Revista Exame

Uma cerveja com alma brasileira

A maior parte das cervejarias usa lúpulo importado na produção. Não é o caso da Braza Hops, novo rótulo da Black Princess

Colheita de lúpulo do grupo Petrópolis e garrafa de Braza Hops: lote de 2.000 long necks (Divulgação/Divulgação)

Colheita de lúpulo do grupo Petrópolis e garrafa de Braza Hops: lote de 2.000 long necks (Divulgação/Divulgação)

DS

Daniel Salles

Publicado em 5 de novembro de 2020 às 07h29.

Última atualização em 5 de novembro de 2020 às 14h51.

O Brasil é um dos paí­ses que mais produzem e consomem cerveja. Fato. E foi graças à sede de crescimento de três brasileiros, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, que a AB InBev virou o gigante que é. O país tem até um estilo de cerveja para chamar de seu, o catharina sour, o primeiro a ser classificado dessa forma, em 2018 — em resumo, é uma versão frutada da berliner weisse.

Daí a dizer que cerveja é uma bebida brasileira são outros quinhentos. E a principal razão é esta: o lúpulo, o ingrediente que confere aroma e amargor ao produto (cervejeiros mais hipsters falam em alma), é quase sempre importado. A planta, cuja flor se assemelha à da maconha, não à toa é da mesma família — os efeitos psicotrópicos são uma exclusividade da segunda — e vem de países como Estados Unidos, Alemanha, Austrália e República Tcheca.

Não é o caso da Braza Hops, a german pils lançada pela Black­ Princess em outubro. Os lúpulos usados em sua produção foram colhidos em Teresópolis, no Rio de Janeiro, e produzidos pela holding que controla a Black Princess, o grupo Petrópolis, fabricante também da Itaipava e da Petra, entre outras marcas. Em parceria com o Viveiro Ninkasi, a empresa planta variedades de lúpulo oriundas de outros países desde 2018 — o projeto consumiu 2,5 milhões de reais até agora.

Começou com 316 mudas, de dez espécies, para testar a adaptabilidade de cada uma, e ganhou mais 7.000 pés no ano passado. Para a Braza Hops foram selecionadas quatro espécies — cascade, chinook, triple pearl e comet. “Elas conferem notas herbais, florais e alguma picância à cerveja”, explica Diego Gomes, diretor industrial do grupo Petrópolis e responsável pela iniciativa dos lúpulos.

Foram produzidas apenas 2.000 long necks da nova cerveja. A 12,90 reais cada uma, só estão à venda no e-commerce do grupo Petrópolis, o ­BomDeBeer.com.br. Num futuro incerto, os lúpulos da holding, os primeiros a obter aval do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, também serão comercializados na plataforma.

O objetivo é facilitar a vida de produtores de cervejas artesanais e, de quebra, fomentar o setor — os lúpulos do grupo serão mais baratos do que os importados. “Não faz sentido guardar essa conquista só para nós. Também nos interessa muito ouvir a opinião de outros cervejeiros”, emenda Gomes. Além disso, o grupo planeja usar os próprios lúpulos para elaborar outras de suas cervejas especiais, ainda não definidas.

Não foi a primeira companhia a mergulhar na ideia. Hoje nas mãos do grupo Heineken, a cervejaria Baden Baden, de Campos do Jordão, lançou um rótulo comemorativo feito só com lúpulos nacionais em 2014. Vieram de um pequeno produtor de frutas enraizado em São Bento do Sapucaí, também em São Paulo. A segunda parceria, de 2017, deu origem à Märzen, de estilo homônimo.

Também há notícias de pequenos produtores de lúpulos em Minas Gerais, Santa Catarina e Distrito Federal. “A viabilidade desse tipo de produção depende, sobretudo, do padrão de qualidade”, aconselha Gomes. “As principais características do produto não podem mudar a cada ano.” Com receita parecida, é bom lembrar, Lemann, Telles e Sicupira fizeram da Brahma a AB InBev.

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