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Como investir no Warren Buffett, na Apple e no peso mexicano

Fundos que investem no exterior ou em ativos atrelados a ativos estrangeiros já não são mais exclusividade de milionários, mas destinam-se à diversificação


	Warren Buffett: fundo que acompanha desempenho da Berkshire Hathaway é uma das formas de expor carteira a investimentos estrangeiros
 (Getty Images)

Warren Buffett: fundo que acompanha desempenho da Berkshire Hathaway é uma das formas de expor carteira a investimentos estrangeiros (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 28 de abril de 2014 às 07h59.

São Paulo – Com o cenário para investimentos mais complicado no Brasil, muitos fundos que podem investir no exterior vêm ampliando sua participação em ativos fora do país. E se engana quem pensa que esses investimentos só estão disponíveis para os ricaços. Muitos, é verdade, são restritos aos mais ricos, mas mesmo entre os melhores fundos que podem investir no exterior há opções para investidores em geral, com aportes mínimos de menos de 10 mil reais.

Há dois tipos de fundos abertos para a pessoa física que podem investir lá fora. Os fundos multimercados em geral podem aplicar até 20% de seu patrimônio no exterior. Eles podem ser voltados para investidores em geral, investidores qualificados (com no mínimo 300 mil reais em aplicações financeiras) ou superqualificados (com ao menos um milhão de reais em aplicações financeiras).

O segundo tipo são os fundos que podem aplicar até 100% de seus recursos em outros países, e esses são destinados apenas a investidores superqualificados, uma vez que seu aporte inicial costuma justamente ser de um milhão de reais. Muitas vezes, essa restrição se deve ao tipo de ativo em que esses fundos investem, que pelas regras brasileiras, só podem receber aplicações de milionários.

Nos grandes bancos, os multimercados que investem no exterior costumam destinar-se aos investidores do segmento private. Mas há opções também em gestoras independentes, voltadas a todos os tipos de público. Muitas delas fecham para captação depois de certo tempo e têm até prazo para acabar.

Entre os 30 fundos que investem no exterior com melhor desempenho nos últimos 12 meses, segundo a consultoria Economática, há cinco com mais de mil cotistas abertos a investidores em geral. Veja na tabela:

Posição* Fundo Classificação Anbima Percentual do patrimônio investido no exterior Patrimônio em 26/09/13 (em mil R$) Retorno em 12 meses até 26/09/2013** Média do número de cotistas em 12 meses (até 26/09/2013)
5 Safra Galileo FIM Multimercados Multiestratégia 12,3% 2.293.100 13,54% 1.257
13 GAP Absoluto FIM Multimercados Multiestratégia 15,7% 1.727.600 10,00% 1.536
14 Itaú Hedge Mult FI Multimercados Multiestratégia 8,4% 1.116.402 9,97% 2.094
17 GAP Multiportfólio FIM Multimercados Multiestratégia 6,6% 545.954 9,51% 1.091
20 XP Unique Quant FIM Multimercados Multiestratégia 1,2% 184.611 9,22% 2.903

(*) No ranking dos fundos que investem no exterior abertos a pessoas físicas.
(**) Com ajuste para proventos
Fonte: Economática

Um desses fundos, o XP Unique Quant, da XP Gestão, aceita aportes iniciais de apenas 10 mil reais, e tem taxa de administração máxima de 2,20% ao ano, além de uma taxa de performance de 20% sobre o rendimento que exceder a taxa de juros CDI. No momento, ele está fechado para captação. Mas segundo Bernardo Ferreira, gestor da XP Gestão, o fundo voltará a captar recursos no próximo dia 23 de outubro.


O XP Unique Quant é um fundo quantitativo, isto é, compra e vende ativos automaticamente a partir de modelos matemáticos. O fundo usa diversas estratégias com todo tipo de ativo, e sua internacionalização consiste em comprar cotas de um fundo offshore (sediado fora do país, mas cujo gestor fica no Brasil). Lá fora, o fundo opera ativos como commodities metálicas e agrícolas e moedas de inúmeros países, como o peso mexicano. Seu maior foco é na Bolsa de Nova York.

Segundo Ferreira, o percentual aplicado lá fora hoje pode variar entre 10% e 15% do patrimônio do fundo. “Hoje nós na XP Gestão temos a internacionalização como objetivo. Cada vez mais enxergamos essa demanda”, observa Bernardo Ferreira.

Mas investir em fundos offshore ou diretamente em qualquer outro tipo de ativo no exterior não são as únicas formas de ter parte da carteira exposta a mercados de outros países. Ferreira cita outro exemplo da própria XP, mas que não investe diretamente lá fora. É o XP Capital Protegido III, que aplica em títulos públicos e operações estruturadas com derivativos, buscando refletir o desempenho de nada menos que a Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett.

Por ter o capital protegido, o investidor pode lucrar o equivalente ao desempenho da Berkshire Hathaway até um percentual máximo de 25%. Caso haja desvalorização, porém, o investidor não perde a quantia que investiu. No máximo, o cotista recebe seu dinheiro de volta, sem correção. Esse fundo fechou para captação recentemente, teve aplicação mínima de apenas 5 mil reais e taxa de administração máxima de 1,1%.

Milionários têm opções sofisticadas

Outro exemplo de fundo que investe no exterior são os fundos de Brazilian Depositary Receipts (BDRs), papéis de empresas estrangeiras negociados na bolsa brasileira. Apenas investidores superqualificados podem aplicar nesses papéis, o que faz com que esses fundos sejam restritos a quem tem mais de um milhão de reais para aplicar. Constituídos como fundos de ações, eles podem ter até 100% da composição da sua carteira nesses papéis.

A XP também tem um desses, o XP FIA BDR. Na carteira desse fundo atualmente figuram BDRs de 28 empresas, como Ford, Esso, IBM, Apple, Caterpillar, Oracle, JP Morgan, Cisco, Goldman Sachs e Intel. “O setor de tecnologia é o que tem mais peso nesse fundo, 23% do patrimônio atualmente”, diz Ferreira. Contudo, devido às regras para negociação de BDRs no Brasil, esse fundo é restrito a investidores superqualificados.

Outro fundo para investidores superqualificados que acaba de estrear é o STK Global Fundo de Investimento em Ações (FIA), que investe 100% do seu patrimônio diretamente em ações no exterior. Trata-se de um fundo de ações que só opera comprado, isto é, compra ações com potencial de valorização para lucrar com a alta. Ele ainda está captando recursos e já tem um patrimônio de 55 milhões de reais.

A STK é uma gestora com expertise em ações e investimentos no exterior. O fundo STK Global FIA não é um fundo offshore. Sujeito à legislação brasileira, ele apenas converte os reais dos investidores em dólares e euros para comprar ações em países como EUA, Suíça, Alemanha e Inglaterra.


A ideia é investir em empresas grandes e sólidas com potencial de altos retornos e empresas que estão passando por alguma mudança estrutural positiva, cujo potencial ainda não é bem percebido pelo mercado. O horizonte de investimento é sempre de longo prazo. Dentre as ações que compõem sua carteira estão a Time Warner, Inc., dona da CNN, da HBO e do Cinemax, e a consideravelmente menor Aryzta, empresa suíça que fornece produtos de panificação e confeitaria a empresas como McDonald’s e Starbucks.

Riscos de investir no exterior

Embora não seja mais restrito a investidores multimilionários, o investimento no exterior deve ser encarado como uma estratégia de diversificação. Trata-se de uma chance de ganhar com economias que não estejam tão ligadas à economia brasileira, e que podem ir bem quando o Brasil vai mal. Para fazer uma diversificação como essa, portanto, é preciso ter um bom patrimônio.

O tratamento tributário desses fundos é semelhante ao de qualquer outro fundo de investimento do mesmo gênero, uma vez que estão sediados no Brasil e sujeitos à Lei e à regulação brasileiras: nos multimercados ocorre o come-cotas semestral, segundo a tabela regressiva de imposto de renda, e nos fundos de ações (inclusive de BDRs) há apenas a incidência da alíquota de 20% no resgate.

Além de estarem sujeitos aos riscos de mercado normais para fundos multimercados e fundos de ações – a possível desvalorização dos ativos –, muitos desses fundos estão também sujeitos ao risco cambial, isto é, de oscilação da moeda estrangeira. O fundo da STK e o de BDRs da XP, por exemplo, não oferecem qualquer tipo de proteção cambial para o investidor, o que significa que ele ganha mais se a moeda estrangeira subir, mas pode neutralizar ou até inutilizar os ganhos caso a moeda se desvalorize.

Já o fundo XP Unique Quant, por exemplo, faz o chamado “hedge” (proteção) ao câmbio. E o fundo de capital protegido atrelado à variação da Bershire Hathaway também não está exposto ao câmbio, uma vez que o cotista recebe a variação do ativo na bolsa no exterior.

Outro risco dos fundos que investem parte ou a quase totalidade do patrimônio no exterior é a possibilidade de o dinheiro ficar “preso” no fundo. Muitos dele têm carência ou demoram vários dias para depositar o dinheiro de um cotista que tenha pedido resgate. Outros têm prazo determinado e não permitem resgates antes do seu encerramento.

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