebitda de 77 milhões de reais e lucro líquido de 31,5 milhões.
3. A TVA, operadora de TV por assinatura do Grupo Abril (que edita EXAME), também viu seu Ebitda aumentar 39% em um ano, para os 26% registrados no primeiro semestre de 2003, graças ao enxugamento da estrutura e à maior integração com o restante do grupo.
4. A oferta de acesso à internet por banda larga através das redes de cabo atingirá neste ano mais de 156 000 assinantes, quase o triplo da marca alcançada no ano 2000. No caso da TVA, a banda larga cresceu 44% em um semestre. No da NET, foram 14% no mesmo período.
Enquanto a TV aberta alcança cerca de 41 milhões de domicílios e tem a audiência de praticamente toda a população brasileira, o mundo da TV por assinatura prova que menos audiência pode significar, proporcionalmente, mais dinheiro. Graças à segmentação, os canais podem oferecer ao anunciante interessado em públicos específicos taxas de retorno bem mais atraentes e seguras que, digamos, o programa do Gugu. Também podem oferecer aos assinantes serviços adicionais, como internet de banda larga ou telefonia. De acordo com estudos, a audiência dos canais fechados está aumentando em detrimento dos canais abertos e há uma nova geração que gasta mais tempo assistindo a canais pagos. Resta saber o tipo de impacto que a digitalização dos conteúdos, a interatividade e os aparelhos como o gravador digital de vídeo, conhecido pelas siglas PVR ou DVR, terão no negócio da TV. Munidos de PVRs, os telespectadores podem gravar até 60 horas com os programas que quiserem para assistir quando quiserem. Cerca 88% pulam os comerciais. Em tese, o impacto disso tende a ser menor num negócio que depende das assinaturas para 90% das receitas do que em outro veiculado de graça pelo ar.