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Superaplicativo permite pedir comida, pagar conta, chamar táxi...

Como outras startups no exterior, a brasileira 4all criou um aplicativo que faz tudo. O futuro é esse?

José Renato HopF: depois de vender 
um “unicórnio”, ele montou outra startup (Marcelo Curia/Exame)

José Renato HopF: depois de vender um “unicórnio”, ele montou outra startup (Marcelo Curia/Exame)

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Naiara Bertão

Publicado em 19 de junho de 2017 às 17h41.

Última atualização em 19 de junho de 2017 às 17h46.

São Paulo — O ex-bancário José Renato Hopf é responsável por um feito — ele fundou um dos poucos “unicórnios” brasileiros. Unicórnios, no jargão que nasceu no Vale do Silício e se espalhou mundo afora, são as startups avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares.

Em 2014, depois que o Banco Central mudou as regras para aumentar a competição no mercado de cartões, Hopf e dois sócios venderam a GetNet, empresa que haviam fundado em 2002 para processar pagamentos com cartões, para o Santander por 1,1 bilhão de dólares.

Hopf fizera carreira no Banrisul, banco estatal gaúcho, onde criou uma bandeira de cartões. Viu uma oportunidade, deixou o banco, abriu a GetNet e dedicou os 12 anos seguintes à empresa. No fim de 2016, depois de botar algumas centenas de milhões de dólares no bolso, ele decidiu começar de novo. Fundou a startup 4all e entrou em outro mundo — o dos “superaplicativos”.

Os “superaplicativos” são plataformas que reúnem diferentes serviços num só aplicativo: instalando apenas o “super”, é possível pedir comida, chamar táxi, reservar restaurante e pagar contas.

Eles começaram a surgir no exterior há cerca de dois anos em razão da quantidade de aplicativos que estavam sendo instalados nos celulares — muitos ficavam perdidos no meio de tantas opções. Segundo um estudo da App Annie, uma das maiores empresas de estatísticas sobre o uso de smartphones no mundo, as pessoas baixaram 15% mais aplicativos em 2016 do que no ano anterior.

O número total de downloads chegou a 90 bilhões. Diante da multiplicação de opções, startups como a indiana PayTM e a chinesa WeChat, conhecida por oferecer um serviço de troca de mensagens similar ao WhatsApp, passaram a criar plataformas para integrar aplicativos. Hoje, a PayTM tem 220 milhões de usuários; e a WeChat, 800 milhões.

No Brasil, a pioneira é a 4all, que tem 500 000 usuários. “Um movimento parecido aconteceu no comércio eletrônico quando os grandes sites, como a Amazon, passaram a vender produtos de lojas menores. Agora essa é a tendência no segmento dos aplicativos”, diz Hopf.

Compra de 11 empresas

A 4all investiu quase todos os 25 milhões de reais iniciais, saídos do bolso de Hopf, no desenvolvimento de uma tecnologia que permitisse conectar outros aplicados à sua plataforma — isso incluiu a compra de 11 empresas que tinham desde softwares de varejo online até de gastronomia. Um dos primeiros que toparam entrar na plataforma da 4all foi o Shopping Total, de Porto Alegre, no início deste ano.

O aplicativo permite verificar se há vagas no estacionamento e pagar a tarifa na saída, além de fazer compras na maioria das lojas. É possível ainda sentar na praça de alimentação, pedir comida nos restaurantes e esperar a entrega na mesa.

Outro grande parceiro é o clube de futebol Grêmio, de Porto Alegre: por meio do aplicativo, os torcedores cadastrados recebem informações atualizadas sobre o time e podem pagar suas compras nas lojas do clube.

Quando as primeiras parcerias deram certo, a empresa cresceu. Hoje, tem 400 estabelecimentos associados, entre restaurantes, bares, salões de beleza, lojas de roupas, postos de gasolina, farmácias, supermercados e a empresa de transporte público de Porto Alegre.

É possível, por exemplo, marcar horário nos cabeleireiros credenciados e pagar o serviço sem ter de ir ao caixa, reservar mesas em restaurantes e acertar a conta ainda na mesa, comprar passagens de ônibus e acompanhar o itinerário desses veículos. A 4all recebe parte da receita obtida com as transações. A empresa só funciona na Grande Porto Alegre, mas está fechando parcerias com outros times de futebol e shoppings do país.

Em sua nova empreitada, Hopf enfrentará um desafio monumental. Empresas como a 4all precisam se tornar mais conhecidas do que os grandes aplicativos — caso de Uber, 99 e iFood, que investem centenas de milhões de reais em propaganda.

Essas companhias só vão topar dividir parte da receita se os superaplicativos forem, de fato, capazes de atingir uma grande quantidade de clientes, o que exige pesados investimentos em marketing. Atualmente, há pouquíssimas empresas nessa situação.

A maior delas é a WeChat, que aproveitou a fama conquistada com o serviço de mensagens para lançar o superaplicativo. As outras são a Yandex, da Rússia, e a Zapper, da África do Sul, além da PayTM. Aqui, pelo menos por enquanto, há poucas vantagens nesse tipo de parceria para os grandes aplicativos.

Uber, 99 e iFood são bem maiores do que a 4all — têm, respectivamente, 14 milhões, 13 milhões e 3,5 milhões de usuários utilizando seus serviços todos os meses —, fazem os próprios investimentos em marketing e vão atrás dos clientes.

“Temos muito o que fazer sozinhos”, diz Paulo Floriano, diretor do iFood. “Para ganhar mercado, essas plataformas precisam ter demanda recorrente de clientes e muita oferta disponível.”

Para investir em tecnologia e marketing, Hopf pretende levantar mais de 100 milhões de reais com investidores até o fim do ano. Ele tem o histórico a seu favor.

Quando Hopf e seus sócios criaram a GetNet, o setor de processamento de cartões era um duopólio controlado pelas gigantes Cielo e Rede. Parecia impossível ganhar dinheiro competindo com elas, mas a GetNet surpreendeu. Ele pode estar, novamente, vendo o que ninguém vê.

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